Esse mês escrevo sobre a minha experiência de emigrar de país com crianças. Desde que me casei, vivo nessa vida cigana. Eu não imaginava que viveria com a casa pronta para mudar em média a cada três anos. Com o tempo, você se acostuma com a ideia, se adapta mais facilmente e não comete alguns errinhos das mudanças anteriores.
Cresci escutando que na “vida é tudo passageiro, menos o motorista e o cobrador.” Posso dizer que entendi perfeitamente essa metáfora, e ainda adiciono a frase, o “tempo dá um jeito”. Mudar de país é se reinventar. É ser estrangeiro em terras que você nunca navegou antes. Fazer turismo é totalmente diferente de residir.
Adaptação dos filhos: como amenizar o impacto
Com crianças, percebo que é mais fácil mudar quando são pequeninos. O mundo deles, nesse momento, representa o aconchego dos pais, a mantinha gostosa, o brinquedo preferido e as canções ninar.
Tento sempre revisitar o passado com a minha filha por meio das fotografias dos lugares e pessoas favoritas. Impressionante que antes dos 3 anos ela não se lembra de muita coisa. Já após essa idade, ela já consegue descrever alguns passeios e pessoas que marcaram. Atualmente, ela tem 9 anos. A forma pela qual me conta já não tem tanta precisão nos detalhes, mas o fato principal ela consegue descrever. O que é normal da memória.
O que eu quero dizer com isso? Quando são pequeninos é um pouco mais fácil. Na mala você precisará carregar as roupas, brinquedo de preferência da criança e documentos importantes. É claro que cada criança é única e pode reagir de um jeito.
No meu caso, quando eles eram menores, não sofreram um impacto grande. Apenas o idioma que mudou do espanhol para o português. Tentamos manter a abordagem escolar e o tamanho da instituição: um ambiente pequeno e acolhedor.
Mudança para os Estados Unidos
O impacto nas crianças (8 e 7 anos) foi maior na mudança para os EUA: idioma, sistema escolar, tamanho da escola, regras sociais…Quem mora aqui sabe sobre o espaço individual das pessoas! Você está a dois metros de distância e já te pedem licença! E com uma criança com transtorno do espectro autista que adora encostar e mexer em tudo… imaginem quantos “Excuse-me” eu escutava por dia!
Tente minimizar essas mudanças, como manter o estilo escolar, incentivar a manutenção do contato das crianças com os coleguinhas e parentes no Brasil e, se possível, já ir ensinando o idioma local. Fazer um turismo virtual e uma lista das coisas legais do novo país com a criança podem ajudar também.
Se tiver condições, considere um curso do idioma ou aulas particulares antes de se mudar. Facilitará bastante a transição. Considere alguns aplicativos no idioma do novo país, como o Duolingo. Nos Estados Unidos tem escolas públicas que possuem o programa de inglês para estrangeiros dentro da escola. Leia mais aqui.
Com o meu guerreiro, comecei a emparelhar as palavras em português e inglês. Eu tinha fotos dos objetos mais comuns da minha casa com o nome em inglês e português. Por ele não falar, começamos a utilizar o sistema de comunicação chamado Picture Exchange Communication System (PECS), pois os pictogramas são mais fáceis das outras pessoas o entenderem e pode ser utilizado em qualquer idioma. Conheça sobre o PECS aqui.
Tríade: escola, bairro e aluguel
E como saber qual a escola ideal? Para responder essa pergunta, você deve saber onde irá morar. Sugiro buscar um bairro no qual tenha mais crianças, ideal fazer uma busca no Google, buscando as palavras-chaves como crianças+bairro+cidade. Se tiver contatos no país em que deseja morar, colete essas informações. Irá te economizar tempo.
Procure imobiliárias online enquanto estiver no Brasil. Nos Estados Unidos tem a Zillow. Você pode ver o valor do aluguel e ainda as escolas do bairro. Entre em grupos de Facebook da comunidade brasileira. É cheio de dicas e serviços.
