Emigrar ou não emigrar? Muitas pessoas em diferentes situações ou fases da vida já se fizeram essa pergunta.
Uma coisa é você ter a oportunidade de viajar de férias para outro país, relaxada, visitando pontos turísticos e tudo de bom e lindo que aquele lugar tem a oferecer. Mas, outra coisa é ter que traçar planos concretos para viver em outro país. Seja por transferência de trabalho, estudo, aperfeiçoamento profissional ou pessoal, para empreender um novo negócio, viver um grande amor… não importa qual seja a motivação, uma coisa é certa: há de se ter um plano que viabilize essa nova etapa da vida.
Por diferentes razões que não nos cabe aqui analisar ou julgar, atravessamos mais um momento histórico mundial de grandes movimentos migratórios. Dados recentes apontam que em 2017 se contabilizou cerca de 258 milhões de pessoas vivendo fora de seu países. Dois terços do total de migrantes internacionais residem em apenas 20 países ao redor do mundo, sendo que o maior número deles, cerca de 50 milhões, vivem nos Estados Unidos. Nas posições seguintes estão Arábia Saudita, Alemanha e Rússia. Para acessar o Mapa Global de Migração clique aqui.
Portanto, se você pretende engrossar essa estatística vamos falar sobre plano de ação?
Primeiros Passos
Eu acho que (quase) ninguém escolhe o país que irá imigrar girando o globo terrestre e colocando ao acaso o dedo indicador em uma área qualquer, na sorte. Trabalha-se com opções concretas de países e cidades.
Uma vez feita a escolha do país pra onde ir, toda e qualquer pesquisa para caracterizar o lugar é válida! Buscas na internet que abranjam dados oficiais, leitura de blogs que relatem experiências pessoais, participação em grupos e fóruns de discussão sobre a localidade. Seja proativo. Não adianta entrar em um grupo de mídia social e lançar a pergunta: “como faço para morar nessa localidade?” ou “indiquem o melhor bairro para morar”.
Esses grupos são geridos por voluntários, e na maior parte das vezes, os arquivos históricos estão organizados por temas, como por exemplo: pediatras que falam português, melhores restaurantes japoneses, etc.
Portanto as perguntas básicas já estão bem respondidas, bastando acessar a lupa para uma pesquisa específica ou acessar os arquivos dos grupos. Use de forma inteligente o seu espaço e consiga respostas mais consistentes e menos genéricas, cansadas pela repetição (quem mora fora e participa desses grupos locais entende do que estou falando).
Outras medidas
Também é muito útil conversar com moradores locais, sejam colegas ou contatos indicados por conhecidos. Tente captar a percepção dessa pessoa com relação ao lugar. Vale uma conversa por telefone ou por vídeo. Faça um roteiro que abranja os pontos que quer saber mais e melhor para direcionar a conversa.
Se for uma mudança motivada pela empresa de um dos cônjuges, certamente a área de recursos humanos poderá oferecer informações relevantes sobre a localidade e serviços. Peça!
Para fechar o retrato da localidade com os olhos de terceiros, tenha certeza de que está bem informado e/ou assessorado juridicamente quanto às políticas de imigração. Em outras palavras, tipos de visto/permissão de residência temporária, permissão de trabalho, validade, extensão familiar (cônjuge e filhos), documentos necessários e tempo estimado para conseguir os vistos/permissões.
Conselho Deliberativo Familiar
A mudança para outro país é um projeto familiar. Envolve o casal ou o responsável e o(s) filho(s).
Obviamente a idade/maturidade/nível de emancipação dos filhos fará toda a diferença dentro do “Conselho Deliberativo Familiar”. Cada família gere seu núcleo da forma que melhor lhe convém, mas vale uma orientação geral de que este é o tipo de decisão a ser tomada pelo(s) pai(s).
Crianças e jovens devem ser ouvidos em seus questionamentos, dúvidas, incertezas e inseguranças, devem ter todo o apoio e respaldo de seus genitores, mas a decisão final cabe aos pais. Que fique claro que não estou pregando autoritarismo, mas os planos familiares não podem ter a fragilidade de não se sustentarem perante o primeiro questionamento de uma criança que certamente estará bem confusa nesse momento.
