Crianças que se mudam: como manter os amigos?
Uma das minhas maiores inquietudes com a nossa mudança de país era saber como iríamos manter os laços afetivos entre minha filha e suas BFFs (melhores amigas) que, aprenderam juntas, lá no Jardim da Infância com seus dois aninhos de idade, a importância e o valor de uma amizade.
Essas menininhas tão amigas desde sempre nunca haviam se separado. Pela primeira vez, em 7 anos de uma amizade que uniu famílias, todas iriam experimentar juntas a dor da separação física, e aprenderiam na prática o significado da palavra que existe somente no nosso idioma: saudade.
Minha pergunta, para mim mesma, sempre era: será que elas se esquecerão? Nossas famílias tem uma amizade tão forte e linda, será que conseguiremos manter esse afeto entre as pequenas?
Depois de um ano de saudades, tive a doce resposta: SIM, elas se amam demais e não se esqueceram!!
O reencontro
A cena mais linda que presenciei na minha vida foi ver o reencontro de dois seres tão pequenininhos que, rapidamente se deram um abraço daqueles bem apertado, de urso, que só quem já ficou longe de um grande amor sabe o significado.
Depois desse forte abraço, a grande amiga, segurando nas duas mãos da minha filha e com uma mirada fixa nos seus olhos e com sua vozinha delicada e trêmula carregada pela forte emoção do momento, disse a seguinte frase: “…, você faz muita falta aqui!”
Quanta maturidade, quanta verdade, quanta certeza naquele abraço, quanto amor naquela mirada e quanta intensidade naquelas palavras!! Impossível não se emocionar ao presenciar uma cena dessa magnitude afetiva. Assim a pequena foi recebida pelas suas BFFs um ano depois. E eu, afortunadamente, pude testemunhar que elas, de fato, vivem na prática o que se consideram: “Best Friends FOREVER”!
Meu coração explodiu de alegria nesse encontro de amor. Entre nós, as mães, somos muito amigas e nos falamos todos os dias, sem exceção, graças às maravilhas dos apps e da Internet. Mesmo eu não podendo mais estar presente em nossos encontros, participo de quase todos virtualmente. Assim como estou presente no dia a dia de cada uma e vice-versa. Fazemos parte do cotidiano umas das outras.
Com as crianças não foi a mesma coisa. Elas se viram e se falaram pouco durante esse primeiro ano porque percebemos que se entristeciam depois das conversas virtuais. Por isso, não as fizemos com tanta frequência. Se para nós adultos não é fácil administrar essa separação e sentimos, de verdade, uma saudade que dói; tento sempre imaginar como deve ser cruel essa dor para as nossas crianças que são vítimas das nossas decisões.
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Um ano depois, quando se encontraram, foi simplesmente incrível. Ninguém se sentiu um estranho no ninho, foi acolhedor e muito acalentador. Lindo de ver todas as meninas da escola antiga brincando eufóricas na festa de aniversário de uma das BFFs. Tive um prazer indescritível ao ver a minha filha aproveitando e se abastecendo de toda aquela alegria, desfrutando e brincando com suas amigas da mesma maneira que faziam e costumavam ser até partimos há um ano. Que maravilhoso sentir que ainda pertencemos ao coração dos nossos amigos que “deixamos” no Brasil e que eles continuam pertencendo aos nossos corações. Como foi importante ter vivido essa experiência de amor e afeto.
Amizade a distância
Mas depois dessa explosão de alegria fiquei refletindo como tudo isso ocorreu. Seguramente, nossa amizade não perdurou magicamente. Ela ficou, porque todos nós decidimos nos dedicar uns aos outros.
Nunca me esqueço de uma frase que minha amiga Silvia me disse uma vez: “ter amigos exige dedicação”. Fico sempre pensando muito nela e é a mais pura verdade. Não fomos para o Brasil por um ano, mas nesse período nos dedicamos aos nossos amigos e eles se dedicaram a nós. Recebemos visitas, nos mandaram presentes, nos organizamos com fuso horário para participar virtualmente de encontros e festas. Nos juntamos em outro país para passar o ano novo. Adiantamos ou atrasamos festas de aniversários para aproveitarmos nossos escassos encontros. Os maridos organizavam as agendas de trabalho para se encontrarem e para nos visitarem aqui no México. Não esquecíamos aniversários e comemorações importantes. E assim se passou um ano, nos dedicando e nos importando uns com os outros.
Afinal de contas, não é disso que se trata as relações humanas? Dedicação, doação, participação, preocupação, atenção, carinho, cuidado… Isso tudo pode existir sem importar onde, porque a grande questão é: se você não está afim de se doar e se dedicar a uma pessoa, a amizade não nascerá e tão pouco perdurará ainda que você more muito próximo dessa pessoa.
Finalizo meu texto com a frase que o Dr Augusto, pediatra da minha filha, dizia com relação a maternidade que cabe, perfeitamente, para a amizade: “… ter filhos (e aqui eu incluo ter amigos) não é algo que nos dê trabalho, mas sim, exige de nós muita dedicação e, só se dedica a alguém quem ama!”