Em 2013, a Unicef divulgou um relatório (versão em inglês aqui) que parecia responder ao grande anseio de mães e pais do mundo inteiro: como garantir a felicidade dos nossos filhos? Bom, na verdade não era bem isso. O levantamento comparava o nível de bem-estar das crianças em nações ricas e desenvolvidas. E revelou que, dos 29 países analisados, a Holanda oferece as melhores condições de vida na infância. Assim, a ‘Terra dos Moinhos” virou sinônimo de paraíso infantil – o país das crianças mais felizes do mundo!
Mas, afinal, o que faz da Holanda esse lugar tão especial? Qual o seu segredo? Como eles descobriram a fórmula mágica da felicidade?
Bom, eu poderia dizer que o fato de comerem pão com granulado de chocolate (chamado aqui de Hagelslag) no café da manhã tem muito a ver com isso. Mas a pesquisa Best Countries do US News & World Report, que colocou a Holanda no ranking 2017 de melhores países do mundo para se criar os filhos (veja a lista completa aqui), pode nos dar o caminho das pedras.
Os melhores países para as crianças se desenvolverem são também os que investem na redução das disparidades sociais, os que mais protegem os direitos humanos e a igualdade de gêneros, os que têm como prioridade a segurança e o desenvolvimento de um bom sistema de educação pública e de saúde, os que se preocupam em criar um ambiente de bem-estar e felicidade para a família em geral. E isso os holandeses têm feito como poucos.
A partir de hoje, farei uma série de textos onde vou tentar desvendar o mistério e dar a receita que os holandeses descobriram para criar as crianças mais felizes do mundo. E vamos começar pelo básico: na Holanda, a criança pode e deve brincar.
Brinquedos e parques por todos os lados

A diversão é gratuita e para todos os estilos no Kralingse Bos, o maior parque de Rotterdam. (Arquivo pessoal)
No momento em que pus os pés em Rotterdam, a segunda maior cidade dos Países Baixos com cerca de 600 mil habitantes, o que mais me impressionou foi como a cidade estava organizada para favorecer a reunião familiar e proporcionar diversão e atividades para as crianças. São mais de vinte parques públicos e áreas verdes à beira dos canais. Em todos eles, há sempre espaços pensados e dedicados exclusivamente às crianças, com brinquedos diferentes e criativos que estimulam o lado aventureiro e incentivam a brincadeira em grupo, a atividade física ao ar livre e o contato com a areia, a grama, a água, a natureza e os animais.
A cada quatro ou cinco ruas de Rotterdam você se depara com conjuntos de brinquedos abertos que lembram as nossas pracinhas. Isso sem falar nas muitas escolas que têm suas áreas de recreio (o playground) abertas à população fora do horário de aula, inclusive nos finais de semana. Espaços públicos, gratuitos, bem conservados e seguros.
Em cada bairro da cidade existe também pelo menos um Speeltuin (jardim de brincar) ou Speelcentrum (centro de recreação), parques infantis cercados com brinquedos, tirolesas, paredes de escalada, gangorras, balanços, escorregas gigantes, quadras, pistas de patins, fontes de água, fazendinhas, atividades guiadas, espaço fechado para os dias frios com clubes do livro, workshops, brechós… São cerca de 60 em toda cidade (veja uma lista aqui)! A grande maioria é gratuito, alguns pedem uma contribuição de 50 centavos.
O maior parque da cidade é o Kralingse Bos, eleito por diversas vezes como o melhor espaço público da Holanda. Com 2 milhões de metros quadrados, o equivalente a 400 campos de futebol, o Kralingse Bos fica em torno de uma enorme lagoa – Kralingse Plas – que durante o verão se transforma em praia (do lado oeste) com direito a caiaque, barcos à vela, stand up paddle, escorrega na água e piquenique. O parque tem também uma piscina infantil, fazendinha aberta e gratuita para as crianças alimentarem e fazerem carinho nos animais, parque com cervos, brinquedos em vários pontos ao redor do lago, dois moinhos ainda em atividade, um parque radical (Fun Forest Klimparken) com atividades pagas para crianças a partir de oito anos e ciclovia em toda a sua extensão. Com muito verde, o lugar é um sonho para crianças e adultos.
Opções pagas de lazer infantil

