Caminho de volta: como tem sido nosso retorno ao Brasil
Respiro fundo. A sensação de ter conseguido embarcar gera uma série de reações em mim: alívio, cansaço, medo e ansiedade. Uma mistura de sentimentos.
Finalmente, tínhamos embarcado no segundo voo com destino a São Paulo. Aperto meu cinto, vejo se as crianças estão acomodadas, cachorros tranquilos, marido por perto, e então, deixo meu pensamento voar. Pela minha cabeça começa a passar um filme. Já foram tantas mudanças e agora estamos fazendo o caminho de volta. Tomar a decisão de retornar ao Brasil não foi fácil.
Nesse momento de reflexão, eu me lembrei de quando eu tinha seis anos – idade da minha caçula hoje – ano em que minha família retornou para São Paulo depois de um longo período de mudanças pelo Brasil. Parecia tão recente: minha adaptação na escola, as crianças curiosas com o meu sotaque, e a família tão feliz com o nosso retorno. Naquela época ainda nem imaginava por quantas mudanças eu ainda passaria.
Novo capítulo
Agora, depois de muitos anos, eu estou novamente retornando. Desta vez com marido, três filhos, dois cachorros, muitas expectativas e incertezas, com destino a São Paulo.
Um novo capítulo estava prestes a se iniciar. Na verdade, para nós, um recomeço. Apesar de sermos brasileiros, e parecer estranho, morar fora faz mudar nosso status. Ficaremos no limbo durante um tempo. Certamente, teremos uma readaptação pela frente mesmo que seja em terra conhecida.
Mas nosso caminho de volta não foi tão fácil assim. Há pouco tempo eu contei sobre as nossas mudanças e como eu e minha família resolvemos voltar para o Brasil. Contudo, não foi uma decisão fácil. Hoje tinha chegado a hora. Se você quiser ler também esse relato clique aqui.
Viver no exterior nem sempre são flores. São tantos desafios e sentimentos contraditórios, e, quando voltamos, nos deparamos com uma realidade diferente daquela que deixamos para trás. E claro que também voltamos diferentes de quando partimos.
Mudança em meio a crise mundial
Entretanto, a nossa mudança ainda tinha um grande obstáculo pela frente. Estamos diante da grande crise mundial, a pandemia do Covid-19.
Quanto à quarentena, essa parte tem sido bem parecida pelo mundo afora. Distanciamento social, isolamento em casa, medo, insegurança, preocupação tanto com os mais velhos, quanto com as crianças. Muita comilança, excesso de eletrônicos e, grandes descobertas nas pequenas alegrias diárias no convívio familiar tão intenso. Nesse meio tempo, iniciamos o processo de regresso.
Marcamos e remarcamos as passagens aéreas várias vezes. Isso porquê o nosso visto estava prestes a vencer e não podíamos esperar o término da pandemia, que era incerto. Além disso, tivemos que trocar de companhia aérea já que os voos dos Estados Unidos para o Brasil foram se restringindo cada vez mais. Ao mesmo tempo, preparamos a documentação dos nossos cachorros. Essa história foi bem longa também.
Suporte emocional
Temos dois cachorros pequenos que já tem seis anos e seguem conosco em nossas andanças. No entanto, dessa vez, eles não poderiam ser transportados como fizemos das outras vezes. O serviço de transporte aéreo para pets estava suspenso desde meados de março.
Assim, nos restou organizar a ida de todos juntos, nós e os cachorros. Para viabilizar a viagem conjunta, foi preciso pedir ajuda para a pediatra das crianças. Perante as circunstâncias, ela fez uma declaração explicando que as crianças já estavam passando por uma situação muito estressante. Além de estarem isoladas da família, da escola, dos amigos, no nosso caso, ainda se somava a questão da mudança. Como forma de ampará-los, os cachorros seriam suporte emocional na viagem de retorno ao Brasil. Além disso, o veterinário atestou a condição de saúde dos animais. Foi um grande alívio saber que eles continuariam conosco e, agora aqui no voo vê-los no colo das crianças fez grande diferença.
Leia também o texto: Adaptação das crianças em outro país.
Logística da Mudança
Definitivamente, organizar uma mudança é sempre um desafio de muita paciência. Dessa vez, somamos ao processo o isolamento social que dificultou bastante.
Marcamos a data para a saída do nosso contêiner, daí passamos a cancelar os serviços, contas do banco, da casa, comunicamos a escola e então, passamos às despedidas.
No quesito despedida, confesso que tivemos uma grande surpresa. Num horário pré-determinado toda a família foi para a porta da casa de máscaras, conforme combinado. De repente, apontaram três carros da polícia, do xerife local, com as sirenes ligadas. No primeiro momento até nos assustamos, mas avistamos os carros enfeitados dos amigos vindo logo atrás e o policial desejando uma boa viagem para as crianças: “Julia, Eric e Henrique have a safe trip back to Brazil!”.
Por fim, os vizinhos saíram curiosos para ver o que estava acontecendo e nos despedimos com o devido distanciamento social, mas confortados pelo carinho dos amigos.
Planos para o futuro
Enfim, ainda não sabemos como será daqui pra frente. O medo do contágio, tanto de termos nos contaminado na viagem, quanto de contaminar as outras pessoas, ainda vai permanecer conosco.
Espero voltar em breve para contar como será nossa readaptação no nosso Brasil brasileiro, para poder cantar-te nos meus versos, crianças, escola, família, amigos.
Aqui, sentada no avião que ainda não aterrissou sigo em meus pensamentos, lembrando de músicas, poemas e desejando que tudo passe logo e que todos que estejam lendo esse texto estejam bem e com saúde. Afinal, melhor lembrar da canção: “Andá com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”.
7 Comentários
Querida Raquel, que bom que deu tudo certo no regresso ao Brasil. Acho que o mês que antecede qualquer mudança é estressante: venda do carro, encerramento na escola, encerramento de conta bancária, rol da mudança e cancelamentos de água, luz, telefone…Não consigo imaginar com as mudanças de datas, de companhias aéreas e ainda mais uma pandemia!!! Deixo aqui a minha admiração por você e sua família,
Um grande abraço,
Rachel
Rachel minha amiga da Califórnia, a vida ainda não voltou ao normal mas acho que vai melhorar. Quando você puder vir para cá me avisa quem sabe conseguimos nos ver. bjs com carinho
Saudades, Raquel!! Vocês são muito especiais!
Para ser uma volta perfeita, vocês hoje estariam aqui em Varginha.
Beijos nos meninos e ma Julinha.
Ah Simone querida!! Saudade. Deixa tudo acalmar de novo e vamos visistar vocês. Obrigada sempre pelo carinho. bjs
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Olá Raquel, muita admiração e inspiração em vocês! Que dê tudo certo! Estamos há 5 anos vivendo em Michigan USA e não há 1 dia sequer q não pensamos em retornar! Saber de retornos como o seu nos fortalece! Grande abraço e boa sorte!!
Olà Karen muito obrigada pelo carinho em forma de mensagem!! Por aqui estamos bem ainda em processo de readaptação, mas felizes por estarmos de volta. Desejo muito que os planos de vocês também possam se concretizar, se precisar de algo por aqui pode contar comigo (pelas redes socais só me procurar como leispelomundo). Muita força para vocês abraços com carinho.