Ainda muito nova eu sonhava em trabalhar e morar fora do Brasil. Mas formar uma família na Índia definitivamente não passava nem perto dos meus planos. Obtive acesso a uma educação de qualidade e cursos de inglês desde a infância, e assim que terminei o Ensino Médio, fiz cursos voltados para a área da saúde, com a qual eu sempre me identifiquei. Trabalhei por alguns anos em um grande laboratório da minha cidade e me arrisquei na faculdade de Farmácia, curso que acabei trancando após dois anos de estudo. Até 2016, eu tinha um emprego estável, mas me sentia imersa “inconfortavelmente” na minha zona de conforto. Ainda no segundo semestre de 2016, recebi um convite de uma prima que mudou a minha história.
Mudança para o Bahrein e o encontro de um grande amor
Bahrein é um país árabe, muçulmano, bem pequeno e localizado no Sudoeste Asiático. Faz fronteira com a Arábia Saudita e os Emirados. Fui morar lá com uma parte da minha família e trabalhei em um hotel, numa função que não tinha nada a ver com a minha área. O trabalho era divertido e muito bem remunerado, graças às gorjetas desproporcionais que os árabes têm o costume de dar.
Logo nos primeiros dias conheci um colega de trabalho indiano, que se tornou meu atual marido. Foi amor quase à primeira vista e logo começamos a namorar. Trabalhamos juntos por cerca de dois anos, quando a relação ficou séria e, no início de 2018, decidimos que iríamos nos casar na Índia e nos mudaríamos para lá no ano seguinte.
Gravidez (nem tanto) planejada
Em maio de 2018, fui com uma prima ao Brasil visitar a família. Além do Brasil, passamos poucos dias em outros países da Europa e eu já sentia alguns enjoos, mas acreditava que eram resultado das longas horas viajando de avião. Ainda durante as férias, reparei que estava atrasada e desconfiei que pudesse estar grávida. Na volta ao Bahrein, fizemos um teste de gravidez e, mesmo com planos em ter filhos logo, ficamos assustados nos primeiros dias após a descoberta da gestação.
O Bahrein é um país construído praticamente por expatriados, onde você pode vestir o que quiser e encontra tranquilamente bares, baladas e outras “coisas ocidentais”. Mas se tem algo que não é permitido por lei é ser mãe solteira. Por esse motivo, resolvemos adiantar a papelada do casamento ainda no Bahrein, mas, pelo fato de sermos expatriados, casar em um país muçulmano não era um procedimento fácil de ser realizado.
A experiência do pré-natal em dois países diferentes
Metade do meu pré-natal eu fiz no Bahrein (uma boa parte dos exames de sangue e algumas ultrassonografias), então eu já sabia que teria uma menina. Fizemos uma parte da compra do enxoval por lá e enviamos para a Índia antes de irmos embora. A “mãe clichê” baixou em mim e eu comprei a maioria do enxoval em rosa. Saber o sexo da minha bebê ainda no Bahrein foi essencial, já que na Índia é proibido saber o sexo da criança antes do nascimento.
Pude notar claramente a diferença do pré-natal nos dois países. Mesmo tendo escolhido um hospital particular na Índia, a estrutura hospitalar em países desenvolvidos como o Bahrein é certamente superior. O hospital escolhido para a segunda metade do meu pré-natal e o parto foi um católico que é referência aqui na cidade. Mesmo assim, algumas técnicas utilizadas fizeram eu me sentir no século passado.
A tentativa de um parto normal
Eu queria muito ter um parto normal. Mas quando completei 40 semanas e meia de gestação, minha médica me aconselhou a não esperar mais, já que na Índia não é muito comum que as gestantes passem de 40 semanas.
Na última consulta optei por internar e induzir ao parto normal. Quase todas as técnicas de indução foram aplicadas: a ingestão de comprimidos de misoprostol (para ajudar na dilatação do colo do útero), a introdução de ocitocina intravenosa e o descolamento da bolsa amniótica da parede uterina através do exame de toque. Logo após a ingestão do primeiro comprimido já comecei a sentir as contrações, que se estenderam por 15 horas.
Mesmo com as técnicas que foram aplicadas e minha bolsa rompida, eu sentia contrações com intervalos de 2 minutos, mas não apresentava mais do que 1cm de dilatação. Minha bebê também não estava encaixada e estava relativamente alta na pelve.
Leia mais: Gravidez na Índia – parte um e parte dois
Após 15 horas desde o início da indução, decidimos pela cesárea. Fui levada ao centro cirúrgico, sem a possibilidade de um acompanhante. Meu marido já havia me avisado que aqui os familiares não podem acompanhar o parto, mas mesmo assim fiquei levemente abalada. Logo após tomar a anestesia, fui deitada na maca e tive meus braços amarrados, um de cada lado da maca. Aquilo com certeza era algo que eu não esperava.
Minha cirurgia foi rápida e sem intercorrências, assim como a minha recuperação do pós-operatório. Mesmo passando por algumas técnicas obsoletas, não me arrependo de nenhuma decisão tomada. Minha família na Índia tinha sido formada: Anika nasceu saudável, com 3.750kg e 50cm e, em alguns dias, estávamos em casa.
Minha filha, metade indiana, metade brasileira, hoje tem um ano e meio e é a minha maior inspiração. Seu nome tem origem do sânscrito e significa graciosidade, brilho ou esplendor. E foi como começou a minha jornada na Índia, que eu pretendo dividir com vocês nos próximos meses aqui no Mães Mundo Afora.
4 Comentários
Barbara seja bem vinda! Li seu texto e agradeço imsamente por você compartilhar sua história.
🙏🏾
Muito obrigada, Luciana! Fico feliz em compartilhar!
Lindo tecto! Vou adorar seguir a história ďe vcs!
[…] eu já contei lá no meu primeiro texto (link aqui), eu realizei metade do meu pré-natal no Bahrein (onde descobri que teríamos uma filha), e […]