Do Brasil para Havana com a família.
Muito prazer meu nome é Natalia, tenho 28 anos. Sou mãe, esposa e administradora – de muitas coisas – e vou contar um pouco da minha experiência de mudança do Brasil para Havana, Cuba. Sim, é isso mesmo que você leu: CUBA!
O começo de tudo
Bom, a história começa com meu marido fazendo uma viagem a trabalho para Havana em 2015. Os dias na ilha o deixaram encantado e, a partir daí, Havana se tornou uma vontade e, com isso, uma possibilidade dentro do plano de carreira dele. Diferente de muitas pessoas, vir para cá era uma opção muito interessante para nós, tanto pela experiência profissional quanto pela experiência de vida.
Nesta época trabalhávamos na mesma empresa e ainda não tínhamos nosso filho. Morávamos em São Paulo, sem muita perspectiva de uma mudança rápida. De repente, surgiu um convite para morarmos em Uberlândia e, com isso, o plano de Cuba ficou lá, guardadinho para depois. Em 2016 nos mudamos para Uberlândia e, no segundo semestre eu engravidei do Rafael, nosso filho, que hoje tem 11 meses. Neste momento de muita alegria e de construção da nossa família, o plano de morar em Cuba passava a ser algo que me dava muito medo. Mas, como sempre tivemos vontade de morar fora, mantivemos o plano.
Rafael nasceu em Maio de 2017 e eu entrei em licença maternidade, com retorno previsto para Novembro. No meio da loucura que é essa fase, tínhamos sempre aquela dúvida e ficávamos pensando: “Será que o convite pra ir para Cuba vai acontecer?” Até que um dia o convite para o meu marido chegou. No dia 31 de outubro de 2017. Quase no meu retorno ao trabalho. E, com o convite dele, eu também recebi uma proposta para trabalhar em Cuba.
Aí veio também um turbilhão de pensamentos, incertezas, dúvidas…
Eu já estava insegura com meu retorno ao trabalho e já vinha pensando em uma forma de acompanhar mais de perto o desenvolvimento do meu filho. Amo minha profissão e sempre amei meu trabalho e a empresa onde trabalhava. Pensar em ficar em casa com meu filho nunca tinha sido uma opção real, até que o convite de expatriação chegou.
Vocês podem imaginar o quanto isso tirou o meu sono. Meu marido já havia aceitado o convite dele e estávamos muito felizes com a proposta, mas ainda faltava a minha decisão. Depois de quase 3 semanas pensando e conversando muito, cheguei a conclusão de que eu não aceitaria o convite. Eram muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo e, se já não estava segura em voltar ao trabalho ficando no Brasil, imagina em Cuba.
Lembro que procurava informações na internet sobre a vida cubana e, obviamente, não encontrava quase nada. Para minha sorte, havia alguns brasileiros já em Havana e tive a oportunidade de conversar com eles. Descobri, por exemplo, que a única opção para o Rafael seria ter uma babá, mas sem ter internet para acompanhar o cuidado que a pessoa teria com o meu filho. Sem muito tempo de adaptação para esse processo que não é simples. Neste momento, percebi que não seria feliz se aceitasse o convite de trabalho. Disse um “não” dos mais difíceis, mas segura de que era a decisão certa. Ah, e como foi a decisão mais acertada da minha vida!
Planejando e organizando a mudança
Depois de tudo isso, começamos os preparativos para a mudança e todas as incertezas que qualquer um que vai se mudar tem, nós tínhamos dez vezes mais. Afinal de contas estávamos indo para Cuba.
Decidimos que faríamos uma lista de tudo o que precisávamos saber e de tudo que o não havia disponível para comprar, para levarmos durante os primeiros meses. As listas eram infindáveis. Na lista de coisas que precisávamos saber tinham dúvidas como: a água do banho pode fazer mal (já que o Rafa adorava colocar a cabeça na água e acabava tomando um gole ou outro)? A fórmula de leite que ele tomava existia por lá? Os medicamentos são comprados facilmente? Como era o atendimento do pediatra?
Durante o período em que moraríamos em hotel, como faríamos com a comida do Rafa? Eram muitas perguntas. Boa parte foi respondida pelos brasileiros que já estavam por lá, o que nos trouxe um pouco de tranquilidade.
