O desafio de ser mãe na Itália
Assim que descobri a minha gravidez eu senti uma extrema felicidade e o grande peso da responsabilidade que estava por vir. Havia planejado e esperado por muito tempo por aquele momento.
Naquela época eu e meu marido estávamos em uma situação muito instável financeiramente, tínhamos acabado de nos adaptar em Roma e eu tinha pouco tempo de trabalho. Não tínhamos carro, apenas uma moto e sabíamos o quão difícil seria comprar tudo necessário para a chegada de um bebê, mas ainda assim estávamos muito felizes.
Onde moramos é um local desprivilegiado de transporte público, os poucos ônibus têm horários muito escassos e, por essa razão, até o quinto mês de gravidez, a minha forma de locomoção principal foi a “motinho”. Pode parecer loucura, mas era a única forma que tínhamos para ir às consultas e exames médicos.
Eu e meu marido tínhamos sempre que nos organizarmos para que os nossos horários de trabalho, consultas e exames médicos coincidissem e, por várias vezes, já com um barrigão, eu tive que esperar por horas ele acabar seu expediente para me buscar no trabalho. Até que, durante uma consulta de rotina, tive um susto: por conta do esforço físico causado pelo trabalho e por longas caminhadas, a parede do útero afinou e corríamos o risco de perder minha bebê. Essa foi a única consulta que eu fui sozinha e com toda certeza foi momento que passei o maior medo e sentimento vazio durante a minha vida.
Repouso absoluto por 15 dias, foi essa a recomendação médica. Reorganizei minhas prioridades, decidi sair do trabalho e cuidar do restinho da minha gravidez para que a minha bebê nascesse com saúde. E foi durante aqueles 15 dias de repouso absoluto que eu pude sentir na pele a falta que a minha família fazia. Até então era só uma questão emocional, de saudade. Não tínhamos a quem recorrer, eu sem poder fazer nada e meu marido se virando em mil, fazendo horas extras, cuidando da casa e de mim; foi realmente uma barra.
Mas nada dura para sempre, tudo é uma questão de fase e adaptação e tudo foi tomando seu devido lugar. Finalmente conseguimos comprar um carro e as “coisinhas” da bebê que crescia com muita saúde.
O grande dia chegou e por ter tido complicações durante o parto fui submetida a uma cesárea. Durante os primeiros 20 dias eu recebi a ajuda de alguns familiares que vieram me visitar, o que agradeço eternamente até hoje. Passados os 20 dias eu me vi com minha filha recém-nascida e ainda com dores, tendo que aprender a ser mãe sozinha.
Antes do nascimento da minha filha eu não imaginava o quão exaustivo era cuidar de um bebê, na minha inocência imaginava que bastava amamentar, dar banho e trocar fralda, procedimentos rápidos e que durante os intervalos teria bastante tempo para ter uma vida super normal…. quanta inocência a minha.
A minha filha acordava com intervalos muito curtos, fosse dia ou noite. Como todo bebê recém-nascido, teve cólicas e apenas se acalmava quando mamava. Cheguei a me desesperar, pois não conseguia me organizar, já não dava conta dos afazeres domésticos nem mesmo de cuidar de mim.
Mas após o quarto mês tudo começou a se encaixar, as cólicas passaram e, aos poucos, eu e minha bebê nos adaptamos e nos conhecemos melhor; aprendi a me organizar na nova rotina e adaptei as horas de sono.
Por opção minha e do meu marido, decidimos que minha filha não iria para creche ao menos até que ela completasse um ano e, mais uma vez, a família fez falta.
Não temos a famosa casa da vovó para deixar nossa baby, isso significa que eu não voltei ainda por completo à minha vida profissional, significa também que eu e meu marido não temos um momento de lazer só nosso e, por fim, e o mais dolorido, é que minha filha será privada de crescer junto com seus tios, primos e avós brasileiros.
Justamente por privar minha filha de crescer junto com minha família no Brasil por um bom tempo eu me senti péssima, já imaginando que, no futuro, ela poderia me cobrar tal convívio mas, então, cheguei à conclusão que uma mãe deve fazer o que no momento seja o melhor para o filho.
Infelizmente, por questões notórias, criar a minha filha no Brasil seria muito mais sacrificante para todos e principalmente para ela.
Particularmente não concordo com a famosa frase: “quando nasce um bebê nasce uma mãe”. Ser mãe não se aprende de um dia para o outro, ser mãe é uma conquista gradativa, aprendemos mais com nossos filhos do que eles conosco. Cada fase é uma descoberta, cada obstáculo um aprendizado. Por muitas vezes não sabemos qual caminho seguir, temos medo dos julgamentos, somos cobrados por todos e também nos cobramos à exaustão.
De todas as lições que eu aprendi sendo mãe para mim a mais importante foi ter coragem. Pela minha filha eu enfrentei julgamentos de todos sem fazer qualquer distinção, superei meus medos e revi todas as minhas prioridades e, finalmente, entendi a minha mãe quando ela dizia que certas coisas eu só compreenderia quando fosse mãe, ela tinha razão…
3 Comentários
Oi Thais,
Obrigada por compartilhar a sua história. Ser mãe na Italia longe da família e sem um suporte é realmente complicado.
Tenho duas lindas filhas de 3 e 5 anos e vivo a difícil arte de tentar ser uma boa mãe e ao mesmo tempo conseguir trabalhar, realizar projetos e sonhos e cuidar também do meu casamento. Isso sem aquele suporte da vovó naquele final de semana que a gente precisava de um dia para descansar corpo, mente, alma.
Boa sorte no seu caminho aqui na Italia e que você consiga realizar seus sonhos. Abs Barbara
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