Segundo o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis perfeição é o estado ou condição de ser perfeito. É ter ausência de falhas ou defeitos em relação a um padrão ideal; ou a qualidade de ser exato, preciso, absolutamente correto. Lendo essa definição é fácil saber que não existe um ser humano perfeito. Mas no nosso dia a dia acabamos nos impondo padrões de qualidade e de resultado em busca da tão sonhada perfeição. Já diria Fernando Pessoa:
Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter;
repugna-la-íamos, se a tivéssemos.
O perfeito é desumano,
porque o humano é imperfeito”.
Em busca do autoconhecimento, aprendi que podemos dar nomes e criar um avatar para os nossos sentimentos. Esse é um exercício interessante, pois os sentimentos tomam vida e podemos conversar e entender qual é o propósito de eles estarem conosco naquele momento.
Nomear os sentimentos
Acredito que mesmo aqueles sentimentos que consideramos ruins, na verdade, têm a função de nos proteger. Assim, tristeza, medo, frustração, raiva, culpa são parte essencial de um complexo sistema, fruto da evolução, que serve o propósito de nos ajudar a sobreviver. Mudar a forma como os enxergamos e lidamos com eles nos ajuda a seguir em frente e a viver a vida com mais leveza.
No meu caso, tive que conversar com a “Sra. Cris” (o avatar que criei para a minha perfeição), pois ela estava querendo me proteger da insegurança e da falta de controle que estava enfrentando na minha nova vida. Deixar meu país de origem, família, amigos, emprego e recomeçar tudo trouxe uma sensação de insegurança ao me afastar das minhas raízes, histórias, certezas e conquistas.
Além disso, não saber o caminho profissional que iria tomar, se as crianças iriam se adaptar, como agir em determinadas ocasiões sociais pela diferença de cultura, não conseguir me expressar perfeitamente por não ter o domínio completo da língua… tudo isso gerou o sentimento de que não conseguia controlar a minha vida.
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Ao conversar com a minha perfeição para entender qual era seu propósito me fiz três perguntas:
- O que é estar segura?
- O que é ter controle?
- O que é ser uma mulher perfeita?
Vou dividir com vocês as minhas respostas, que escrevi no avião voltando para a Califórnia após um final de semana cheio de reflexão. Esse foi um momento lindo de vulnerabilidade, não só porque estava chorando copiosamente dentro do avião (quem nunca?), mas também por conseguir acessar sentimentos que estavam há muito tempo reprimidos.
O que é estar segura?
Estar segura para mim é ter amor, ter minha família unida e feliz. Sou grata por ter uma casa, morar em um lugar tranquilo com qualidade de vida, por meus filhos terem acesso à educação e saúde de qualidade. Por poder comprar comida saudável. Por ter um companheiro de vida que me apoia e pais presentes e amorosos. Eu tenho tudo de que preciso para estar segura.
O que é ter controle?
Eu não posso controlar tudo, então ter controle é uma ilusão. Eu entendo que não posso controlar o amanhã, mas posso viver o hoje. Assim, eu terei compaixão em aceitar cada momento da minha vida. Eu terei compaixão com cada sentimento. Eu terei compaixão por não poder controlar tudo. Está tudo bem. Eu confio nos planos da vida.
Eu sei que faço o melhor que posso em todos os momentos, mesmo quando minha mente teima em dizer que eu poderia ter feito melhor. Dessa forma, vou aprender a reconhecer que era o melhor que podia fazer naquela circunstância, com as ferramentas, preparação e estado de espírito que tinha. E, que isso é sim fazer o meu melhor. Serei agradecida por esses momentos e pelos aprendizados que eles me trarão. Terei paciência comigo e com o tempo em que acho que as coisas devem acontecer. Sei que não controlo o tempo.
O futuro é incerto, mas não preciso temer. Preciso confiar que tudo tem seu momento e nem sempre vou entender os motivos. Eu não posso controlar nem planejar tudo. Eu vou aceitar os resultados com o coração aberto e gratidão. E não importa se serão grandes conquistas ou pequenos passos. Eu serei grata e vou celebrar.
O que é ser uma mulher perfeita?
Uma ilusão. Uma mulher que se cobra excessivamente para fazer tudo acima do possível, uma mulher que nunca está satisfeita com o que tem e não consegue enxergar as coisas boas e viver no presente. Eu não quero mais ser perfeita. Está tudo bem! Eu não preciso ser perfeita para estar segura. Eu não preciso ser perfeita para controlar a minha vida.
Eu não preciso ser perfeita. Eu preciso viver o hoje. Eu quero ser leve. Eu quero acreditar, deixar a vida seguir seu fluxo. Eu quero tudo o que estiver ao meu alcance, mas sem ultrapassar meus limites.
Eu posso descansar e eu posso ter momentos de prazer. Eu posso sorrir. Eu posso ser vulnerável. Eu posso chorar. Eu me amo integralmente, cada parte do meu corpo e espírito.
Cada sentimento tem um propósito. Sendo assim, eu vou aprender a ouvir o que meus sentimentos querem me ensinar.
O que a perfeição quer me ensinar
Obrigada, Sra. Cris (perfeição).
Entendi que eu me amo integralmente. Eu amo a minha vida. Eu amo a minha família e os meus amigos.
Entendi que não posso controlar tudo, que preciso viver o presente e confiar nos planos que a vida tem para mim.
Entendi também que preciso ter compaixão comigo e agradecer por todos os sentimentos e seus aprendizados. Sim, nós podemos continuar amigas. Você me ajuda a ser melhor, mas nunca serei perfeita igual a você. E não quero ser. Está tudo bem agora.
12 Comentários
Talita, que texto lindo e profundo! Adorei a reflexão e a ideia de conversar com a Sra. Cris… rs! Realmente perdemos muito tempo em busca de um estereótipo/perfeição que muitas vezes é impossível de alcançar! Ser feliz hoje, aceitando as nossas limitações eh reconfortante!
Carol, muito obrigada! Sim, acredito que quando buscamos ou esperamos pela perfeição (que não existe), deixamos de viver a vida em seu potencial! Estou em busca disso! beijos
Tambem gostei muito do texto. A Cris que gere a perfeicao dela, nė?😁
Obrigada, Zandra! Adorei, da próxima vez vou falar isso para ela! Risos…
Excelente texto! Gratidão por compartilhar conosco seu conhecimento. Bjos
Muito obrigada, Suliane! É um prazer fazer parte dessa rede de apoio que inspira mulheres mundo afora!
Talita, lendo seu texto e olhando para minhas próprias reflexões ao viver esta vida longe do conhecido e do familiar , a palavra que ficou foi “vulnerabilidade”. É muito difícil lidar com esse sentimento quando não queremos nos expor. Mas não tem como aprender e conhecer esta nova forma de viver sem estar exposta. O maior aprendizado para mim neste momento é deixar o julgamento de lado e pegar leve comigo! Obrigada pelo texto!
Cecília, exatamente! Quando não nos permitimos ser vulneráveis não nos abrimos aos nossos sentimentos e a aprender com eles! É um processo de aprendizado e, sim, devemos pegar bem leve conosco nesse caminho! beijos
[…] além de ir ao cabelereiro com frequência ou estar com a depilação em dia. Eu me vejo menos perfeccionista, mais leve. Não estou criticando quem o faz, de forma alguma! Meu ponto é que muitas de nós […]
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