Mudança de país e adolescência: similaridades no processo de reconhecimento e adaptação
Escrevi esse texto quando me mudei para o estado da Geórgia, no meio do ano de 2017, e andei pensando muito nessa fase de adaptação. O sonho de mudar de país sempre foi do meu marido. Eu, para falar a verdade, tinha muito medo de morar fora e era muito apegada à minha família.
Um belo dia, ele entra porta adentro com a novidade: ia ser promovido e transferido para os EUA. Ali começou o processo que misturava insegurança e expectativas a respeito da nossa adaptação.
Quando ele me disse que íamos nos mudar, eu me senti como uma adolescente que fica menstruada pela primeira vez. Você até imagina como é, pode até se preparar, mas daí a saber de fato o que vai mudar e como vai mudar, já é outra história. Mas assim mesmo, fomos.
O medo do desconhecido e a curiosidade
Quando você chega em um novo lugar, tudo lhe causa estranheza: a língua, as pessoas, os costumes, a comida… É um misto de curiosidade com o novo e o medo do desconhecido. Uma verdadeira gangorra de sentimentos bons e ruins. Não sabemos onde ir, não conhecemos os códigos sociais, não nos reconhecemos naquele lugar e naquelas pessoas.
Agora pense na criança à porta da adolescência: ela vinha com sua vida totalmente adaptada, conhecia os seus sentimentos e tinha uma rotina já estabelecida. Num primeiro momento, começa a não se reconhecer fisicamente, seus sentimentos ficam confusos e tudo que antes era calmaria entra em ebulição. Ela já não pensa como antes e até mesmo a sua posição dentro da família tem que ser revista. Sua rotina e seus costumes vão mudando conforme ela vai se posicionando dia a dia nessa nova fase.
Assim como quando chegamos num lugar desconhecido temos que observar a vida, os lugares, as pessoas, a língua, as gírias e os costumes; o adolescente também precisa desse tempo para se adaptar a essa nova fase, onde tudo é novo e desconfortável o tempo todo. Existe uma vontade louca de voltar àquela fase onde tudo já era conhecido e seguro, mas também uma expectativa imensa de como será esse novo momento cheio de possibilidades. Enquanto toda essa confusão acontece por dentro, por fora ele precisa manter uma aparência de que está tudo bem e sob controle, quando na verdade tudo está um “caos”. O esforço que é feito emocionalmente e mentalmente é muito grande. Depois ninguém sabe por que o adolescente fica recluso na maior parte do tempo no seu quarto e tem um sono absurdo.
O esforço necessário para a adaptação
Pense no esforço que o nosso pré-adolescente ou adolescente faz diariamente para se adaptar à sua nova aparência, seus novos sentimentos e pensamentos. Um medo danado do novo, mas uma vontade imensa de crescer. Em volta, todo mundo dizendo que vai dar tudo certo. Mas, nos detalhes do dia a dia, somente ele pode buscar soluções para os seus problemas. Afinal o crescimento e o desenvolvimento são dele.
Tente se colocar no lugar dele. É só imaginar ou lembrar como é se mudar para um novo país sem conhecimento prévio da língua ou do lugar. Certamente se você é adulto e já passou ou está passando por isso sabe do que estou falando.
E por que muitos pais ou adultos não entendem o que passa com os filhos na adolescência?
Porque depois que passa a fase de adaptação, já estamos acostumados com aquilo e vira rotina. A nossa tendência é esquecer o que ficou para trás e o nosso cérebro faz um esforço enorme para logo nos adaptarmos. Então, quando as primeiras dificuldades são superadas, nos acalmamos e vamos tocando a vida. Com o adolescente também é assim.
Com o tempo melhora
A pior fase é no começo, nas primeiras mudanças e nos primeiros dois anos. Sem dúvidas, aos 11 anos temos muito mais dúvidas e medos do que aos 20. As confusões ou sofrimentos aos 20 anos são de outra ordem. O mesmo vale para os primeiros dois anos da vida do expatriado/imigrante.
E o que o expatriado, assim como o adolescente, faz para diminuir um pouco do impacto e da sensação de ser um “ET”? Procura os seus iguais ou a ”sua turma”! Empenha-se para se identificar com aquilo que é comum àquelas pessoas. Conforta saber que você não é o único que está pensando ou sentindo aquelas coisas. Quantos expatriados formam grupos e comunidades de brasileiros nos países que moram?
Eu tenho conversado com brasileiros que já estão aqui nos EUA há algum tempo e todos dizem a mesma coisa: que já se adaptaram e que com o tempo vou conseguir aprender a língua e me adaptar também. Tenho certeza disso, pois realmente, assim como na adolescência, é um dia de cada vez.
E você, se identifica com essas analogias e comparações? Já percebeu outras similaridades nesse processo de adaptação? Sinta-se à vontade para comentar, compartilhar ou marcar alguém que poderá se beneficiar com este texto.
Abraços calorosos e até a próxima!
Leia também: Fases da imigração: lagarta vira pupa, que vira borboleta
4 Comentários
[…] meu primeiro texto, que escrevi mês passado, trouxe um pouco sobre o assunto da adaptação do expatriado, comparando […]
que legal. Acredito que precisamos falar muito sobre isso. Vou conferir seu texto. obrigada
[…] Tudo bem que a adolescência é uma fase difícil para os pais, mas sempre gosto de lembrar que para o adolescente é ainda mais difícil. Falo sobre isso no meu outro texto. […]
[…] Leia mais: Adolescência e mudança de país: similaridades no processo de reconhecimento e adaptação […]