Espiritualidade e expatriação da religião
Eu sempre tive uma conexão forte com a espiritualidade. Com 10 anos eu juntei minha mesada e comprei um tarô. Eu não só tinha cristais como também sabia energizá-los e programá-los. Meu quarto era lilás, tinha fadas, duendes, bruxas. Na minha casa ninguém entendia, mas aceitavam e respeitavam. Meus pais são católicos não praticantes e eu nunca tive uma formação religiosa.
Com 23 anos eu resolvi ir a um centro de umbanda sozinha. Não tinha ideia do que ia encontrar, mas parecia que meu coração estava me guiando. Quando pisei no terreiro, na primeira vez, incorporei minha cabloca Jaciara. Foi um misto de espanto e alegria, pois parecia que eu havia me encontrado. Depois, descobri algumas ancestrais que também seguiram esse caminho, como médium ou benzedeira.
Um desabafo: eu não falava sobre meu lado espiritual com ninguém por medo de julgamento e preconceito. Hoje, honro cada parte da minha história e do meu ser. Não me agrido mais tentado ser ou parecer quem eu não sou. Esse é o primeiro texto em que falo abertamente sobre a minha espiritualidade e estou muito orgulhosa.
Honro e respeito todas as religiões e formas de pensar. Meu marido é católico, tenho amigas espíritas kardecistas, católicas, evangélicas, espiritualizadas (sem nenhuma religião específica) e até mesmo algumas que não acreditam em Deus.
Acredito que somos unidos pelo amor
No entanto, a umbanda foi a religião com a qual mais me conectei até hoje. Frequentei o centro por mais de 10 anos até vir para a Califórnia (Estados Unidos).
Obviamente, quando cheguei procurei informações sobre centros de umbanda perto de mim, mas o mais próximo fica a quase duas horas de viagem. Confesso que fiquei desanimada e triste. Vida de expatriada que acabou de mudar não é fácil. Abdiquei de tantas coisas, família, emprego e até mesmo da minha religião.
Quando essa ficha caiu, doeu. Sentiria saudades não só da união e das pessoas no centro, mas também do batuque, da fumaça da defumação, dos cantos, da energia. Saudade da entrega e do meu trabalho de caridade que fazia com tanto amor e dedicação. Saudade da minha cultura, da minha raiz, do meu Brasil.”
Como cuido da minha espiritualidade?
Precisei repensar a forma de trabalhar a minha energia e seguir o meu propósito de servir de outra forma. Aos poucos, me voltei para a minha própria energia. Normalmente vamos para “fora” procurando nos energizar, mas nós também podemos gerar energia espiritual.
Vou listar aqui algumas práticas que faço e que me ajudam a gerar energia e a me conectar comigo e com o divino:
- Meditação. Pode ser de cinco minutos para você silenciar, acalmar a mente e estar presente.
- Música e dança. Qualquer ritmo ou estilo, desde que fale com sua alma.
- Natureza, passeios ao ar livre, contemplar, sentir, cuidar de plantas e cristais, usar óleos essenciais, ervas, incenso.
- Gratidão. Reconhecer o que já temos ao invés de só olharmos para o que falta.
- Conexão e presença nos relacionamentos. Quando conversar com alguém (família ou amigos), pare o que está fazendo, olhe nos olhos, escute atentamente.
- Respiração consciente é uma forma de conexão com o seu corpo, seu templo sagrado.
- Temos um canal direto com nossos guias, mentores, anjos e com o próprio criador e, para isso, não precisamos estar em um lugar específico. Basta silenciar a mente e abrir o coração.
Também sirvo meu propósito de ajudar as outras pessoas a se reconectarem com elas mesmas e ao que realmente importa para elas (se quiser saber mais, siga-me no Instagram).
Hoje vivo o período mais conectado e espiritualizado da minha vida, mesmo não frequentando nenhum lugar religioso. Atualmente a minha religião é o amor, mas a umbanda sempre terá um lugar no meu coração, assim como o Brasil.
Sobre a Umbanda
A Umbanda é uma religião brasileira, fundada no início do século XX no Rio de Janeiro.
É monoteísta (acredita em um Deus) e cristã (acredita em Jesus Cristo). Recebeu influência do Catolicismo, do Kardecismo, além do Candomblé africano e das crenças indígenas.
Seus adeptos acreditam na vida espiritual após a morte, na reencarnação e na lei do carma. A Umbanda não pratica sacrifício de animais e trata a natureza com respeito e conexão.
Curiosidades
- A Umbanda está mais enraizada em nossa sociedade do que pensamos: as tradições de vestir branco no Ano-Novo, pular sete ondas e depositar flores no mar têm muita ligação com essa religião.
- A palavra Umbanda significa “a arte de curar”.
- “Macumba” é o nome de um instrumento musical africano, mas que hoje também acaba nomeando os cultos (giras) ou as oferendas.
- Existe um sincretismo religioso entre os orixás e os santos católicos. Por exemplo, Ogum é São Jorge, Iansã é Santa Bárbara, Xangô é São João Batista.
- Usa-se branco por sua energia, pois o branco é o somatório de todas as cores e traz as propriedades terapêuticas de todas.
- Os cantos e o batuque são como mantras e servem para elevar a energia e conectar com as entidades.
Você também sentiu alguma diferença na sua religião ao se expatriar? Compartilhe sua experiência!
Com amor,
Talita Rouvier
*Algumas informações foram retiradas do site Giras de Umbanda
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