Mudança com bebê na França
Há várias experiências de mudança com crianças escritas por diferentes colunistas do BPM Kids. Uma verdadeira mina de ouro para quem está se mudando com a família seja do Brasil para o exterior, seja de um país estrangeiro para outro, seja dentro do próprio país.
A Beatriz falou da mudança em família para Moçambique (ler aqui). A Danyella contou como foi a mudança da sua família das Filipinas para a Austrália (confira nesse link). A Cláudia fez até um check list bem prático para quem está a caminho dos EUA.
Como cada experiência é única, acredito que quanto mais informações diferentes temos maior a chance de diminuir o estresse e se preparar melhora para os imprevistos que surgem nessa etapa. Por isso, resolvi me juntar ao grupo e compartilhar com vocês um pouco da minha mudança dentro da França.
Antes, um pouco sobre a minha história
Quando os meus amigos franceses souberam da nossa mudança, alguns me disseram: “Depois de mudar do Brasil para a França, qualquer mudança aqui é fichinha para você!”. É verdade que a quantidade e a intensidade dos desafios não são iguais. A adrenalina não é a mesma. Nem os medos.
Moro na França desde 2009, porém não foi fruto de uma mudança definitiva. O meu objetivo era continuar os meus estudos no país de Molière e, em seguida, voltar ao Brasil e prestar o concurso de diplomata, o meu sonho. Acho que esse é um dos motivos de eu não ter sentido todo o estresse de mudança de país. Não tive que preparar desmontar a casa, encaixotar as minhas coisas e cuidar do transporte de móveis. Vim com duas malas de estudante e a única preparação foi a do visto e a relacionada aos estudos (hospedagem e afins).
Mas a mudança temporária virou definitiva. Eu finquei raízes na França e esta minha mudança dentro do país foi bem diferente daquela da época de estudante brasileira. Podemos dizer que dessa vez foi o pacote completo. Com um adendo: a família que o meu marido e eu construímos.
Foram dois meses de pura adrenalina, empolgação, muitas expectativas e ansiedade e, acima de tudo, muito trabalho para preparar a nossa partida. No nosso caso, tivemos pouco tempo, pois a mudança foi por razões profissionais e não tínhamos como saber para onde iríamos com antecedência. Tudo isso com um filho de 22 meses, na época.
Descobri que, apesar de ser apenas uma mudança de cidade, os desafios de adaptação e recomeço estão bem presentes e reais. Só que agora com mais um ser humaninho para viver essa aventura.
Desmontar, encaixotar, mudar
Descobri que fazer a triagem e encaixotar todos os nossos pertences, desmontar móveis e fazer a mudança com um bebê é uma ginástica e tanto. Como foi nas férias de verão, não tínhamos creche no mês de agosto, então o nosso filho estava conosco em tempo integral. Por isso, a minha dica para quem tem filhos na creche ou na escola é: se puder, prepare a mudança enquanto eles estão na creche/escola.
Mas essa questão também depende de como você vai fazer a mudança. Na França, há pelo menos três modalidades quando o assunto é mudança:
– A mudança com uma transportadora tradicional, que vai encaixotar, desmontar, transportar e montar tudo para você, da casa antiga para a casa nova. Nesse caso, você não precisa fazer quase nada (caso não queira/precise fazer triagem das coisas). Para quem tem bebês ou filhos muito pequenos, é uma solução dos sonhos. Mas vale lembrar que isso tem um preço. Essa é a modalidade de transporte mais cara. Caríssima mesmo. Ela leva em conta os quilômetros entre a residência antiga e a nova, o número de funcionários necessários de acordo com a quantidade de coisas a transportar, a facilidade ou dificuldade de acesso ao domicílio, data da mudança, etc.
– A mudança low cost. É uma modalidade intermediária entre a mudança tradicional e a “faça você mesmo”. Os preços são bem mais acessíveis, pois você geralmente pode escolher o número de funcionários, por exemplo. Assim, pode chamar amigos e familiares para ajudar e diminuir significativamente os custos da mudança.
– A mudança “DIY” ou “se vire” ( num bom português, risos). Essa é a modalidade campeã na França, por motivos óbvios. Sai muito mais barato alugar um caminhão e contar com a ajuda de familiares e amigos. Há até sites que ajudam as pessoas a encontrar outras que possam dar aquela mãozinha na mudança, no caso de quem não tem familiares e amigos por perto ou disponíveis. É claro também que essa é a forma mais trabalhosa, principalmente se você tiver filhos pequenos.
Voltando à estaca zero
Lembram que compartilhei com vocês o desafio imenso que é achar uma vaga numa creche na França? Pois é. Tivemos que recomeçar essa luta por ter mudado de cidade. Mas isso pode acontecer até quando se muda apenas de bairro, por causa das regras de distribuição de vagas.
Como a comissão que atribui as vagas já tinha passado, era impossível conseguir uma vaga para o nosso filho ao chegarmos aqui. E, por enquanto, não queríamos contratar uma babá (“nounou”) por não conhecermos ninguém e pelo trabalho burocrático que dá. Depois de bater em várias portas, conseguimos uma vaga de um dia por semana numa microcreche. É uma experiência nova para nós, pais, e para o nosso filho, pois antes ele estava numa creche grande, com várias crianças e “classes”, e com outra metodologia. Nós estamos gostando e o nosso filho também. Numa microcreche crianças de idades diferentes ficam todas juntas, o número é limitado a 10 crianças por dia e há um trabalho de aprendizado da autonomia muito interessante, com bebês que preparam a mesa e se servem sozinhos, por exemplo.
Como estamos morando na fronteira com a Suíça, descobri que podemos matricular o nosso filho na “creche” suíça também. A metodologia parece ser igualmente excelente, mas o “jardim de infância”, como é chamado lá, não funciona realmente como uma creche, mas como uma escola e, por isso, os pais ou responsáveis devem pegar as crianças ao meio-dia e levá-las de volta às 13h30, caso a inscrição seja para o período integral. A inscrição também pode ser para apenas um dos períodos (matutino ou vespertino). É uma opção a considerar.
E o pediatra?
Como já conversamos aqui, conseguir um pediatra da família, que será o médico que acompanhará a criança até a adolescência, é uma aventura na França. E, para o nosso desespero, não há pediatra na nossa nova cidade. Resultado: vamos ficar com o nosso pediatra (profissional muito humano e competente, mas que fica a mais de duas horas de viagem de carro agora) e mudarmos o nosso “médico de família” dando preferência a um que atenda crianças também na região, para termos um médico para consulta com acesso rápido em caso de doença do nosso filho.
A parte boa é que o nosso filho adorou a nova cidade e se adaptou rápido e facilmente ao novo lar. Isso faz todo o trabalho e cansaço valer ainda mais a pena.
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