Fim de uma vida expatriada?
Bom, que eu já sabia que casar com um estrangeiro seria assim: muitas idas e vindas. Sim, eu sabia! O fato de ele ter um trabalho expatriado só aumentaria essas idas e vindas. Sim, eu sabia! Mas o que eu não sabia era como seria essa vida com as crianças. Quando não se tem filhos tudo são flores, viagens, descobertas. Festa! Mas quando os pequenos estão na área, as preocupações, as dificuldades e as dúvidas aparecem. E a pergunta que se faz é: até quando dá para viver essa vida expatriada? De projeto em projeto, de escola em escola, de país em país… um turbilhão de mudanças.
No total, foram cinco anos expatriados. Vivemos na Bélgica, Holanda, Chile, Brasil e Peru. Parece pouco? Pode ser. Mas coloque entre cada mudança a fase de incertezas. Onde vai ser o próximo projeto? Vai ser perto de uma cidade com estrutura boa, escola, lazer? Qual será o próximo idioma a aprender? Será que consigo trabalhar também? E a fase de transição. Por quanto tempo vamos ficar? Será que as crianças vão se adaptar. Será que vão fazer amizades? Será? Será?
São tantas dúvidas que há cerca de quatro meses tomamos a decisão de voltar parcialmente para Bélgica. Em busca de uma vida mais estabilizada, sem tantas turbulências no caminho. Em busca do nosso cantinho, onde as crianças possam ter a referência da casa delas, do quarto delas, dos brinquedos delas… Mais perto de uma parte da família e onde as crianças possam ir para escola onde, provavelmente, estudarão até os 18 anos.
Parcialmente? Sim, porque meu marido continua a vida expatriada, trabalhando em projetos em diferentes países. Dessa vez está no Marrocos. Um pouco mais perto da Bélgica, com apenas 1 hora de fuso horário, mas ainda a 12 horas de viagem. E nos vemos a cada três semanas por quatro ou cinco dias. Difícil? Muito!
E surge aquela pergunta, como assim ex-expatriada? Mas você está morando na Bélgica… Tenho a sensação de continuar sendo uma expatriada aqui na Bélgica. Afinal, meu marido é belga, meus filhos são meio belgas e meio brasileiros, mas eu não. Continuo com as minhas raízes brasileiras, sentindo falta do pão de queijo, e a cada ligação da família dá aquele nó na garganta e vontade de chorar. Saudades… muitas saudades da minha terra!
Leia também A identidade de filhos multiculturais
Foi a melhor opção? Não sei. A distância é cruel. As crianças, apesar de falarem quase todos os dias com o pai pelo Skype/Facetime/Whatsapp, parecem estar mais nervosas, às vezes tristes. Mas, por outro lado, estão começando a criar raízes, fazer amizades, conhecer o país do pai. A referência de distância deles é a quantidade de aviões que precisam pegar para chegar a outro lugar. Já escutei: “Mamãe, quantos aviões temos que pegar pra visitar o papai?”. “E a vovó, no Brasil?”. “E o titio, em Boston?”. Quando escutei isso pela primeira vez comecei a rir e pensei: “Meu Deus, eu fui andar de avião pela primeira vez com 15 anos e a minha filha de 4 já viajou e morou em tantos países, que para ela andar de avião é igual a andar de carro. Como deve ficar isso tudo na cabecinha dela?”
Além da distância do pai, tem o peso da responsabilidade e o trabalho de cuidar das crianças sozinha. Sim, essa foi outra mudança brusca pra mim. Até então, em quase todos os países era acessível e comum ter alguém para ajudar com os serviços da casa e com as crianças. A volta para Bélgica, nesse sentido, não foi nada fácil. A tarefa de cuidar de duas crianças de 2 e 4 anos de idade, de segunda a segunda, das 7 às 20 horas, além de cuidar da casa, cozinhar, etc… parece um fardo sem fim.
Tem dias melhores, outros piores. Tem dias que choro, que quero colo! Mas tem outros que sento na frente do computador com uma taça de vinho e começo a escrever, ou a assistir um bom filme. E há dias também que contrato uma babá pra ficar com as crianças e saio com amigas que ainda tenho por aqui, da época da faculdade e do trabalho, para jogar conversa fora. Porque ninguém é de ferro!
E lá se vão três meses desde que chegamos na Bélgica. Recebemos a nossa mudança do Brasil, organizamos o nosso apartamento, criamos um ambiente o mais próximo que podemos chamar de “nossa casa”. Já fomos duas vezes passar férias e curtir a vida em família na casa do papai no Marrocos. Vamos seguindo e torcendo para ter tomado a melhor decisão para as nossas vidas. Mas a certeza mesmo de ter feito a escolha certa ou não, provavelmente só virá no futuro.