Na minha experiência pessoal, quando chegamos à fase de ampliar a discussão para o nível familiar, eu e meu marido tivemos uma conversa aberta e franca com os filhos. Na época eram dois adolescentes. Apresentamos a proposta e o lugar e vimos aquelas duas carinhas de ponto de interrogação.
Resolvemos passar para o concreto e individualmente fizemos listas de prós e contras da mudança de vida/país, de forma bem ampla e livre, aquilo que tocasse o coração de cada um de nós. Avançamos até ter uma lista única de prós e contras (levou quase uma semana). Nossos medos, desafios, certezas e sonhos estavam ali. Estávamos prontos para os próximos passos. Era hora de partir para a ação.
Nesse estágio, eu e meu marido fizemos uma viagem de reconhecimento para a nossa nova cidade. Era chegada a hora de fazer o retrato e mapeamento local sob a nossa ótica. Para quem tem essa possibilidade, eu indico muitíssimo.
Montanha russa de emoções
Aqui vale falar um pouco dos principais questionamentos trazidos pelos nossos filhos. Uma grande preocupação era com o cachorro (como levá-lo conosco); escola/faculdade (como funcionaria, atrasos ou adiantamento escolar, como seria estudar em outra língua, qual a continuidade para a faculdade – minha filha mais velha já havia iniciado a faculdade), como seria gerenciar as saudades da família e dos amigos deixados no Brasil.
No meu caso especificamente, foram meses de preparação. Tratando de todos os trâmites de documentos para o processo imigratório, providências para deixar o país, preparar a ida antecipada do marido e gerenciar este período intermediário (nem cá nem lá), e assim eu me tornei “agente da mudança”. Minha rotina era gerenciar e fazer rodar o plano de ação.
Essa fase foi muito importante. Vivemos uma montanha russa de emoções e os filhos acabaram por passar pelos mesmos sentimentos. Era inevitável. Não procurei esconder meus sentimentos. Às vezes, sentávamos os três juntos no sofá e as cabecinhas voavam. Ninguém dizia nada. Mas estávamos juntos e em breve seríamos nós quatro novamente.
Cerca de 30 dias antes do embarque, a casa já estava vazia pois a mudança havia sido embalada e enviada por navio. Eu procurei estar próxima dos meus filhos, dos familiares e amigos. Curtindo os momentos e procurando armazenar boas memórias. Saboreava um pastel, apreciava uma vista familiar, e me demorava mais em uns abraços conhecidos.
Leia também : Mudar de país sem perder o rumo
Nunca permiti que o compasso de espera fosse de rompimento, de despedida e de tristeza. Não aceitei festas de despedidas. Fizemos muitas festas de celebrações!
Quinze dias antes da nossa viagem, mandamos o membro canino da família. Como ele é de grande porte, não viajaria na cabine conosco, então decidi que ele iria antes. Essa decisão tinha dupla função: ele chegaria antes e alegraria o maridão que estava cansado de ficar sozinho, e os filhos já tirariam um peso dos ombros por ver nosso Billy feliz em terras do Tio Sam. Assim foi feito!
Finalmente chegou o nosso dia. Meus parentes e amigos respeitaram minha decisão de não ter ninguém nos acompanhando até o aeroporto. O taxi parou na frente da casa, totalmente vazia. Carregamos nossas malas e nossos sonhos e memórias. Fomos, os três juntos, bem juntos!
Eu me lembro que dormimos durante quase todo o voo. Exaustão.
Meu marido nos esperava no portão de desembarque. Éramos quatro de novo. Em mais meia hora, éramos cinco, ao nos reunirmos com nosso cãozinho. Todos juntos, felizes e prontos para viver em uma casa vazia, com eco, em outra cidade, outro país.
O plano de ação funcionou! Acredito que todo o planejamento foi fundamental e nos fortaleceu para dar cada passo.
No próximo mês, traremos um checklist dos preparativos para a mudança. Até lá!
4 Comentários
Belíssimo texto e excelente colocações. A naturalidade das colocações me fez ve-la em minha frente falando para mim. Show!
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