No Plaswijck Park, as opções vão desde fazendinha a parquinho fechado. (Arquivo pessoal)
Na categoria parques pagos, o nosso preferido é o Plaswijck Park (site em holandês, acione o tradutor), que podemos tranquilamente chamar de Cidade das Crianças. O Plaswijck é uma mistura de minizoo, fazendinha, jardim, parque de diversões e parque aquático. Ali, muitos animais ficam soltos e as crianças andam no meio de ovelhas, cervos, bezerros, coelhos e galinhas. Com duas lagoas, é possível andar de pedalinho, canoa, caiaque e descer no toboágua. Tem piscina com brinquedos para os dias quentes, tirolesa, carrossel, trenzinho que percorre todo parque, brinquedos divididos por faixas etárias, jardins com chafariz e percurso com obstáculos na lama.
Em um grande espaço no centro do parque há uma minicidade com carrinhos para as crianças pedalarem respeitando as faixas de pedestres e semáforos, parando no posto de gasolina e drive-thru. E a cada final de semana, o parque promove eventos, teatrinhos, oficinas… Não esquecendo do incrível espaço coberto e aquecido com brinquedos, labirintos, camas elásticas, tiro ao alvo, lego gigante e pista de patins “no gelo” para os dias frios. A entrada custa 12,25 euros, mas com o Rotterdam Pass * a primeira vez é gratuita e você pode fazer o passe anual do Plaswijck pela metade do preço (o valor cheio é 54 euros). A entrada de cães na coleira é permitida.
Leia também: Cidades que são amigas das crianças
O Zoológico de Rotterdam é outra boa opção de lazer infantil. Além dos animais incrivelmente bem cuidados em ambientes enormes, o Diergaarde Blijdorp tem um lindo parquinho aberto, com torres e escorregas gigantes, assim como um espaço interno para os pequenos se divertirem nos dias de chuva e frio. O zoo possui um cartão anual de abonamento e a primeira entrada tem desconto para quem possui o Rotterdam Pass.
Espaço que é unanimidade entre pais e filhos, o terraço do Museu Marítimo tem um ótimo parquinho fechado que mistura aprendizado e diversão. Lá, as crianças podem até simular operações portuárias, descarregando containers de navios. Nos dias de calor, do lado de fora do museu, atracados no porto, vários barcos estão abertos à visitação e os pequenos podem dirigir suas próprias lanchas. Crianças de 4 a 9 anos e estudantes pagam 9 euros; adultos, 12,50. A entrada é gratuita para quem tem o Rotterdam Pass.

Os “Kinderparadijs” garantem a alegria da criançada nos dias frios. (Arquivo pessoal)
Em Rotterdam e arredores há ainda uma infinidade de opções de entretenimento infantil em lugares fechados e aquecidos. Bem equipados com pula-pula, camas elásticas, piscinas de bolas e muitos brinquedos, eles são a opção perfeita para as crianças gastarem energia e os adultos ficarem tranquilos quando a temperatura está abaixo de zero, nevando ou chovendo. Não à toa, são chamados de Kinderparadijs (paraíso das crianças) ou Spellparadijs (paraíso para brincar). Aqui você encontra uma lista deles (site em holandês onde você pode refinar a busca por idade, aberto ou fechado, pago ou gratuito). O valor da entrada varia de 3 a 8 euros, dependendo do lugar, e vale para o dia todo. Muitos aceitam Rotterdam Pass, fazem promoções em sites de compra coletiva e têm preços reduzidos por idade ou horário em que a criança entre.
Brincar – um direito universal
Essa preocupação em deixar a criança ser criança, brincar e explorar o mundo com liberdade e lirismo, criando autonomia e independência, faz parte da cultura holandesa. As escolas são assim – não há pressa em fazer as crianças lerem com quatro anos de idade, todas as quarta-feiras elas saem mais cedo para terem tempo livre para brincar e estar com a família, há sempre muitas atividades ao ar livre e dois recreios por dia! Os pais fazem questão de garantir que seus filhos estão brincando no ensino infantil e não “sendo forçados” a aprender operações matemáticas e letra cursiva.
O aprendizado nessa etapa é social, orgânico e humano – com quatro anos as crianças se vestem sozinhas, brincam na chuva, vão ao museu, aprendem a dividir e a manifestar suas vontades, são ouvidas na hora de decidir algo para a turma ou a escola, vão ao banheiro por conta própria e muitas já guiam suas próprias bicicletas pelas ciclovias e ciclofaixas no caminho para a escola (e nada de rodinhas!).
Crianças autônomas, seguras de si, independentes, com liberdade para serem crianças. Tá aí um dos segredos para a felicidade dos pequenos nórdicos.
(* Rotterdam Pass – exclusivo para moradores de Rotterdam e adjacências, o cartão dá descontos em várias atrações, museus, parques e cinemas até cafeterias e lojas.)
13 Comentários
Belo post!
Muito obrigada!!
Parabéns pelo texto. Sensível e informativo. Muito bom saber desta preocupação com as crianças e lazer para as famílias.
Isto é a educação completa do ser humano!
Começando seu desenvolvimento de maneira lúdica, consegue-se atingir os objetivos de forma completa e divertida!
Parabéns pelo texto Carol!
[…] tentar desvendar o segredo da felicidade das crianças holandesas. No meu primeiro texto (leia aqui), falei sobre o direito básico de todos os pequenos, que por aqui não é simplesmente respeitado […]
[…] Holanda para Menores: o segredo das crianças mais felizes do mundo, leia o primeiro capítulo aqui , onde eu conto sobre a liberdade e o direito de brincar dos pequenos […]
Sempre amei Holanda, pelas papolas e pelos moinhos; agora pela vida e pela educação. Reconhecendo que é possível viver com dignidade e criando filhos em liberdade, recomendarei às minhas filhas.
Oi, Lúcia! Além de linda, aqui é um lugar excelente para se criar filhos, realmente. Claro, nenhum lugar é perfeito e há quem diga que não existe lugar como o nosso país. Mas quando temos filhos, colocamos tantas coisas na balança… e a liberdade, tranquilidade e respeito à infância e à família que eu vejo aqui me fazem dizer com tranquilidade que a Holanda é incrível nesse sentido. Um beijo e feliz natal!!
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