Visite as escolas in loco durante o ano letivo e sinta como ela é. Converse com a direção. Veja o quantitativo de estudantes por sala, pergunte quem supervisiona os recreios, se há programas diferenciados (dança, esporte, música, etc) e se tem os serviços especializados da Educação Especial (terapia ocupacional, psicologia, fonoaudiologia, etc), caso a sua criança tenha alguma necessidade educativa especial. Entre no website das escolas e procure comentários a respeito dela.
Tente matricular sua criança no início do ano letivo. Assim, ela vai se integrando naturalmente à turma. Lembre-se que por ser uma escola da zona residencial, as crianças se conhecem desde o pré-escolar, ou muitas vezes do parquinho do bairro.
Leia também: Fazendo a sua própria mudança nos EUA
Chegamos no meio do ano letivo, tanto no Brasil como aqui nos Estados Unidos. O impacto foi maior aqui. Lembro da minha filha reclamando que era chamada de a novata (the new girl) da escola. A professora teve a sensibilidade de colocar uma estudante da turma para acompanhá-la até a sua adaptação. Na escola, também tinham duas crianças filhas de brasileiros que auxiliavam a minha filhota em alguns momentos.
Bairros com aluguéis altos tendem a possuir escolas com melhores pontuações no ranking das escolas aqui nos Estados Unidos. O website Great Parents mostra as notas de cada escola dos Estados Unidos.
Dica de ouro: não alugue a residência sem fazer a visita na escola e confirme se escola atenderá o seu endereço. Dependendo do quantitativo de estudantes num bairro há uma redistribuição dos alunos pelas escolas da área.
Muitas vezes alugamos um apartamento mobiliado temporário (Airbnb) no bairro onde queremos morar. Dessa forma, vamos nos inserindo na comunidade. A outra vantagem é que posso ir aos poucos organizando a futura residência, até que a mudança chegue. Nós sempre fazemos um “acampamento”.
Trazer a mudança ou não?
Depende de cada família, do estilo de vida e do custo do transporte. Tenho o necessário para viver com conforto. Evito juntar coisas que não utilizo e não são funcionais. Se definir que trará as suas coisas, é a hora do desapego para baratear o transporte.
No meu caso, sempre levo a mudança. Acredito que quando as caixas chegam e a casa está montada, o meu guerreiro entende que é ali a nova casa. Por isso faço questão de “carregar” as nossas coisas na vida cigana. É uma necessidade para minimizar os impactos da mudança para o meu filho.
Eu gosto de manter a sala mais ou menos na mesma configuração da residência anterior, por causa dele. No quarto das crianças, procuro decorar com os objetos preferidos e que possam identificar como deles.
Muitas vezes, para economizar, “acampamos” no apartamento definitivo antes da mudança chegar. Compramos o básico para viver por alguns dias.
Mudar não é barato. Muitas vezes, temos que comprar alguns eletrodomésticos devido a voltagem e a ciclagem deferentes. Sem falar que em alguns contratos para alugar apartamentos, você deve fazer uma caução de até três aluguéis dependendo dos país. Isso desestabiliza financeiramente, se não tiver reservas.
Bagagem com crianças
Tento viajar com menos mala possível. Sempre pesquiso a estação do ano em que vamos chegar. Casacos de inverno, quando necessário, reservo uma mala e utilizo aqueles sacos plásticos que são fechados com aspirador de pó.
Calculo roupa para duas semanas. Para as crianças um pouquinho mais. Sempre rastreio uma lavanderia self-service na área, ou vejo se o apartamento temporário tem local para lavar as roupas.
Sempre levo uma mochila com os brinquedos para dentro do avião e para brincar enquanto a mudança não vem. Não se esqueça de uma muda de roupa em sacos transparentes para facilitar a identificação.
Documentos
Aconselho a ter o histórico escolar traduzido. Não se esqueça do cartão de vacina, passaporte com visto e certidão de nascimento. Já tire umas fotos 3×4 e coloque na pasta de documentos. As escolas tendem a pedir fotografias para matricular. E você não vai querer ficar procurando local para tirar foto, né? Otimize o seu tempo!
Se tiver outras dicas práticas, compartilhe com a gente!