O que nos resta agora é agradecer todas as pessoas que participaram das nossas vidas nos últimos cinco pela amizade, aprendizados, bons momentos que passamos juntos. E esperar que possamos nos encontrar de novo um dia. Porque quando moramos fora, os amigos se tornam família e passam a ser chamados de tios pelas crianças. Os filhos dos amigos viram primos e assim vamos criando laços e ensinando nossos brasileirinhos bilíngues a importância da convivência social, dos amigos, da família. Um pouco dos nossos costumes brasileiros.
As incertezas continuam. Termino esse texto cheio de interrogações e dúvidas. Será só uma nova fase de transição? A vida expatriada chegou ao fim? Será que foi só um tempo para retomar o fôlego e estabilizar um pouco? Nunca temos respostas para todas as nossas perguntas, mas o importante é tomar uma decisão de cada vez, pensando no bem-estar da família.
6 Comentários
Querida Amiga! Lindo texto, dá pra perceber que foi escrito com muito sentimento. Tudo vai dar certo.
Essas dúvidas vão sempre nos acompanhar. A coisa que me consola é saber que estou seguindo o que o coração diz que é o certo a fazer no momento. Confiança sempre!!!
Vocês estão sabendo construir uma história muito bonita e a gente sente isso pelo amor que vocês passam através das fotos e textos, isso incentiva e com tantas dúvidas tenho certeza que o arrependimento não existirá!! Siga em frente, a saudade sempre fará parte da nossa caminhada seja qual rumo for!!
Parabéns Carol! Muita aventura pra um texto…mas essa é a vida que o destino lhe preparou, você está se saindo muito e ficamos aqui na torcida pra essa linda família aventureira. A saudade dói… vontade de abraçar, sentar pra jogar conversa fora, ver os sobrinhos crescendo pelo vídeo do smartphone. Abraço apertado! Amo você mana, até breve!
Muito legal sua reflexão, Carolina! Sou amiga de sua irmã, que gosto muito! Já estive no seu lugar alguns anos e resolvi voltar para nossa “pátria amada”. Mas com um marido estrangeiro, temos sempre essa sensação de expatriados, afinal a família e os laços que fortalecemos estão sempre divididos, sempre perto de uns e longe de muitos! Com uma família completamente globalizada , antes, muito antes de até mesmo existir esta expressão, sei bem o que é estar sempre longe, mesmo perto estamos longe de alguém! Mas somos nós mesmos os responsáveis por transformar o de quer que estejamos em lar, pois o lar é onde estabelecemos laços fortes, com família de sangue ou família comstruda! Tenho certeza disso, pois minha mãe, uma expatriada tbm, nunca mais voltou à seu país de origem, hoje considera o Brasil sua pátria! Depois de quase 50 anos, ela ainda fala com sotaque, nunca vai requebrar comk uma brasileira, mas tem mais amor e carinho pelo Brasil que tantos outros brasileiros! Construiu aqui o seu lar, descobriu e construiu uma nova família e ainda hoje tem avfanimja espalhada por muitas partes do mundo! Se isso foi possível para ela (e tantas outras pessoas), acho que é possível para qualquer um. Afinal, “a Terra é um só país e nós todos seus cidadãos”.
Que legal, Carol! Tenho uma historia muito parecida com a sua. De 2013 pra ca moramos na Arabia Saudita, depois em Dubai, depois na Russia, depois em Oma, e depois viemos descansar no Brasil. Mas semana que vem ja embarcamos para a Franca para tambem tentar um periodo de estabilidade no pais do meu marido. Tudo isso com 2 criancas a tira-colo… realmente nao e’facil! Tudo de bom pra voces!
[…] Uma das dúvidas que mais nos acometem como mães, quando o processo de imigração vai tomando forma é: “como meus filhos reagirão?” São tantas as dúvidas, tantos os medos, que confesso que derramei muitas lágrimas e coloquei muita culpa nas minhas costas, por mais que meu coração e cérebro me dissessem a toda hora que esta decisão era a certa a ser tomada. Se você está passando por um processo destes, acredite, não está só e não é maluca em ter tantos medos e insegurança. Aqui no Brasileirinhos pelo Mundo você irá encontrar muitos textos de mães expatriadas contando sobre os mesmos medos e inseguranças. Dentre estes textos, recomendo os da Guaciara Rhein Pereira (Angústias de uma Mãe Expatriada), da Ana Paula Ximenes (Sair ou não do Brasil?) e da Carolina Rodrigues (Fim de uma Vida Expatriada?). […]