Emprego na Nova Zelândia
Um dos critérios mais usados para decidir sobre imigrar ou não, é a possibilidade de trabalhar. Ingenuamente, pensei que ter o visto seria garantia de um emprego.
Quando meu marido tirou licença do emprego no Brasil e conseguiu seu visto de trabalho neozelandês, fiquei exultante. Como sua esposa, automaticamente, eu ganhei um visto de trabalho “aberto” (não vinculado a uma empresa, como o dele). Uau, chegar no país já com visto de trabalho? Eu tinha certeza que conseguir meu primeiro emprego na Nova Zelândia seria muito fácil, mas, a realidade foi bem diferente.
Será que meu diploma tem validade fora do Brasil?
Eu sabia que não poderia ser farmacêutica ou bioquímica na Nova Zelândia, pois precisava validar meu diploma e uma das exigências era impossível para eu atender. Eu precisava comprovar experiência, especificamente na área, nos últimos anos, e desde 2002 eu não exercia a profissão. Conclusão: mesmo que eu estivesse disposta a pagar o alto valor do processo de validação, eu não poderia concretizá-la, pois não exerço a profissão há mais de dez anos.
Com uma pós-graduação em gestão e marketing, mais de dez anos de experiência em uma multinacional como executiva, eu tinha certeza de que arrumaria emprego fácil. Aliás, nunca passou pela minha cabeça a possibilidade de que eu não conseguiria emprego. E claro, caí do cavalo. Fiquei desempregada por seis meses quando imigramos. E meu primeiro emprego aqui, foi totalmente inesperado e algo que eu nunca tinha feito na vida!
A jornada para conseguir um emprego
Vocês não fazem ideia da quantidade de vagas que apliquei. Certamente foram mais de cem vagas. Aplicava online e ia buscar emprego ao vivo, na cara e na coragem. Aqui é comum lojas e restaurantes colocarem avisos nas vitrines, informando que há vagas disponíveis. Estive em várias lojas, desde Nespresso até lojas de departamento. Nunca fui chamada para uma entrevista sequer.
Cansada, resolvi buscar ajuda com uma coach de carreira local. Durante nosso primeiro encontro, ela me explicou algumas diferenças básicas entre o mercado de trabalho neozelandês e de outros países. Primeiro, eu não relatava nenhuma experiência de voluntariado, considerado essencial no mercado local. Outra dificuldade do meu CV era a longa experiência (treze anos) em uma multinacional, como executiva. A maioria das vagas em Wellington, onde moramos, é no governo ou empresas de tecnologia. Não há indústrias. Em Auckland, mais ao norte, o cenário é um pouco diferente, apesar da maioria das vagas também serem na área de TI.
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Por último, se eu retirasse minha experiência anterior, não sobrava nada. Meu CV ainda tinha outro problema, estava “hiper qualificado”. Com a minha formação e experiência, ela me explicou, eu nunca seria contratada para ser vendedora de loja.
Não desisti e deu certo!
Mesmo desanimada, depois de alguns meses, decidi que iria conseguir trabalho em qualquer área. Estava agoniada e o movimento do meu negócio de coaching, estava fraco devido à minha insistência em focar no mercado local, onde ninguém me conhecia. Hoje vejo claramente o que levei mais de seis meses para aprender: eu não havia planejado a minha transição profissional pós-imigração.
No primeiro dia de aula do Pedro, fomos juntos à escola. Pedi para falar com a diretora e expus meu problema. Perguntei se havia alguma vaga na limpeza da escola, ou recepção, etc. Depois de poucos minutos de conversa, concordamos que eu começaria no dia seguinte, como voluntária na escola.
De trabalho voluntário ao primeiro emprego
A posição era de “teacher aide” que é como uma professora assistente. Algumas vezes, a profissional fica na sala de aula, ajudando o professor a conduzir a turma. Em outros casos (como o meu), atua em um departamento da escola. Eu comecei no chamado ESOL que é responsável por dar suporte a alunos que não tem inglês como primeiro idioma, ou crianças com alguma deficiência de aprendizado. Assim, eu conheceria como funciona o sistema educacional neozelandês e caso abrisse alguma vaga, eu estaria apta a trabalhar. Como benefício secundário, a própria diretora me autorizou a colocar o contato dela no meu CV, aumentando as minhas chances de contratação.
Então, em fevereiro de 2017, comecei a trabalhar como voluntária na escola. Como eu já mencionei anteriormente, ter experiência com trabalho voluntário é algo essencial por aqui. Se você quiser saber mais sobre voluntariado na NZ, leia este texto.
Vinte dias depois, retornei ao Brasil, pois nossa mudança foi rápida e havia pendências para resolver. Alguns dias antes do meu retorno, recebi um e-mail informando que havia aberto uma vaga enquanto eu estava viajando. Então, se eu quisesse, ao retornar, a vaga estava à minha espera. Claro que aceitei e aí comecei de verdade a ter ideia do que era viver na Nova Zelândia.

Dia em que a polícia foi na escola para medir a velocidade que as crianças correm, um jeito muito diferente de ensinar física (Foto arquivo pessoal)
Zero burocracia: começando a trabalhar
A primeira experiência impactante foi o processo de contratação. Chegando aqui, liguei na escola, falei com a diretora e tudo certo, eu começaria em dois dias, somente o suficiente para descansar da longa viagem. No primeiro dia de trabalho, cheguei na escola levando os documentos que a diretora me pediu, passaporte e o visto de trabalho. Estava contratada. Não teve entrevista.
A diretora digitou uma oferta de trabalho dizendo qual era o cargo, quantidade de horas (flexível, de 8 a 12 horas por semana), valor do salário (por hora), imprimiu e assinei. Recebi os formulários relativos ao imposto e cadastro no sistema e pronto. Tudo muito simples. E eu, extremamente desconfiada, achando que havia algo de errado.
No mesmo dia, comecei a trabalhar. Perguntei aonde deveria “bater o ponto”, mas, não me entenderam. Expliquei, aonde deveria registrar que cheguei e a que horas eu saí, já que eu receberia por hora. Riram. Por que alguém precisaria controlar a minha entrada e a minha saída? Eu insisti, e se eu não fosse trabalhar, como saberiam? A resposta foi direta: se na hora do “morning tea” (lanche da manhã) eu não aparecesse na sala dos professores, saberiam que eu não tinha ido trabalhar naquele dia. Eu me surpreendi com tamanha confiança e tive ali a minha primeira lição cultural na Nova Zelândia: como regra geral, as pessoas confiam umas nas outras. Ponto!
Trabalhar na escola onde o Pedro estudou fez muita diferença na nossa adaptação e acalmou muito meu coração de mãe. Mas isso eu vou contar nos próximos textos, onde partilharei mais sobre como obter apoio gratuitamente para conseguir seu primeiro emprego na NZ.