Morar fora é aprender a arte dos reencontros e despedidas
Desde que me entendo por gente, nunca fui o tipo de pessoa que fazia ou recebia longas visitas ou dormia na casa das pessoas. O meu conceito de férias sempre foi viajar duas ou três semanas para um lugar novo, onde não conhecia ninguém.
Mas meu conceito de férias, visitas e viagens mudou bastante. Em menos de dois anos em terras espanholas, felizmente já recebemos muitas visitas. Amigos e familiares já passaram por aqui e alguns até voltaram. Umas visitas são breves, apenas para um almoço, e outras duram algumas semanas. E também nos tornamos visitantes de férias no Brasil.
Quando moramos no lugar de sempre, perto dos amigos e familiares, todos estão potencialmente à disposição. Isso não quer dizer que os vejamos com frequência. Podemos, na verdade, passar anos sem encontrá-los. Já quando estamos longe, há uma grande comoção, pois essa disponibilidade não é tão simples assim.
Isso me fez refletir: como aproveitamos o tempo com as pessoas queridas quando estamos próximos? A minha vida em São Paulo era muito corrida, com muito trabalho. Eu não tinha filhos e via minha família próxima (pais, sogros, irmãos e cunhados) no máximo uma vez por semana. Hoje passamos meses sem nos ver, mas, quando nos encontramos, vivemos o momento intensamente.
Recebendo visitas na Espanha
Já quando moramos fora, as visitas são sempre aguardadas com bastante ansiedade. É tempo de checar a previsão do tempo, preparar a casa, planejar passeios, viagens, o que teremos de comida e quais experiências culturais poderemos proporcionar. Mas o mais importante de tudo isso tem sido a possibilidade de o meu filho conviver intensamente com os avós, primos e tios. Ir buscar a visita no aeroporto é uma parte deliciosa. A empolgação do reencontro é sempre um momento de muito alegria.
Das experiências que tivemos até agora, com a possibilidade de ter os avós paternos e maternos aqui por algumas semanas, posso afirmar com segurança que os dias foram sempre muito bem aproveitados. Além das viagens, passeios, descobertas, de acordar e fazer as refeições todos juntos, certamente o vínculo neto-avós foi fortalecido. Foram estabelecidas rotinas de levar ao parquinho e à escola, dar banho, contar história, colocar para dormir. Rotinas diárias que não existiriam se estivéssemos no Brasil. Pelo menos, não de uma forma tão intensa.
Se por um lado perdemos a convivência, por outro, felizmente, temos esses dias de visita que podem ser comparados a vários “almoços de domingo na casa da vovó”. Além disso, temos uma pequena amostra do que é ter uma rede de apoio. É um momento que dá para olhar com mais atenção um quadro no museu ou comer tranquilamente, sem ter que ficar de olho no bebê o tempo todo. Ou até mesmo poder ir ao cinema ou jantar com o marido.
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Mas, passados esses dias, levar a visita ao aeroporto para o embarque de partida é a parte mais dura. A sensação é de um vazio imenso e de que quem vai sempre leva uma parte de mim. Na última visita, fomos todos ao aeroporto. Para nossa (triste) surpresa, quando meu filho viu os avós e o primo se afastando, começou a chorar copiosamente. Com apenas dois anos ele não entendia toda a situação, mas compreendeu que naquele momento estava perdendo alguma coisa.
Sempre seremos expostos a reencontros e despedidas. E acredito que as despedidas sempre serão dolorosas. Vão sempre trazer à tona a dúvida: estamos fazendo a coisa certa?
Férias no Brasil
Visitar o Brasil ainda me traz a sensação de pertencimento. Sei que faz pouco tempo que estou fora, mas quando chego parece que nunca saí, apesar de respirar nostalgia e da sensação de estar num túnel do tempo, repassando várias fases da minha vida.
As férias no Brasil exigem algum planejamento. O ponto inicial é que se trata de uma viagem cara, ainda mais quando coincide com o período de festas. Além disso, apesar de ser período de férias no Brasil, na Espanha há apenas uma pausa entre Natal e Dia de Reis. Por aqui, férias mesmo só em julho-agosto. Quando a criança é pequena fica mais fácil conciliar, porém, quando cresce, as obrigações escolares acabam ditando os dias exatos para viajar.
A viagem em si também é bastante cansativa. Crianças até 2 anos viajam no colo e são várias questões para administrar: comida, excitação, incômodo aos demais passageiros, sono. Mas acho que isso é tema para um texto próprio. Por aqui vale a regra de tornar a jornada o mais confortável para a criança, levando a comida que ela está acostumada, brinquedos, algum desenho no celular. É preciso paciência e amor.
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Acho que o que mais marca as férias no Brasil é a correria. É a vontade de estar com todos, comer tudo que estava com vontade, rever lugares. É tempo também de resolver pepinos, como renovar documentos ou alguma questão burocrática pendente. Haja tempo para tudo! Infelizmente não há. Pelo menos nunca consegui estar com todos que tinha vontade ou comer todos os pastéis e coxinhas. Descansar? Também ainda não consegui.
Mas consegui que meu filho pudesse se esbaldar com os primos, avós e tios. O que trago de melhor da minha última viagem ao Brasil é isso: uma criança exalando alegria, entrosada com todos, com a comida e com o clima. Isso tudo mesmo saindo de 5 para 35 graus.
4 Comentários
Oi Thaís, morocem SP com meu marido e dois filhos, tiramos a minha cidadania italiana e das crianças em dezembro do ano passado e hj me vejo em dúvida de ir ou não embora…. sempre foi um sonho nosso, meu marido ficou desempregado nesse meio tempo e hj está “decidido” a ir embora, porém optou pela Inglaterra e com isso temos q ir até março desse ano por conta do brexit…. bateu a dúvida, vou ou não vou???? Olho p minha casa, p a educação dos meus filhos aqui e fico insegura de tomar essa decisão, não é fácil!!!!! Gostaria de ouvir um pouco vc sobre o assunto
Olá, Milena. Eu te respondi em privado. Um beijo, Thaís
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