Meu nome é Mariana Day, eu tenho 29 anos e moro na cidade de Calgary, Alberta, no Canadá. Eu imigrei há 2 anos com meu marido sem saber absolutamente nada sobre o lugar que iríamos viver, pois não existiam muitas informações em português. Nós nos apaixonamos por Calgary e eu comecei a escrever conteúdo em português sobre a cidade. Aplicamos para residência permanente no país e com a chegada dos cartões de identidade chegou a notícia da gravidez de nossa primeira filha. Ficamos muito assustados, afinal de contas seria um bebê canadense crescendo sem raízes com as nossas famílias. Nós não estávamos totalmente adaptados ainda e essa foi a primeira coisa que sentimos: medo.
A minha gravidez durou quase 36 semanas, minha filha nasceu prematura através de um parto vaginal induzido de 32 horas. E eu nunca me senti desamparada pela saúde pública canadense, muito pelo contrário.
Eu sempre senti muita falta de ter a minha família por perto, pra ver a barriga crescer, sentir quando ela chutava, pra ir ao médico junto comigo, ouvir o coração. É claro que essa é a parte mais difícil de ser uma grávida expatriada.
Mas e ser mãe de primeira viagem e expatriada, qual é a sensação? A minha, era de estar sempre perdida. De não saber exatamente que instruções seguir. Mas nós sempre encontramos uma maneira ou outra de continuar em frente. No meu caso esse marco foi quando conheci outras mães expatriadas como eu, com bebês da mesma idade e outras mães canadenses.
Foi um divisor de águas na minha vida e com certeza na vida da minha filha também. Eu não me sinto mais sozinha, eu não me sinto mais perdida, eu tenho com quem compartilhar absolutamente tudo sobre a maternidade sem julgamentos, através do olhar de outras mães amigas que passam todos os dias pelas mesmas coisas que eu.
É claro que em um grupo de 24 mulheres brasileiras, mães e esposas, tem aquelas que acabamos ficando mais íntimas. Tem aquelas que estudam mais e acabam nos ajudando muito e nos poupando às vezes de algum sofrimento. Mas no geral, todas conseguimos dividir nossas angústias, compartilhar experiências e dicas.
As mães brasileiras e expatriadas, pelo menos por aqui e pelo que eu percebo, tentam ser completas. Já que não temos ajuda, precisamos estudar tudo, precisamos saber de tudo, precisamos colocar em prática com o bebê tudo o que aprendemos durante os meses da gravidez.
Obviamente que para tudo que eu escrever aqui, existem as suas exceções, afinal não somos todas iguais.
Nós vestimos as crianças no inverno como se fossem esquiar no meio da montanha para não passarem frio, porque não estamos acostumadas. Um dia de muita neve é um dia para ficar em casa pensando em como fazer no dia seguinte.
Somos muito preocupadas com tudo. Eu me preocupo se a minha filha está dormindo a noite inteira – “será que tem algo errado com ela?”. Somos estressadas demais. E eu não estou escrevendo isso como se fosse algo ruim, claro que não. É que nós somos apenas diferentes, somos preocupadas porque estamos sozinhas, contando apenas umas com as outras.
Eu percebo que nós brasileiras, adoramos uma festa, tudo é motivo para comemorar. Nós adoramos estar juntas umas das outras, nos reunimos com frequência para conversar, rir, almoçar, trocar nossas experiências e nossos filhos poderem ter contato com o português desde muito cedo.

Foto: Arquivo pessoal, amigos.
Já as mães canadenses são bem diferentes, ao meu ponto de vista. Elas são mais simples. Elas não se importam se o bebê está sem meia andando pelo shopping no inverno, elas não são tão vaidosas quanto as brasileiras. Elas seguem à risca a orientação do médico de que bebês não precisam de banho todos os dias, enquanto as brasileiras dão banho todos os dias e ainda enchem de creme pra hidratar e deixar o bebê cheiroso.