De cara já recebi das outras mães uma lista de contatos, os mais importantes: pediatra, hospital, babá e creche. Isso já acalma qualquer mãe. Além disso, dicas valiosas sobre o que comprar para levar, pois não encontraríamos em Havana (fralda, leite, repelente infantil etc). Também tiveram muitas dicas sobre a alimentação. O que comprar, onde comer, o que nunca comer fora de casa.
Já a outra parte foi com a ajuda da pediatra no Brasil, pois tivemos que fazer algumas preparações para nos mudarmos para cá. A primeira delas foi comprar um medicamento para auxiliar na reconstrução da flora intestinal, caso acontecesse algum problema com o Rafa durante as primeiras semanas em contato com a água daqui (ufa, nada aconteceu). A segunda foi tomar a vacina da febre amarela. No caso dele, duas vezes, a primeira com 7 meses e depois refazê-la aos 10 meses.
Uma das coisas mais marcantes durante esse processo foi a quantidade de vezes que fui à farmácia. Lembro-me de que cada ida era como fazer compras no supermercado, pois eram muitas coisas. Sem falar dos cálculos sobre as fraldas, para saber quanto de cada tamanho comprar; quanto deveria levar nas malas e o que deixaríamos para ir com a mudança – que demoraria um bom tempo pra chegar (ainda estamos sem ela, pra dizer a verdade!).
Depois de muitas listas, planilhas, contas aqui e ali, organizamos tudo para que a mudança saísse do Brasil. Tínhamos um estoque de fraldas para todos os tamanhos (M e G foram nas malas e as maiores estão na mudança) pois sabíamos que era muito difícil encontrar fralda descartável por aqui e, quando se encontra, são caras e de baixa qualidade. Muitos pacotes de lenço umedecido.
Compramos também um estoque de leite em pó (fórmula), mas tinha um detalhe aí: tínhamos que considerar que, até a mudança chegar, precisaríamos do leite para até 12 meses e o leite para a partir de 1 ano. A mala de remédios tinha tudo que uma criança de até 2 anos poderia precisar. Muitos tubos de repelente, protetor solar, shampoo, sabonete líquido e pomadas. Uma das coisas mais importantes nesse período foi comprar tudo o que tivesse uma data de vencimento bem distante, evitando, assim, o desperdício destes itens tão valiosos por aqui.
Leia também: mudança com crianças e os aspectos emocionais
Nossa (louca) vida até aqui
Desde novembro de 2017 nossa vida tem sido uma loucura. Estamos fora de casa desde dezembro. Ficamos longe do meu marido uma parte de janeiro e o mês de fevereiro (meses onde nasceram dois dentes e ele aprendeu a engatinhar). Viemos para Havana no dia 10 de março, para morar em hotel, sem previsão de ter um apartamento, sem previsão de chegada da mudança, mas com a certeza de que é muito melhor estarmos os 3 juntinhos!
Como tudo nessa vida, as coisas vão se ajeitando. Depois de 1 mês em Havana, já temos um apartamento temporário com o que precisamos para viver até que as nossas coisas cheguem. Temos uma pessoa que nos ajuda com a casa e uma babá. Como o Rafael ainda não pode ir à escola, pois não sabe andar, optamos por esta ajuda.
Eu estou aprendendo a viver essa nova vida, curtindo e acompanhando de pertinho todos os momentos do meu filho. Sem dúvida nenhuma, foi a melhor escolha da minha vida.
4 Comentários
As mudanças e superações da vida, quem imaginaria que aquela menina mandona e senhora de si se tornaria uma mãe devotada e vencedora de grandes obstáculos. Temos orgulho de Ti por tuas vitórias e pelas tuas conquistas pessoais. Espero ter mais publicações a respeito de Cuba, até para quebrar esse paradigma que temos em relação a Cuba. Parabéns pelo texto, teu avô teria muito orgulho de ti, assim como nós todos temos.
lindo depoimento!! S2
Linda e emocionante história de vossas vidas, temos muito apresso e orgulho de vocês, que Deus os abençoe ricamente , quê todos os vossos projetos se realizem, felicidades sem fim.
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