Mudança para Itália: saímos da zona de conforto e aprendemos muito
Chegamos em Padova (Pádua), no norte da Itália, há exatos dois anos e dois meses para uma temporada que seria de oito meses. E nesse tempo muita coisa aconteceu!
A melhor de todas elas talvez tenha sido o fato de que a nossa família nuclear tenha ficado mais próxima e muito mais unida. A proximidade trouxe mais amor, muito mais brigas e uma intimidade deliciosa. Cada um de nós teve (e ainda tem) seus obstáculos para superar e todos estavam (estão e sempre estarão) lá, totalmente disponíveis para dar um suporte.
Claro que não é preciso mudar de continente para ter essa experiência, mas o estilo de vida que tínhamos no Rio era bem diferente. Trabalho, escola, muitos amigos, família grande, vários eventos sociais, ou seja, uma vida extremamente agitada. Não estou me queixando, muito pelo contrário, e aí vem a maior desvantagem de morar fora.
A tal da saudade
Sinto muita falta da minha família, dos meus amigos, do meu trabalho. Todos os meus vínculos ficaram pra trás. Felizmente, temos as redes sociais para nos comunicarmos e acompanhar o que acontece do outro lado do Oceano Atlântico. Nunca vai ser a mesma coisa. A gente pode fazer vídeo chamadas, mas não pode abraçar! Além disso, temos o fuso horário – que dependendo da época do ano pode ser de quatro ou cinco horas. E ainda todos temos os nossos compromissos ( e os deles). Não dá pra ficar horas no telefone, nem dá pra se falar com a frequência que eu gostaria.
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Sinto muita saudade da convivência com os meus sobrinhos, do abraço da minha mãe, das confidências com as minhas irmãs, da implicância do meu pai e dos longos almoços em família. Faz falta também a oportunidade de prestigiar as apresentações de escola dos sobrinhos, de tomar café com as amigas e encontrar pessoas conhecidas pela rua.
Quando a gente vive longe, a gente perde a primeira comunhão das sobrinhas, os aniversários dos afilhados, as festas de 15 anos das amigas da sua filha. Tem que curtir de longe a gravidez da cunhada e a apresentação do sobrinho que acabou de ser convidado para a orquestra da escola.
A gente não acompanha o dia a dia da família, não participa das festas, não pode dar abraço no amigo, primo ou tio que perdeu um ente querido ou passou por um momento difícil. A gente sente uma ponta de inveja quando todos se reúnem nas festas de fim de ano ou num dia qualquer.
A cada escolha, várias renúncias
Certa vez li que uma vida nova nos custa a vida antiga. E é verdade. Cada vez que fazemos uma escolha, abrimos mão de muitas outras. Mas, da mesma forma que a saudade é imensa, o aprendizado também é.
Hoje vivemos numa cidade linda, cheia de história, com um estilo de vida delicioso. Padova é a cidade do Santo Antonio e é a cidade de uma das universidades mais antigas e mais importantes do mundo. Por aqui estudaram Galileu Galilei, Cristovão Colombo e muitos nomes importantes da história.
Sair da zona de conforto traz vários aprendizados
Meus filhos, hoje com 11 e 16 anos, cresceram e amadureceram muito rápido em dois anos. O tempo voa para todos, mas quando você está em outro país, com outra língua, outra cultura, outros costumes e fora da sua zona de conforto é como se o tempo passasse ainda mais rápido.
Faço um parêntese aqui: sempre quis que meus filhos tivessem a oportunidade de viver em um outro país, diferente de onde nasceram e cresceram, para ampliar a sua visão de mundo. Eu já tinha morado fora e tinha gostado muito da experiência. É algo que não dá pra explicar, é preciso viver! Como temos a cidadania italiana, escolhemos a Itália. Em um outro momento escreverei sobre isso!
Já que escolhi falar sobre o aprendizado e as conquistas, listo alguns pontos que considero muito importantes.
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Bilinguismo e adaptação à escola
Hoje meus filhos são bilíngues. Quando eles estudam inglês, espanhol ou alemão buscam o significado das palavras em italiano e não no português, como eu.
Na escola superaram as dificuldades da língua, se adaptaram à nova metodologia de ensino e às regras de avaliação. A escola por aqui merece vários artigos. Todos tem acesso ao ensino público e ele é considerado de excelente qualidade . Meus filhos estudam em uma escola pública e na mesma sala de aula estuda tanto o filho do dono da empresa quanto o filho do porteiro da mesma empresa. Independente da classe social, as crianças recebem o mesmo ensino.
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Autonomia e independência
Hoje, eu acho que meus filhos são muito mais autônomos e independentes em comparação aos amigos brasileiros na mesma faixa etária. Por morar numa cidade pequena, menos de 300 mil habitantes, e classificada como de primeiro mundo, há segurança e infraestrutura, e assim, eles podem andar sozinhos. As crianças vão de bicicleta para a escola, para o clube, para as atividades extraclasse. Ganharam autonomia e liberdade.
Além disso, não é usual e custa muito caro ter uma ajudante em casa. Sendo assim, por aqui as atividades domésticas são de responsabilidade de todos os membros da família. Cada um tem a sua função. Ninguém sai de casa sem arrumar os quartos, por exemplo. Dessa forma, percebo que também estão ganhando autonomia.
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Características desejadas no mercado de trabalho
Se pensarmos nas características desejadas no mercado de trabalho, posso dizer que meus filhos estão sendo muito bem preparados para o seu futuro profissional. Nestes dois anos eles estão vivendo intensamente o que é trabalhar sob pressão e aprender com os erros, sentem na pele a importância de respeitar as diferenças e valorizar as competências de cada um. Sem dúvida são pessoas resilientes. Leia aqui o relato de uma adolescente sobre como é mudar de país nessa fase da vida.
Não é fácil. A cada obstáculo, sinto vontade de ajudá-los e de fazer por eles. Mas eu “me seguro” pois eles precisam aprender. Deixo que eles sigam em frente, mostrando-lhes que estou por perto, dando-lhes o suporte necessário e juntos comemoramos muito cada conquista.
São essas conquistas diárias que fazem com que eles amadureçam assim tão rápido. Estou muito feliz com os resultados, mesmo sabendo que a estrada é longa para o crescimento e amadurecimento.
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2 Comentários
Carla, me identifiquei em varias partes do seu texto, embora eu não tenha tido a experiência de ter filho mo Brasil (sai do Brasil com o Lucca com 5 meses). Acredito que no final das contas, os benefícios são muito maiores para as crianças. Eles crescem com outra visão de mundo e aprendem que existe um universo imenso a ser explorado e respeitado!
Tati, é verdade! e esse mundão fica pequeno para eles!