As canadenses não são muito preocupadas com a casa organizada, se tem lugar para a criança brincar: deixa ela brincar. Pode fazer bagunça, pode deixar a louça suja na pia, não precisa arrumar a cama hoje.
A questão da limpeza é algo que ainda me choca, elas não se importam muito se a cadeira de comer do bebê está suja: “senta aí e come, depois a gente limpa”. Claro que isso não quer dizer que elas não sejam preocupadas com a limpeza, quer dizer apenas que elas não querem se estressar com mais uma coisa para fazer.
As canadenses mandam as crianças para escola quando lá fora está fazendo -20 graus celsius de blusa térmica e jaqueta de inverno. É normal para elas. Mesmo aquelas que não possuem a família na cidade, elas enxergam tudo de uma maneira mais fácil, elas estão em casa de qualquer forma.
A reunião das canadenses é no parquinho para as crianças brincarem. Se não somos amigas, precisaremos de muito mais tempo para nos tornarmos. Mas elas são descomplicadas.
Elas tornam a maternidade mais simples e mais leve para que elas consigam fazer tudo. As mamães brasileiras querem tudo para ontem, querem que o médico atenda a ligação – mesmo sabendo que as coisas não funcionam dessa maneira por aqui.
Nós complicamos algumas coisas e eu acredito que é porque o brasileiro que vem morar fora do seu país, já tem uma bagagem tão extensa que decide que até a maternidade precisa ser extremamente bem sucedida. E não é assim que precisamos dançar a melodia dessa música.
Eu acredito que todas as mulheres que são mães experienciam as sensações de insegurança e segurança de maneiras muito diferentes. Mas uma coisa é mais do que certa: todas nós temos algo em comum e finalmente sabemos o que nos faz continuar em frente e não desistir – o amor pelos nossos filhos.
O amor é o sentimento que nos faz seguir e o medo é o que nos trava. Todas somos iguais nesse sentido. Todas nós fazemos o melhor que podemos com aquilo que nos é apresentado. No Canadá ou no Brasil a maternidade é difícil para todas as mulheres, não existe uma que saia dessa experiência completamente mudada.
Nós pagamos com a nossa língua muitas vezes quando viramos pais e isso é igual em todos os lugares. Não faz diferença se somos complicadas ou simples. É sempre muito recompensador e muito, mas muito difícil. Afinal de contas, ser mãe é padecer no paraíso (onde quer que ele seja!).
14 Comentários
Texto sensacional! Conseguiu colocar em palavras exatamente o que sentimos! Parabéns! You rock! ☺️☺️☺️
Obrigada amiga querida! Um beijo!
Adorei! Me representou em cada palavra!
Gratidão!
Que bom Cristiana! Um beijo!
[…] Leia também: Como é ser mãe no Canadá? […]
[…] Leia também: Como é ser mãe no Canadá […]
Achei super interessante você falando das mães canadenses, moro na NZ e as vejo bem assim também. Aos poucos vou adquirindo esse jeito mais relax delas e com menos cobranças, principalmente as estéticas. O que importa no fundo é a felicidade das crianças.
Verdade Sam. Aos poucos a gente também vai se adaptando né, afinal de contas a gente acaba tendo que se inserir na cultura também e isso engloba inclusive o jeito mais relax. Eu to tentando também, a passos de formiga, mas vamos indo! Um beijo!
[…] Leia também como é ser mãe no Canadá […]
[…] aqui sobre a experiência de uma mãe brasileira no […]
[…] a leitura do texto da Mariana Day, sobre Como é ser mãe no Canadá, e também o da Regiane Legras, que conta como é ser mãe de adolescente na […]
[…] Leia também: Como é ser mãe no Canadá? […]
[…] Esta questão de criar filhos longe da família e dos amigos do Brasil afeta quase todas as mães, a Mariana Day escreveu como afetou ela lá no Canadá e como um grupo de mães a ajudou nesta nova fase da vida, leia aqui. […]
[…] também o texto Como é ser mãe no Canadá que trata da forma “descomplicada” como as canadenses enfrentam a maternidade. Cada […]