Dois filhos em Londres: 1+1 = muito mais!
Sem ajuda, sem tempo, sem coragem, sem juizo! A decisão de transformar a nossa família de 3 numa família de 4 não foi muito facil. Moramos num apartamento de bom tamanho para os padrões de Londres, mas sem espaço para crianças brincarem.
Sem ajuda de babá ou família, meu marido e eu trabalhamos período integral mas, aos poucos, conseguimos adequar nossa vida perfeitamente à chegada do nosso primeiro filho. No entanto, ao vê-lo crescer começamos a pensar na importância que tem uma irmã ou irmão na vida e no presente que daríamos a ele, caso tivéssemos um segundo. Decidimos explorar a ideia.
Engravidar pela primeira vez não foi fácil e só aconteceu depois de muito sacrifício e várias agulhadas de hormônio na barriga. Ao decidirmos tentar o segundo, respirei fundo e deixei de lado os medos e o nervoso. Por incrível que pareça, não demorou muito a recebermos a visita da cegonha sem agulhadas ou qualquer intervenção médica, e o melhor: estávamos a espera de uma menina!
Sofro da famosa síndrome de Pollyana, vejo sempre o lado positivo em tudo e sempre acredito que as coisas vão dar certo, portanto, a confirmação da gravidez e a notícia de que seria uma menina eram para mim um sinal de que daríamos conta.
Com a chegada da bebê, a ficha de repete caiu. Ter dois filhos pequenos no exterior requer muita organização e planejamento, além de um parceiro que ajude na criação e nas tarefas domésticas. E ai?
Pensando apenas de forma prática, ou considerando os desafios de logística que vêm com a chegada do segundo filho (principalmente no exterior), esses são alguns dos obstáculos que encontramos:
1-Período na maternidade: meu marido e eu não temos família em Londres. Os pais dele, apesar de morarem a 2 horas de casa, são idosos e não conseguem cuidar do nosso mais velho. Meus pais perderam a prática e, por ser autista, meu filho não fica à vontade com os avós do Brasil, pois não os vê com frequência. Minha irmã teve que vir do Brasil para nos salvar. Meu filho é muito apegado a ela e ficou bem durante esse tempo em que estive longe.
2-Colocar tudo no carro: quem disse que nosso carro comporta dois carrinhos, o patinete do mais velho, a bolsa de um, a mochila do outro, mais o arsenal de tralhas que carregamos pra cima e pra baixo? Não cabe! OK, troca de carro ou carrega menos coisas. Metrô? Nem pensar….
Sem a ajuda do marido, não encaro carrinho de bebê, patinete, filho mais velho, escada e empurra-
empurra na hora do rush.
3–A hora do banho: quando as duas crianças têm idade para dividir uma banheira, imagino que seja fácil dar banho sem ajuda, mas quando se trata de um recém-nascido e de uma criança de 3 anos, a rotina do início ao fim acontece duas vezes. É nessas horas que mamãe cria uns dois pares de braços e vira polvo para conseguir colocar um no chuveiro, o outro na cadeirinha de balanço e depois trocar. Por que ninguém avisa isso a gente?
4–A hora de dormir: que bom seria se os dois pegassem no sono na mesma hora e sem a presença de mamãe no quarto! Notem: mamãe. Mesmo que papai esteja em casa, só serve a mamãe nessa hora! O jeito é colocar os dois juntos na cama do mais velho, ler a historinha, esperar o mais velho dormir e torcer para a bebê pegar no sono para leva-lá para o seu quarto e bercinho. Não sei por que mas aqui em casa, com os dois, ao colocá-los no berço eles acordam. Grrrrr!
5–Arrumar os dois sem ajuda e conseguir cumprir horario: certa vez ouvi um conhecido falar que quando você é mãe/pai de 2, às vezes descobre que mesmo 4 horas antes do compromisso, você ja esta atrasado! Faz todo sentido. Muitas vezes ja me encontrei em situações em que estamos prontos para sair de casa quando somos surpreendidos por estalos e explosões vindo do carrinho de bebê…. Aquele som inconfundível de troca completa é constante aqui em casa!
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Hoje, 6 meses após o nascimento da pequena e o mais velho na escola, permanecemos sem ajuda.
Enquanto estiver em licença-maternidade (aqui no Reino Unido é comum as mulheres tirarem aproximadamente 1 ano), quero poder cuidar dos meus dois filhos sem o auxílio de uma babá. Acho importante esse momento e confesso que estou curtindo essa loucura.
Ficamos cansados? Sim. Falta tempo para meu marido e eu conversarmos e fazermos coisas banais do dia a dia? Sim. Nossa casa virou uma lavanderia 24 horas? Sim. Tem brinquedo pela casa toda? Sim. Trocaria isso tudo por uma casa arrumadinha, várias horas em frente a TV assistindo séries e comendo pipoca? De jeito nenhum! Ver o olhar apaixonado da minha filha ao olhar para o irmão derrete nossos corações e faz tudo valer a pena. Passar pelos quartos deles à noite e observá-los enquanto dormem, me traz uma paz interior enorme e nas (poucas) horas de sono que tenho, recarrego as baterias e estou pronta para mais um dia de total madness (loucura total)!
Ao meu ver, a grande diferença da realidade de quem tem dois filhos no Brasil e no exterior é a praticidade que criamos nas coisas simples. Pelo menos aqui em casa, tudo é prático, seja a comida, a lavagem das roupas, a arrumação da casa, ou até os utensílios domésticos. Tudo que fazemos tem que ter um propósito e ser eficiente.
Ajuda seja ela qual for e de que forma for é sensacional. Aceito toda e qualquer ajuda, porém, ao decidir ser mãe no exterior, ponderei todos os prós e contras e creio que caso morasse no Brasil, não teria uma experiência tão intensa com os meus filhos como tenho aqui em Londres. Sou muito grata a Papai do Céu por ter mandado essas duas joias para mim e sempre que estou cansada, lembro que ninguém morre de cansaço.
A recompensa pelo trabalho sempre vem em forma de beijinhos, abraços e carinho dos pequenos.
2 Comentários
Olá, durante os recessos e férias escolares com quem ficam seus filhos? Pergunto isso por que moro aqui a dois meses e me candidatei a uma vaga part time para poder trabalhar no horário da escola do meu filho, mas ainda não sei pq ué fazer nos recessos. Você tem alguma dica ?
Olá Ana Maria,
Obrigada por seu comentário!
Infelizmente a colunista que escreveu este texto não colabora mais com o BPM Kids, mas temos outras em Londres. Você pode deixar sua pergunta como comentário no texto de alguma delas. Por exemplo: Rhaniele e Juliana. Basta você entrar na categoria Inglaterra do BPM Kids para encontrar os textos. Um abraço. Equipe do BPM Kids