Como muitos sabem, eu moro aqui na Croácia há nove anos. Quando cheguei, não conhecia nada do país, da cidade em que iria morar, e, como pra qualquer um que visita um lugar pela primeira vez, tudo era uma grande novidade. Eu já tinha visitado Split uma vez com o navio onde eu trabalhava, quando ele fez uma parada bem rápida aqui durante o final da temporada de inverno. No entanto, foram algumas poucas horas, num dia frio em que eu precisava voltar correndo para o embarque. Não deu pra ter o gostinho de conhecer a cidade pelos olhos de um turista. E nessa época, de maneira alguma havia passado pela minha cabeça que em um ano eu ía morar no exterior, exatamente ali.
Visitei mais de 50 países e em todos eles pude experimentar sensações e aprender um pouco sobre a cultura e a vida das pessoas, com esse olhar de turista. Foram quase cinco anos embarcando e desembarcando, colhendo histórias e montando o meu álbum de aprendizado pra vida.
Mas, e agora? Como seria morar num país com uma língua que eu não dominava, um povo que eu não conhecia? Sem trabalho, sem conseguir me deslocar com facilidade no inverno, como seria? Eu cheguei aqui na época mais complicada pra uma carioca se adaptar: o fim do outono e início do inverno.
Croácia no frio e no calor
E como tudo era novidade, eu adorei! Vestia todas aquelas camadas de roupas, botas, toucas, meias… tudo o que precisamos pra sobreviver. Cada volta perto de casa eram pelo menos umas 200 fotos novas! Tudo era registrado, nada passava batido! Porque, claro, meu modo turista estava totalmente ativado!
O primeiro Natal também foi interessante. Em família, dentro de casa, com sogro e sogra, comendo uns três dias seguidos e dormindo cedo. Sim, morar no exterior pode significar celebrar o Natal e ir dormir (se duvidar antes até da meia-noite, principalmente sem crianças). O Ano Novo, então, que o nosso principal costume no Brasil é escolher a roupa branca pra passar na praia, foi substituído por algo bem quentinho e mais comida pra forrar a barriga e aquecer o corpo.
Tudo isso era novidade pra mim, e por mais que fosse diferente, a gente se adapta. Daí chegou janeiro, fevereiro, e os passeios continuaram por lugares de neve, por chalés pra ver lagos congelados (como os lagos de Plitvice que ficam lindos nessa época do ano), por resorts de esqui (mesmo eu nunca tendo esquiado antes, mas é bacana pra conhecer e apreciar um vinho), pelas festas de Adventos de Natal e Ano Novo, que continuam aqui na Croácia até as primeiras semanas de janeiro.
Como nessa época eu passava uns meses embarcando como passageira no navio do meu marido, eu estava sempre nesse estado de férias constantes. Daí veio o primeiro verão aqui na Croácia, e eu preferi ficar por aqui enquanto meu marido embarcaria pra um contrato de dez semanas.
E aí eu tive de fato a sensação de estar de férias pra vida inteira! Como ainda não tinha filhos, e nem compromisso com nada (apenas estudava croata duas vezes por semana na Faculdade de Filosofia de Split), eu me sentia livre, leve e solta. Foi, com certeza, a melhor temporada que passei aqui. De manhã ía pra praia (atravessava a estrada e pronto!), voltava pra almoçar e voltava de tarde pro mar. Foram dois meses assim, diariamente. Minha vida de morar no exterior nessa época era de uma eterna turista. E sozinha, mas eu sempre curti muito a minha própria companhia.
Quando a gente deixa de ser turista?
E depois desse verão, veio o inverno, o segundo que passaria aqui. Mas eu ainda estava na fase de turista, então não foi tão complicado. No entanto, aquele Natal e Ano Novo passaria sozinha, já que o marido estaria embarcado. Daí é que caiu a ficha! A ficha de que aos poucos o tempo ia passando e as responsabilidades se alterando, mas ao mesmo tempo aumentando.
Muita gente me pergunta se é fácil se adaptar ao estrangeiro, e eu digo que sim e que não. Temos essas fases, como a lua, e que devem ser curtidas cada uma à sua maneira, mas elas passam. E disso temos que ter certeza! E temos que estar preparadas para, quando chegar o momento de assumir posições e comportamentos antes não imaginados, podermos abraçar esse novo momento e aproveitar o máximo que pudermos.
É lógico que cada uma de nós tem ou está tendo uma experiência diferente. Há meninas que logo engravidam, ou que esperam um tempo maior (como eu), há mães que vêm de um casamento anterior com filhos e decidem reconstruir sua vida num outro país. Cada qual com a sua bagagem. O que importa é que nunca percamos esse brilho e a energia que nos move.
1 Comentário
Acho q qdo a gente mora fora, volta e meia passamos por essa fase turista de novo. E isso eh mto importante p apreciar ainda mais nossa escolha.