Como a imaginação infantil e as tradições locais podem ajudar na adaptação das crianças em um novo país
No Brasileirinhos pelo Mundo existem muitos artigos que contam sobre as tradições culturais de cada país. Nesse mês, em que o foco está sobre a Itália, uma linda tradição local foi contada pela Tatiana Buzzi, em seu texto “Viva la Befana!”. Outros exemplos são do Christingale alemão (explicado pela Jessica Rabello) e do Thanksgiving americano (contado pela Luana Teles).
Em todas estas tradições há uma mistura de cultura local, imaginação e alguma pitada de personagens míticos ou fictícios. É de senso comum que as crianças são seres imaginativos por natureza e é bastante importante para nós, pais, entender os motivos desta imaginação, para poder respeitar e auxiliar o desenvolvimento mais saudável dos nossos filhos. Campos de conhecimento, como a neurociência e a psicopedagogia, e correntes pedagógicas, como Waldorf e Montessori, estimulam e evidenciam a importância das histórias infantis e dos contos de fada no desenvolvimento psicológico e intelectual das crianças.
O objetivo deste texto é explicar um pouco a importância das tradições locais e dos contos de fada na melhor adaptação da criança em outro país.
Imaginação, contos de fada e arquétipos
A maioria dos estudiosos de inovação, pedagogia e psicologia afirma que uma das características mais importantes em uma personalidade é a adaptação e que esta adaptação depende, dentre outros fatores, da criatividade e da imaginação. Pessoas mais imaginativas e criativas têm maiores chances de se adaptar a diferentes contextos e situações e de inovar na resolução de problemas, tendo mais chances de sucesso.
Crianças são seres imaginativos e fantasiosos por natureza e é muito importante manter e estimular essa imaginação e fantasia. Segundo Rudolf Steiner, propositor da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf,
se a criança é capaz de se entregar por inteira ao mundo ao seu redor em sua brincadeira, então em sua vida adulta será capaz de se dedicar com confiança e força a serviço do mundo.”
Este filósofo também propôs a disciplina da Biografia Humana, que divide a vida humana em setênios, ou seja, em períodos de sete anos, em que existem características comuns a todas as pessoas. Assim, o primeiro setênio, dos 0 aos 7 anos, é muito caracterizado pelo desenvolvimento físico do indivíduo e por sua capacidade imaginativa. E a imaginação deve ser estimulada por meio do brincar e dos contos de fada (para conhecer mais, recomendo o livro “Tomar a vida nas próprias mãos”, de Gudrun Burkhard).
Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, trabalhou bastante o conceito de símbolos, arquétipos e inconsciente coletivo. Para a psicologia analítica,
os contos de fadas seriam a expressão mais pura e mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo”.
Assim, o estudo dos contos de fadas é essencial, pois podemos entender as estruturas humanas básicas.
Os contos de fada e as fábulas trabalham questões muito profundas da personalidade humana, como pode ser observado nos Contos de Grimm e nas Fábulas de Esopo. Em relação aos primeiros, os irmãos Grimm eram acadêmicos, linguistas e escritores alemães do século XVIII, que reuniram 53 contos de fada de tradição oral europeia. São de sua autoria histórias universais, como “Chapeuzinho Vermelho”, a “Bela Adormecida” e “Hansel e Gretel” (João e Maria, em português). Já as Fábulas de Esopo foram descritas por Esopo, um escravo da Grécia Antiga. São um conjunto de histórias, em geral com protagonistas animais, cujo objetivo é evidenciar alguma qualidade moral na educação de crianças. Alguns exemplos são “A cigarra e a formiga”, “A raposa e as uvas” e “O lobo e o cordeiro”.
Tradições locais e cultura
As tradições locais também podem ser entendidas, frequentemente, como contos de fada. Tomando o exemplo da Befana, no texto da Tatiana Buzzi há duas explicações para essa tradição. A primeira delas é a mais simples e corriqueira, de uma senhora feia e suja de fuligem que entra pela chaminé e deixa doces nas meias penduradas na lareira para as crianças que se comportaram bem, ou carvão para as que se comportaram mal. A segunda fala que a origem da Befana (ou Epifania) é que os Reis Magos bateram na casa de uma senhora pobre em uma noite, pedindo indicação da estrada que ia à Belém, para prestar homenagem ao Menino Jesus. Insistiram para que ela os acompanhassem, mas ela se recursou. Depois, arrependida, ela foi atrás dos Reis Magos e, em cada porta que batia, deixava um presente para cada criança na esperança de que ali habitasse o Menino Jesus.
Em ambos os casos, percebe-se muito da cultura local. Em primeiro lugar e mais evidente, há a tradição religiosa cristã em um país profundamente católico. Há ainda o fato implícito de que cada criança traz a centelha do Menino Jesus em si, já que cada uma delas recebe uma homenagem destinada a ele. Mas há outros fatores que podem ser vistos. O fato das meias penduradas na lareira, por exemplo, que mostra um país de clima frio onde, antigamente, as pessoas chegavam com os pés molhados pela neve e colocavam as meias penduradas na lareira para secar para o dia seguinte.
Ou seja, são sentidos muito profundos que emergem de uma cultura. Deste modo, elas explicam muito da cultura daquele determinado povo.
Se queremos que nossos filhos se integrem da melhor forma possível na nova sociedade em que estão vivendo, participar ativamente das atividades culturais locais é das melhores maneiras de fazer com que isso aconteça.
Por fim, muito importante também é procurar manter algumas tradições e histórias do país de origem (no nosso caso, do Brasil). Em uma cultura muito rica, com o nosso folclore, muitas são as histórias que podem ajudar a formar a personalidade. Isso faz com nossos filhos possam seguir padrões arquetípicos e instintivos de mais de uma cultura, gerando indivíduos livres e multiculturais.
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