Se você está pensando em se mudar para o Reino Unido é muito importante saber como agir caso seus filhos fiquem doentes. Por isso gostaria de compartilhar minha experiência como mãe no sistema médico da Inglaterra.
Quando me mudei do Brasil pra cá, em 2007, trouxe comigo o telefone do pediatra da minha filha, pois a gente nunca sabe quando vai precisar. Ok, não foi super necessário, mas ajudou. Cheguei a ligar pra ele quando tinha dúvidas de certas coisas que não sabia exatamente a quem perguntar. Se tivesse mudado sabendo o que sei hoje, isso seria irrelevante.
O papel do farmacêutico
Aqui, quando se tem um resfriado ou uma dor de garganta, a primeira pessoa que você deve procurar caso queira algum remédio, é o farmacêutico. Eles são super respeitados. No meu caso, por exemplo, um dia minha filha acordou com os olhinhos cheios de remela, tipo uma conjuntivite. Fui com ela até a farmácia e depois de uma conversa com o farmacêutico, ele nos passou um colírio e pronto, assunto resolvido.
O Clinico geral
Se fosse algo mais sério, que precisasse de um medicamento que ele não pudesse vender sem receita médica, teríamos que ir a “surgery”. Ao chegar a Inglaterra, uma das primeiras coisas que você deve fazer é se registrar numa surgery do bairro. Essa surgery em geral tem vários médicos que chamamos de GP (General Practitioners), que são clínicos gerais, e enfermeiras também. Se você está com uma tosse que não vai embora, está com uma dor incômoda ou uma azia que não passa, é hora de marcar consulta com o seu GP.
Infelizmente, nem sempre é fácil conseguir uma consulta rapidamente, isso varia de surgery para surgery. Eu já passei por três e cada uma tinha um ritmo diferente. Mas uma coisa que todas têm em comum é o cuidado especial com crianças. Se seu filho precisa ver o GP naquele dia, em geral consegue. Na pior das hipóteses, o GP te liga, você explica o que ele está sentindo e caso haja necessidade, o médico irá vê-lo no mesmo dia. Isso nunca falhou comigo.
Disque 111
Uma outra coisa muito boa é o disque 111. Esse é um telefone do NHS (National Health Service – Sistema de Saúde Nacional, para mais informações, clique aqui), designado para não emergências e que funciona 24 horas. Outro dia, por exemplo, fui acordar minha filha às sete da manhã e ela estava super jogada, com enjôo, sem energia para nada e febre. Como não tinha motivo aparente para o que ela estava relatando, liguei para o 111. Uma profissional de saúde atendeu e fez uma série de perguntas. Disse que nos ligaria em seguida e assim o fez, só que desta vez era outra pessoa na linha, já totalmente informada sobre o que minha filha tinha.
Leia também: Sistema de saúde no Reino Unido: públco ou privado?
Como a Rafa já tem 14 anos, a profissional pediu para falar diretamente com ela e depois de cerca de cinco minutos de conversa, me informou que ia entrar em contato com a nossa surgery assim que abrisse, pois queriam descartar a possibilidade de diabetes. Também me informaram que a surgery me ligaria assim que possível. Às nove e meia eu já havia recebido a ligação informando o horário da consulta para aquela manhã mesmo. Em poucas horas o resultado do exame já voltou negativo e fiquei feliz que não era nada grave, provavelmente apenas um mal estar.
Health check para adolescentes
Uma experiência nova que passei recentemente com a minha filha aqui foi o health check para adolescentes – um check up específico para essa idade. Recebi uma carta da surgery dizendo que deveria marcar uma consulta com uma enfermeira para conversar com a Rafa sobre a saúde geral dela e dar conselhos pertinentes a idade. Consulta marcada e lá fomos nós. A enfermeira checou sua pressão, seu peso e sua altura. Depois conversou sobre alimentação saudável, atividades físicas, etc. Isso tudo trocando idéia e não no estilo palestra.
O mais legal foi que conversaram sobre iniciação sexual, cigarro, drogas, álcool, acne, entre outras coisas. Tudo muito claro e interessante. A enfermeira pergunta ao adolescente se prefere conversar na presença do pai/mãe ou não – qualquer opção é respeitada. Por fim, a enfermeira deixa claro para o adolescente que quando ele quiser e se precisar falar ou tirar dúvidas sobre qualquer assunto conversado, sempre é possível marcar um horário com ela. Serviço excelente.
Na hora de ir para o hospital
Agora é a hora de explicar um pouco da minha experiência com criança em hospital. Importante dizer que aqui, hospital é realmente para emergências e acidentes. Se você resolver ir até o A&E (literalmente acidentes & emergências) por causa de uma queimação no estômago, é bem provável que você espere umas quatro horas para ser atendido.
Dia 12 de junho de 2014, abertura da Copa do Mundo no Brasil. Jogaríamos contra a Croácia. Combinei com vários amigos de assistirmos a esse jogo num pub perto de casa que também tem um parque bem próximo, ou seja, se as crianças quisessem, poderiam ir brincar lá. Quando a cerimônia do início do jogo começou, com os hinos nacionais, a amiga da minha filha entrou correndo no pub dizendo que a Rafa tinha caído e estava com muita dor no braço. Corri como uma louca e encontrei a Rafa caminhando com uma senhora, chorando e segurando o braço com muito cuidado. Eu nunca quebrei um osso na vida e não era óbvio (a não ser pela dor) pra mim que seu braço tivesse quebrado, mas assim que entramos no pub e uma amiga que é enfermeira viu o estado dela, nos mandou pro A&E imediatamente.
Chegamos lá, as duas vestidas de verde e amarelo dos pés a cabeça, e imediatamente fomos encaminhadas para uma sala onde ofereceram aquele gás hilariante para acalmar a dor. Em alguns minutos a Rafa já estava mais calma (e até um pouco tralalá!) e todos os procedimentos necessários para checar seu braço começaram. O raio X mostrou que era uma fratura mas nada complicado. Nos informaram sobre tudo que era necessário desde a troca do gesso em alguns dias até os medicamentos para dor. Atendimento excelente.
Recapitulando, uma coisinha mais à toa como um resfriado, o primeiro lugar que deve-se ir é a farmácia. Se você realmente precisa ver um médico, ligue para a sua surgery e marque uma consulta. Se for algo que está te preocupando e que talvez possa ser resolvido por telefone, ligue para o serviço de não emergência 111. Se for emergência vá imediatamente ao hospital.
Uma última informação importante que eu demorei para descobrir é sobre o EHIC (The European Health Insurance Card). Esse cartão é gratuito e te dá direito a assistência médica provida pelo estado durante sua estadia num país da comunidade européia e Suíça. O tratamento é fornecido no mesmo padrão que é dado ao cidadão daquele país, ou seja, a um preço reduzido e algumas vezes, grátis. Para poder solicitá-lo, você deve ter passaporte europeu ou ser cidadão da Islândia, Liechtenstein, Noruega ou Suíça e ter um número de seguro social no respectivo país.
Espero que ninguém precise usar nenhum desses serviços, mas sempre é bom saber, afinal informação nunca é demais!
6 Comentários
[…] Leia também: Minha experiência como mãe no sistema médico da Inglaterra […]
[…] Leia também: Minha experiência como mãe no sistema médico da Inglaterra […]
[…] Leia também Minha Experiência como mãe no sistema médico da Inglaterra […]
[…] Se quiser conhecer mais sobre o serviço público inglês, leia aqui e aqui. […]
[…] Quer saber mais sobre o sistema de saúde britânico? Clique aqui. […]
[…] Leia também: Minha experiência como mãe no sistema médico da Inglaterra […]