O aprendizado das despedidas.
Uma das lições mais difíceis enfrentadas na vida é o delicado momento da despedida. No nosso caso, mães que residem distante de familiares e da nossa pátria mãe gentil, vivenciamos intensamente cada momento de chegada e partida: o preparo das malas, o trajeto para o aeroporto e até mesmo o decolar da nave! Enfim, para nós, são vivências carregadas de emoção. Depois de aprender sozinha os muitos aspectos do “dizer adeus”, tornei-me consciente da necessidade de esclarecer o processo para meu filho. No meu quarto livro, publicado no ano passado, adicionei uma singela história sobre a despedida de um neto e sua vovó coruja, chamada “A Estrela da Vovó”.
Somente no momento em que aprendemos a lidar com uma situação, tornamos-nos capazes de partilhar com nossos filhos, amigos, família e afins. Trata-se do reconhecimento de uma experiência, principalmente quando ela é/foi transformardora, pois perplexidade e resignação sempre farão parte dos processos de vida. De repente, nos tornamos mais presentes, vivendo no aqui e agora, conscientes de um abraço de despedida, o qual nos leva às lágrimas… Tudo passa a ser aceito naturalmente, sem julgamento e drama.
Ao longo dos anos, descobri que existem algumas maneiras de lidar com as fortes emoções. Primeiramente com as nossas e depois, naturalmente, com a da criança, afinal as mudanças emocionais acontecem à medida que crescem. No meu segundo artigo, mencionei alguns pontos sobre idade e o desenvolvimento da educação emocional.
Mas o que são e o que significam essas “despedidas” na vida da criança? Um bom exemplo seria uma breve separação da mãe ou uma súbita hospitalização, além da clássica colocação de bebês em um berçário. Essa pode se tornar um “capítulo de vida” dramático para muitas crianças. Ouvi depoimentos de muitas mães, histórias sobre o sofrimento dos primeiros anos no jardim da infância, principalmente quando existe ou existiu alguma pressão emocional.
Além disso, para algumas crianças até a hora de ir para a cama é uma despedida! Essa simples transição do dia ativo para a noite tranquila faz com que as crianças se sintam separadas da vida dos pais, que muitas vezes trabalham o dia inteiro e também precisam se regenerar. Situações desse tipo exigem desapego e aceitação de ambos.
Aprendizado para a futura vida social
Em regra, as experiências de perda dos primeiros anos na vida devem ser consideradas como um estágio de desenvolvimento, do aprendizado de hábitos para a futura vida social. Assim como a criança renunciou à segurança no útero para vir ao mundo, ela também será desmamada do peito da mãe e assim por diante.
Outro exemplo interessante: a chupeta. Para muitos ela é considerada uma substituição e calmante temporário, porém dentistas aconselham que, para a saúde dentária, esta deve ser jogada na lixeira o mais rápido possível. E lá vem outra despedida dolorosa! No entanto mais uma vez fica claro: o aprendizado da despedida não é apenas tarefa da criança, mas também dos pais. Por natureza as crianças estão muito mais próximas à dinâmica original da vida e instintivamente sabem lidar mais rápido e facilmente com a perda e o sofrimento. Elas dominam o segredo do viver aqui e agora. Porém se elas têm maus exemplos, isso dificulta qualquer tipo de aprendizado.
A verdade é que cada uma de nós procura superar transições ao longo da nossa história de vida e, assim, adotamos alguns hábitos que nos servem como um guia. A vida é um fluxo, tal qual um rio e suas corredeiras, sempre em movimento, cada etapa com seu dinamismo e características especiais. Enfrentar essa dinâmica faz parte da nossa rotina diária, ainda mais quando nós, mães, somos as principais responsáveis pelo bem-estar das nossas crianças. Ao longo do caminho, os filhos aprendem a reconhecer que lentamente se libertam do que se tornou dispensável, o que os fará capazes de enfrentar novos desafios futuros.
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Vivendo em diferentes países, cada um dotado de uma qualidade especial de vida, rapidamente aprendi que em todas as culturas existem transições e estas tendem a provocar medos e crises. Como se despedir de um momento precioso e enfrentar um outro desconhecido? Uma questão do aprendizado que exige muito de cada um de nós e, se ignorado, pode até causar uma incapacidade de lidar com a vida.
Portanto para quem quiser se informar e pesquisar sobre diferentes formas e/ou mesmo cerimônias/rituais que servem de suporte durante difíceis situações, basta entrar em contato e enviarei uma lista de livros e artigos sobre o tema. Métodos alternativos de cura revelam um outro aspecto sobre o assunto. Acredito que o processo de despedida pode e deve ser suavizado através dos ritos de passagem, os quais servem como guia durante as mudanças para novas fases da vida.
No próximo artigo, relatarei minha experiência com alguns métodos holísticos, um apoio extra para mamães que optam por métodos de medicina natural no dia a dia.
3 Comentários
Olá, Alexandra! Agradeço imensamente por esse texto que me chegou confidente, como se estivesse a dialogar comigo, transitando pelas várias fases de minha vida. Sobretudo, as diversas infâncias que vivi.
Vi lembranças adormecidas vindo à tona.
Despedidas são dolorosas. Todas elas. Cada uma com a sua intensidade. E só sabe quem por elas passa.
Confesso, com emoção, que cada palavrinha lida me teve um peso significativo – um peso multiplicado por números inimagináveis por mim, até o momento.
É maior que reconhecer-me nesse universo e reconhecê-lo meu. Estou, aqui, revivendo-me e ressignificando-me. Uma ressignificância dos momentos todos que a minha memória conseguiu tocar, desde as celebrações às perdas. Perdas que, talvez, nunca saiba como as tive, porque as tive e/ou quando as tive.
Por outro lado, o cuidado com todo o meu ser, com toda a minha humanidade, me possibilitou crescer serena, consciente e mais forte, quando do surgimento dos estímulos para as minhas conexões com os meus sagrados.
Ritos muito pessoais que me preservam sã.
Grata pelas sinceras palavras! Leio-as e quase em forma de verso reconheço sua emoção, Jullie! Sim, um forte sentimento vivido nos transforma, nos torna mais humildes para com nossas conexões terrestres…A aceitação do processo nos torna mais humanas, sou uma testemunha, apenas aprendiz <3 Forte abraço!
É exatamente isso.
Toda a minha gratidão.
Forte abraço.