Maternidade e o retorno ao mercado do trabalho – Parte 2
Em agosto de 2017, nos transferimos para Rotterdam, Holanda. Miguel estava com 6 meses , Valentina com 5 anos e eu com 97! Brincadeiras a parte, é que novamente, vivíamos aquela situação de recém- chegados, só que agora recomeçávamos com duas crianças pequenas.
Então imaginem um apartamento de dois quartos, tomado por caixas e mais caixas, tarefas domésticas que se acumulavam, Valentina que se queixava todos os dias da nova escola : “mamãe, eu não entendo nada do que a professora fala na escola!” Escola internacional = aulas em inglês. Na época, ela falava italiano e um português sofrível. Miguel estava em tempo integral comigo. Some a isso tudo, as tarefas de cunho burocrático: Inscrições na prefeitura, no pediatra, no médico de família, nos consulados, etc. Ou seja, por um bom tempo meus dias foram dedicados a esse momento de colocar a casa para funcionar e na adaptaçao dos meus filhos àquela nova realidade.
E vocês devem estar se perguntando: “Onde entra tudo isso com a volta ao mercado de trabalho com o segundo filho?” Voilà! eu precisei deixar meu plano de voltar (de novo!) ao mercado de trabalho em espera, até colocar tudo nos trilhos.
Depois que tudo estava orquestrado e funcionando, eu só quis sentar no sofá nas poucas horas que sobravam para mim, tomar meu cafezinho e assistir séries no Netflix.
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Um tempinho depois, conheci um grupo de expatriadas brasileiras que deu liga rapidinho, muitas haviam chegado no mesmo período e nos ajudávamos muito! nos encontrávamos com frequência. Naquele momento, era isso que eu queria: encontrá-las, conversar, tomar café e caipirinhas, dar boas risadas do nosso-dia a dia, chorar de saudades da nossa terra e ver nossos filhos brincarem juntos, se divertirem e se sentirem novamente seguros e confiantes naquela nova realidade.
Passados meses, quis novamente voltar a trabalhar fora. Contudo, me sentia perdida, sem saber por onde começar. E uma amiga sugeriu uma ONG que oferecia sessões de Life Coaching ( “conselhos” para se alcançar desenvolvimento pessoal e profissional) gratuitas para mulheres expatriadas. Marquei minha primeira sessão e foi maravilhoso, pois no decorrer das quatro sessões, pude rever meu currículo e minhas experiencias, refletir o que é que eu queria fazer a partir dali, entender que poderia me reinventar se quisesse, que poderia mudar de rumo se fosse o caso, e que estaria tudo certo em querer trabalhar parte do tempo. Essa escolha não faria de mim uma mulher com pouca “ambição profissional”, como se diz cafonamente por aí.
Eu queria trabalhar fora, porém dessa vez queria também ter mais tempo com meus pequenos. Não queria trabalhar o dia inteiro como antes. E ao final das sessões, reescrevi meu novo currículo e me senti mais dona do meu desejo.
Nova mudança
Algum tempo depois, chegou a confirmação que mudaríamos para Singapura, dessa vez em caráter provisório, pois meu marido continua na mesma empresa, foi designado para trabalhar nesse projeto, e, uma vez concluído, retornaremos a Rotterdam.
Em Singapura, tudo foi mais tranquilo, pois a empresa organizou praticamente tudo: casa, escola e transporte escolar, a medonha e vagarosa parte burocrática ficou por conta deles também. Ah! E sem caixas dessa vez. Os móveis ficaram em um depósito em Rotterdam.
Outro aspecto positivo deu-se ao fato do inglês ser a língua oficial, assim adaptação na escola para Valentina foi rápida e menos dolorosa. Miguel frequenta uma escolinha. E a grande novidade dessa mudança é que aqui eu conto com uma pessoa que me ajuda e MUITO com as crianças e com as tarefas da casa.
Há 3 meses, comecei a trabalhar meio período e tem me feito muito bem! Devo confessar que, no início, ficava toda hora olhando o celular para ver se havia alguma chamada perdida de casa ou da escola. Juro que estou melhor agora. Ou seja, dessa vez, a volta ao trabalho fora de casa, tem sido menos corrida e menos estressante, pois tenho tempo para estar com meus filhos, para estar comigo mesma, e com o meu marido.
Sei que quando voltarmos para Rotterdam essa realidade de ter alguém que nos ajude em casa e com os pequenos, transporte escolar que leva e traz a Valentina para casa, entre outras facilidades, não teremos. Apesar de não se tê-las, continuo a gostar da vida na Holanda e sinto falta de muitas coisas de lá, e óbvio, sinto saudades das minhas amigas. Além disso, posso dizer que viver ali me mostrou que eu dou conta do recado, sei me virar, e que está tudo ok se no final do dia eu tiver esquecido de tirar a roupa da máquina de lavar.
Enquanto esse retorno não chega, vivo essa experiência em Singapura da melhor forma possível, apesar dos dias difíceis que todos temos em qualquer parte do mundo. Sou muito grata em poder trabalhar, curtir meus filhos, aproveitar a possibilidade de poder passar mais tempo só com meu marido, poder viajar para lugares que eu nunca imaginei que um dia conheceria e fazer novas amizades (conheci pessoas muito especiais! ).
Acompanhe a parte 1 desse relato aqui: Maternidade e o retorno ao mercado do trabalho – Parte 1