Como transformei a minha vida com a expatriação
Eu cheguei à Califórnia em maio de 2018. E não fazia ideia dos desafios e de todas as transformações pelas que ia passar.
Neste texto eu vou falar sobre como deixei de ser uma pessoa que vivia no automático, só cumprindo tarefas. Aquela que só se cobrava para dar conta de tudo física e emocionalmente e que descontava todo o estresse e cansaço na comida. E como me tornei uma pessoa conectada com a minha própria vida e sentimentos, com a autocrítica sob controle e comendo de forma consciente.
Sim, a expatriação mudou a minha vida.
Antes da expatriação
Antes de vir morar na Califórnia, na minha outra vida no Brasil eu era advogada e contadora. Lá, trabalhava em um cargo de gerência de uma multinacional.
Hoje, avaliando tudo o que vivi, percebo que eu relacionava o meu sucesso profissional a estar sempre ocupada e estressada. Além disso, achava que se me permitisse sentir o estresse, o cansaço, a frustração e a ansiedade eu seria fraca e não teria o mesmo valor para as pessoas e para o mercado.
Antes que vocês pensem o contrário, eu era feliz. Gostava e sentia satisfação pelo meu trabalho, tinha uma família unida e amorosa, que estava sempre perto para ajudar. No entanto, não vivia em minha plenitude física, mental e espiritual.
À beira de um ataque de nervos
Eu estava sempre à beira de um ataque de nervos. Falava de forma ríspida. Comprava brigas sem necessidade. Penso que usava a raiva para tentar esconder de mim mesma o que sentia. E, para piorar, eu me afundava ainda mais no trabalho e controlava a minha vida e a da minha família para que tudo estivesse lindo, arrumado e tudo desse sempre certo.
Uma confissão: quando li em voz alta esse último parágrafo eu quase não acreditei que cheguei a esse lugar. Estresse, raiva, controle de tudo, até do incontrolável.
Obviamente, “esse lugar” me levou também a aumentar muito a minha cobrança interna para fazer sempre mais e melhor, para dar conta de tudo física e emocionalmente. Me culpava, me julgava, me criticava e ficava remoendo esses pensamentos por dias. Isso agravava ainda mais o meu estado mental de exaustão.
Não será surpresa para ninguém se eu disser que eu me afundava no brigadeiro de colher, na pizza e nas massas. Tentava, assim, sentir um prazer momentâneo e adormecer aquele turbilhão que estava dentro de mim.
Depois da expatriação
Com a minha mudança para Califórnia, decidi que queria viver uma vida diferente, mais conectada e leve. Não ter o apoio da família nos primeiros meses da mudança me fez perceber que ou eu iria encontrar um equilíbrio saudável para a minha vida ou eu ia acabar desenvolvendo uma doença física ou mental.
Eu estava no meu limite e decidi que precisava cuidar de mim, pois se não fizesse isso também não conseguiria cuidar da minha família, nem decidir o que faria com minha vida profissional.
Fiz uma série de cursos e especializações e, depois de muito estudar e aplicar o que aprendi em mim, eu percebi que primeiro eu precisava me permitir sentir.
As transformações
Todos aqueles sentimentos dos que eu vinha fugindo durante anos não eram necessariamente ruins. Claro que é desconfortável sentir ansiedade, frustração e medo, mas entendi que se nos permitirmos sentir e aprender, eles vão embora mais rápido. Isso é totalmente o contrário de fingir que eles não estão lá: eles ficam correndo atrás de nós o tempo inteiro para serem notados.
Quando me conectei com meus sentimentos, eu me conectei com meu perfeccionismo e minha autocrítica. E entendi que a culpa e o julgamento sugam minha força de ação e mudança. Fico presa no mesmo lugar, remoendo os mesmos pensamentos e sentimentos em um ciclo interminável.
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Percebi que eu sou a pessoa mais importante da minha vida e por isso mereço ser tratada com amor e respeito. Meu lema atual é autorresponsabilidade com compaixão. Isso ocorre quando entendemos que somos autoras de nossas vidas (e não vítimas). Devemos olhar para nossas ações e escolhas com compaixão e acolhimento para poder aprender e evoluir (e não nos culpar e ficar presas no mesmo lugar).
Naturalmente, ao aprender a lidar com meus sentimentos e parar de me culpar e julgar excessivamente, eu também deixei de ter a necessidade a e urgência de procurar determinados alimentos. Quando você entende o que sente e lida com seu sentimento, você não precisa da comida para fazer isso. Quando você entende e honra suas necessidades, não usa a comida como fonte de energia, prazer e bem-estar. Tudo entra em equilíbrio, pois você se ama, respeita e atende as suas necessidades.
Hoje
Depois dessa jornada e dessas transformações, eu decidi que queria ajudar mulheres que têm a mesma dificuldade que eu tive. Assim, hoje sou Coach de Nutrição Holística e ajudo mulheres a viver com presença e leveza sem o peso da autocrítica. Ajudo-as a encontrar seu equilíbrio saudável e o prazer além da comida, através dos meus programas de mentoria.
Essas foram as três transformações mais relevantes na minha expatriação e processo de autoconhecimento.
Espero que este texto te sirva de alguma forma e que você se inspire a aceitar e a acolher as mudanças na sua vida.
Com amor,