Quando aceitamos o convite para vir para a Itália (através da empresa do meu marido, o Fred Suzuki, também colunista aqui no Mães mundo Afora), tínhamos apenas uma filha, a Sarah. Um pouco da nossa história contei aqui nesse texto. Hoje já somos quatro, pois agora temos também uma outra princesa que nasceu aqui na Itália e está com 10 meses. Cheia de energia para explorar e descobrir o mundo ao seu redor!
Quando morávamos no Brasil, sempre tivemos uma rede de apoio muito forte, uma babá que até virou integrante da família e vovós sensacionais que sempre nos ajudaram com viagens de trabalho e até em uma merecida segunda viagem de lua de mel.
Depois da mudança
Morando na Itália há 2 anos, a nossa situação é bem diferente. Primeiro, pelo fato de não termos familiares aqui. Depois, porque a mão de obra de uma babá custa muito, mas muito caro mesmo. Em geral, os serviços são pagos por hora. Na região em que moramos, a hora de uma babá custa em média 8 euros.
Estamos falando de um serviço esporádico. Caso seja um trabalho que exija horário de entrada e saída de segunda à sexta, aí sim o “bicho pega”. Além de extremamente burocrático (mais do que no Brasil), fica ainda mais caro do que no Brasil porque os impostos e contribuições trabalhistas aqui são ainda maiores do que lá. Ou seja, eu diria que pra nós é impossível, ou melhor, impagável!
Além de tudo isso tem o fator confiança. Assim que a gente chega, não conhecemos ninguém e tampouco temos referências de profissionais. E como fazer? No nosso caso, Graças a Deus, apareceram pessoas incríveis que hoje fazem parte da nossa rede de apoio e que se tornaram amigas com quem criamos uma relação de confiança. Mas mesmo com essa rede de apoio, a questão financeira ainda pegava para nós. Foi aí que decidimos pesquisar sobre os asilo nido (creche, em italiano) e então descobrir um mundo que para nós era totalmente novo.
Asilo Nido, a creche na Itália
Na Itália, só a partir de 3 anos que a criança tem acesso gratuito a Scuola dell’Infanzia (também conhecida como Scuola Materna), que já faz parte do sistema educacional (ainda que não obrigatório). Antes disso, desde o berçário até essa idade existe o asilo nido (creche), que por ser um serviço social e não educacional, é pago em proporção à renda familiar. Existem creches da prefeitura que podem chegar a custo zero, mas para pessoas com baixa renda e/ou em condição de refugiados.
Nós moramos na cidade de Sondrio, na Lombardia, uma cidade de 22 mil habitantes. Aqui existe apenas uma creche da prefeitura. Por conta do benefício à baixa renda e para os refugiados (uma realidade para quem vive na Europa), é muito raro conseguir vaga nessa creche. Até porque, mesmo Sondrio sendo pequena, também temos refugiados vindos principalmente da África. A solução para nós foi procurar por creches privadas.
A tarifa é mensal, mas se formos calcular uma média horária, aqui em Sondrio os preços variam de 2,50 a 3 euros por hora. Custa bem menos que contratar uma babá. E, mesmo no caso das instituições particulares, os valores também variam de acordo com a renda da família.
A escolha e o programa de adaptação
Depois de sabermos de tudo isso, foi hora de selecionar a creche que gostamos mais, tanto pelas boas referências que recebemos nos grupos de mães do Facebook entre outras, quanto ao ambiente e também à distância. Visitei duas, e gostei realmente das duas. Mas na hora da escolha optamos pela mais próxima da nossa casa. Até porque o horário de entrada coincidia com a saída da escola da Sarah. Então, era preciso praticidade e o fator distância foi decisivo.
Faz quase três semanas que a Giulia iniciou a adaptação, que a princípio eu achei um exagero e muito engessada, mas com o passar dos dias acabou fazendo todo sentido.
A adaptação consistia em inseri-la por períodos e momentos diferentes. A ideia é permitir que a criança participe de todas as atividades que a escola oferece para que ela se ambiente. A Giulia estava muito acostumada a ficar somente comigo e de vez em quando com uma amiga nossa, por períodos de 2 a 3 horas no máximo. Fazer essa transição de uma forma planejada fez bastante diferença.
Nós contratamos o período da tarde, que vai das 12:20 às 17:30. Porém, a adaptação era feita pela manhã, avançando até chegar no período contratado. O programa foi assim:
1° ao 3° dia – 45 minutos com a presença da mamãe o tempo todo.
4° ao 6° dia – 30 minutos com a presença da mamãe e 15 minutos sem a mamãe.
A partir de agora a mamãe não fica mais com o bebê.
7° e 8° dia – 1h e meia incluindo o momento da merenda.
9° e 10° dia – de 3 a 4 horas incluindo a merenda, almoço e a soneca pós refeição. O bebê fica até a hora que acorda da soneca. No caso da Giulia ela dormiu um pouco menos na escola comparado ao tempo que dorme em casa. Faz parte da adaptação de ambiente e pessoas.
11° e 12°dia – entrava no período contratado, ou seja, com o almoço dado pela mamãe em casa. Fazia a soneca e merenda na escola até às 15:45.
13° e 14° dia – mesmo do anterior, com o horário estendido até às 17:00.
A partir do 15° dia, em geral, o bebê está pronto para ficar o período todo que foi escolhido.
A Giulia finalizou hoje seu último dia de adaptação e posso dizer que foi um sucesso. No primeiro estava bastante tímida e desconfiada, olhando tudo ao seu redor, grudada em mim. No segundo dia, consegui ficar um pouco mais distante – estou falando de 1 metro – com o olhar dela sempre me buscando. E no terceiro, ela já não me procurava e parecia se sentir mais “em casa”.
Bom para a filha e ótimo para a mamãe!
Confesso, como eu disse, que no começo achava um exagero e o processo lento demais. Mas hoje vejo o quanto houve cuidado por parte da creche em se preocupar com essa adaptação gentil. Hoje vejo o quanto ela fica grudadinha em mim quando a pego na creche, mas também a sua tranquilidade no tempo que a deixo lá. Percebo que fica serena e que, apesar de sentir a falta da mamãe, ela sabe que irá se divertir e que depois de tudo a mamãe vai voltar para buscá-la.
Uma coisa pra mim é fato: o ambiente da escolinha foi construído e pensado de forma divertida e segura para que um bebê fique livre e solto, além de ser muito estimulante. Aqui em casa não temos essa estrutura e por isso, é toda hora: “Giulia, aí não pode, faz dodói”.
Claro que a presença da mamãe é o que o bebê mais precisa. Mas também penso que nesse tempo, mesmo sem a mamãe, mas em um ambiente seguro, gostoso, estimulante e divertido, é importante tanto para ela quanto para mim. Falando um pouco da mamãe. Posso dizer que me sinto mais leve e descansada. Consigo realizar de forma mais tranquila e efetiva as tarefas de casa, cuidar da Sarah e do meu trabalho.
Por fim, com muita satisfação percebo o quanto tem sido bom meu tempo com a Giulia agora. Pois quando estou com ela, de fato estou só com ela. Não fico pensando nas coisas que ainda não consegui fazer e nas coisas que ainda preciso fazer. Hoje, por exemplo, me joguei no tapete e brincamos um monte de “cadê a mamãe”, “vou pegar você” e até dançamos juntas. Isso sem pensar em nada, a não ser o quanto era bom aquele tempo com ela.
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