Hoje vou contar o que eu gostaria que tivessem me contado antes de ficar grávida nos EUA. Quando meu marido e eu nos casamos, havia pouco mais de um ano que eu estava morando nos Estados Unidos. Tudo era tão novo para mim.
Decidimos esperar uns dois anos antes de tentar engravidar. Era o que fazia sentido para gente: precisávamos de tempo para entender juntos como a vida de casados funcionava, e eu precisava de um tempo para entender como era ser adulta fora do Brasil.
Chegou a hora, e eu tinha certeza que estávamos prontos para encarar tudo que viria com a nossa decisão de nos tornarmos pais. Havia conversado com várias amigas, lido vários artigos na internet. Engravidei e só depois fiquei sabendo de várias coisas que poderíamos ter incluído na nossa preparação para facilitar todas as mudanças que acompanham aquele positivo no teste da farmácia.
Eu me perguntava: por que não me contaram isso antes? Se você está morando nos Estados Unidos e está planejando engravidar, anote aí essas dicas.
Licença-maternidade
Enquanto no Brasil, a mulher tem direito à licença-maternidade de pelo menos 120 dias nas organizações privadas, não há regra alguma que determine a licença remunerada para as gestantes nos Estados Unidos. O Family and Medical Leave Act (Ato de Licença Familiar e Médica) é uma lei federal que garante 12 semanas sem remuneração, mas o pagamento durante a licença fica a critério do empregador. Na empresa onde trabalhava, por exemplo, apenas 3 semanas são pagas. Já na empresa onde meu marido trabalha, são 20 semanas remuneradas como parte da licença-maternidade.
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Mas calma. Tem um jeito de se preparar para curtir a licença-maternidade o máximo possível, independente da política da empresa. O segredo é contratar um seguro de short-term disability (incapacipade de curto-prazo). Se contratado pelo menos nove meses antes do nascimento do bebê, este tipo seguro paga 60% do seu salário por até oito semanas. Assim, se você não é sortuda de trabalhar em uma organização que oferece várias semanas pagas para sua licença-maternidade, essa opção permite que você se sinta mais confortável financeiramente para usar as 12 semanas previstas pela lei federal.
No meu caso, fiquei sabendo sobre essa alternativa tarde demais. Eu já estava grávida nos EUA e não adiantava mais contratar, já que o seguro tem os noves meses de carência para afastamentos relacionados a gravidez. Juntei as três semanas pagas com alguns dias de férias, tentei estender por um tempo sem remuneração, mas voltei antes do que planejava ao trabalho porque não podíamos abrir mão do meu salário por mais tempo. Se tivesse o seguro, com certeza teria curtido as 12 semanas com o meu bebê sem preocupação.
Plano de saúde
Se há um consenso sobre o atendimento de saúde nos EUA, é esse: é tudo muito caro! Não existe um sistema de saúde gratuito como no Brasil. Tudo precisa ser pago do próprio bolso, a menos que você pague um seguro de saúde. Se você tem um emprego tempo integral, o seu empregador é obrigado a oferecer uma opção subsidiada, o que diminui as mensalidades que você paga mensalmente. Mas, mesmo assim, prepare-se para gastar bastante pelo pré-natal, parto e internação.
O custo médio de ter um bebê nos EUA, sem complicações no parto, é cerca de 11 mil dólares. E esse valor pode subir até 30 mil dólares, se considerado o atendimento antes e depois da gravidez. Para você ter uma ideia, quando somo as contas médicas relacionadas à minha gravidez, o total chega a quase 20 mil dólares.
Por causa do seguro, desembolsamos cerca de 3.500 dólares. Então, antes de ficar grávida nos EUA, informe-se sobre as suas opções de seguro. Se você tiver acesso a Health Saving Accounts (Poupanças de Saúde), economize o dinheiro que precisará por lá, já que você nunca pagará impostos sobre o dinheiro que entrar nessa conta especial.
Autonomia como paciente grávida nos EUA
A cultura do parto normal é bem forte nos EUA. Geralmente as mulheres são submetidas a uma cesárea apenas em emergências ou por razões médicas. Isso foi o que eu aprendi conversando com amigas que já haviam tido filhos aqui. Mas algo que me surpreendeu foi a autonomia que temos como pacientes. No Brasil, eu estava acostumada a receber instruções bem detalhadas dos médicos e ter um acesso mais fácil ao meu ginecologista, enquanto nos EUA minha experiência foi bem diferente do que eu esperava.
Nada de ter contato direto com o médico. Conversa pelo whatsapp com o doutor? Jamais. Se eu tinha alguma dúvida ou preocupação, minha opção era ligar no consultório e falar com uma das enfermeiras. Se meu caso fosse preocupante, eu seria direcionada de volta para a recepcionista para marcar uma consulta de emergência. As consultas com os médicos também eram bem rápidas. Se eu levava muitas perguntas, a conversa durava um pouquinho mais.
Eu ficava frustrada que a maioria das respostas eram “Você pode fazer isso, ou aquilo, mas no final é sua escolha”. Eu não me sentia pronta para decidir algumas coisas simples e, sinceramente, só queria que ele me falasse o que ele achava ser melhor para mim.
Mas durante a gravidez fui aprendendo a lidar melhor com as minhas expectativas. Eu gostei que pude escolher quando receber anestesia quando entrei em trabalho de parto, por exemplo. Já ouvi relatos de mães no Brasil que ouviram do profissional da saúde que, se optassem pelo parto normal, não poderiam receber anestesia.
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Hoje em dia me preparo para outra gravidez sabendo que não vou receber uma resposta do que é o “certo” para tudo. Tenho certeza de que poderei aproveitar essa minha autonomia para explorar novas alternativas para coisas que me estressaram mais do que necessário na primeira gestação e viver o momento com mais leveza.
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