Maternidade e mestrado: como ser mãe me ajudou a concluir o meu maior desafio nos EUA
Assim que fiquei grávida e comecei a consumir bastante conteúdo sobre maternidade, uma das mensagens que parecia ser constante em muitos dos textos e vídeos que vi era: não tente ser a mulher maravilha! Eu já tinha me deparado com alertas parecidos quando estava cursando jornalismo no Brasil e tentava ser mil e uma utilidades. Queria fazer de tudo um pouco, o tempo todo, e ser bem-sucedida em todos os aspectos da minha vida. Apesar de saber que aquela série de cobranças excessivas não era saudável, eu continuava com a minha sede por novos desafios.
Em 2013, eu completaria meu terceiro ano como funcionária pública. A estabilidade, que parecia ser meu sonho como recém-formada, não me empolgava. Eu queria mais, queria me jogar em uma aventura. Em questão de poucos meses, fiz provas como o TOEFL e o GRE, organizei toda a papelada, e, com muito euforia, recebi a notícia de que fui aceita em um programa de mestrado nos Estados Unidos. Tudo se concretizou num piscar de olhos.
Comecei os estudos em setembro, com a expectativa de me formar em abril de 2015. Doce ilusão! Para me formar, eu precisava escrever a tese em inglês, defendê-la diante de professores bem exigentes, e eu não me sentia apta a realizar aquilo com perfeição. Aquilo me aterrorizava tanto que fiquei paralisada. Não queria falhar, então não queria me arriscar e me expor numa situação em que duvidava que seria bem-sucedida. Além disso, eu me casei logo um ano depois que cheguei aos EUA. Como recebi minha permissão de trabalho, meu foco passou a ser a minha vida profissional aqui. Arrumei meu primeiro trabalho em tempo integral freelance que somavam 50 horas de jornada por semana. Estava tão ocupada que foi fácil colocar a tese de lado.
Leia também Carreira profissional x Ser mãe em tempo integral
Em 2016, fiquei grávida. Em agosto de 2017, nossa filhinha nasceu. Foi a maior emoção que já senti até hoje na vida. E adivinha? Durante todo esse processo, a tese ficou pendente. Era um fantasma na minha consciência, que eu fazia questão de esquecer para me dedicar ao meu trabalho e a minha família. Como não tinha mais aulas no mestrado, eu não sentia a pressão de terminar. Mas o tempo não parou. Se eu não concluísse o mestrado até dezembro de 2018, já era. Eu seria jubilada.
Enquanto nada me fez mais cansada até hoje do que acompanhar a rotina da minha filha recém-nascida, a vontade de passar mais tempo com ela sem aquela sombra na minha consciência foi a minha maior motivação para cumprir o propósito que me trouxe até os Estados Unidos. Havia passado exatamente quatro anos desde que havia iniciado o mestrado. Eu tinha um pouco mais de um ano para escrever e defender a minha tese. Pensei em jogar tudo para o alto? Sim. Mas desistir não era uma opção. Afinal, o mestrado não era um projeto só meu. Meus pais se sacrificaram para que eu realizasse meu plano maluco. Era uma questão de honra, de terminar aquilo que eu tinha começado. E eu pensava: “Que exemplo quero ser para os meus filhos?” Com certeza, quero ser um exemplo de mulher que sonha, vai atrás e realiza.
Achei tempo onde eu achava que não tinha e, pela primeira vez em anos, a pesquisa se tornou uma prioridade. Foi um verdadeiro malabarismo para gerenciar tudo: os cuidados com a minha filha, trabalho em tempo integral, casamento, afazeres domésticos, análise de dados, redação da tese… Não foi fácil. Chorei muito, fiquei exausta. Mas finalmente aprendi a dizer não para as pessoas. Aprendi a equilibrar minha vida e aceitar que a minha meta deveria ser progredir sempre, no meu ritmo, dentro da minha possibilidade, e não buscar por perfeição que me limita, distrai e paralisa.
Veja ainda Uma experiência de mestrado em Londres
Hoje vejo que foi a maternidade que me ajudou a enxergar a situação de um jeito diferente. Eu não estava mais me cobrando a ser perfeita em todos os aspectos da minha vida. Minha prioridade agora era minha filha. Isso significava me arriscar e me tirar da zona do conforto. No peito, o coração muito apertado e arrependido por não ter me esforçado para concluir o mestrado antes, mas cheio de esperança pelo dia em que o tempo livre seria meu novamente, para passear em família e curtir plenamente a companhia da minha bebê.
Depois de um pouco mais de ano trabalhando arduamente na minha pesquisa, defendi minha tese diante da tão temida banca, completei todos requisitos e fui aprovada! Ao escrever esse texto, consigo sentir o mesmo alívio que senti quando percebi que eu finalmente estava livre para curtir plenamente a maternidade. Ainda trabalho fora cerca de 40 horas por semana, mas minhas noites e finais de semana são nossos novamente.
Quando penso nessa experiência, fica claro para mim que, como mulheres, não precisamos nos espelhar em uma mulher maravilha que só existe nos gibis, capaz de realizar tudo ao mesmo tempo com perfeição para salvar a humanidade. No meu caso, a maternidade me ajudou a enxergar a vida de uma forma mais simples e me fez mais forte para lidar com as coisas que costumavam me paralisar. Virar mãe é um exercício de autoconhecimento, que, curiosamente, começa por amar o outro de forma inexplicável. Não sou mulher maravilha, mas sou mãe.
1 Comentário
Linda minha sobrinha !! Faz meu coração transbordar de orgulho. Amo vocês família linda!!