Mudar não é fácil. Seja uma pequena ou uma grande mudança, seja de cidade ou de país, mudar envolve desprendimento, coragem e resiliência. E quando a mudança envolve crianças, é preciso ter, além de tudo, calma e paciência, pois cada criança é única e reage de diferentes formas. Então, aquela máxima que todos repetem “ah, mas criança se adapta rápido” nem sempre se confirma na realidade das famílias que imigram. Então, hoje quero falar sobre a adaptação das crianças ao mudar de país.
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Em apenas dois anos, mudamos de São Paulo para Berlim (Alemanha), onde ficamos 18 meses, e de Berlim para Lisboa (Portugal). Em todas as vezes, percebemos no comportamento do meu filho, em maior ou menor grau, que:
– inicialmente ele demonstrou euforia e ansiedade;
– em um segundo momento, saudade e resistência;
– e finalmente, percebemos que conseguiu a tão sonhada adaptação.
Nossa primeira mudança de São Paulo para Berlim ocorreu por causa do trabalho do meu marido. Foi algo repentino. Nunca havíamos cogitado a hipótese de morar na Alemanha, embora já tivéssemos pensado em viver fora do Brasil.
Chegamos lá sem falar nenhuma palavra em alemão, somente inglês. Então tivemos que aprender tudo do zero: língua, hábitos, costumes e regras.
Nossa experiência com a adaptação
Nosso filho, que na época tinha completado 5 anos, adaptou-se bem na escola e aprendeu a falar alemão relativamente rápido. Como todos nós éramos imigrantes e também por causa da idade dele (em breve ele iria para a 1a série e precisava aprender a língua o mais rápido possível), conseguimos o número máximo de tempo no jardim de infância – nove horas por dia.
No sistema de ensino público alemão, pelo qual optamos, o número de horas oferecido pela secretaria da educação varia de criança para criança e pode ser de seis a nove horas por dia. Isso na cidade de Berlim. Cada estado alemão tem suas próprias regras e podem funcionar de modo diferente.
Além do jardim de infância, ele começou a frequentar aulas de esporte e também fazia aulas de reforço em alemão para desenvolver o idioma, enquanto nós aprendíamos a língua.
Pontos práticos e emocionais
Do ponto de vista prático (escola, atividades extra-curriculares, vida social) tudo fluiu satisfatoriamente. Ele foi super bem acolhido na escola, as professoras dedicavam-se a ele e os amiguinhos o ensinavam o idioma.
Porém, sentimos que ele teve um pouco de dificuldade no campo das emoções, pois sentia muita falta da nossa família que ficou no Brasil e demorou um pouco mais do que o esperado para lidar com isso, apesar de todo o nosso apoio.
Quando um dos pais é nacional do país em que será a nova morada, acredito que o processo de adaptação seja um pouco mais fácil, afinal, há um lado da família por perto e, consequentemente, mais apoio afetivo e afinidade com a cultura local. Mas quando ambos são estrangeiros, terão, além de adaptar-se, que acolher aquela criança que, às vezes, não entende por que mudaram-se para tão longe, quando poderiam estar junto da família e amigos. E essa era a pergunta que ouvíamos todos os dias.
Da Alemanha para Portugal
Após nos adaptarmos na Alemanha, a vida nos levou para Portugal. Aqui, a adaptação foi bem mais fácil. Um pouco pela língua e pela cultura, mas muito pela maturidade que criamos. Mas não deixou de ter desafios e de ser uma nova adaptação. Meu filho agora sente falta da vida e amigos que fez na Alemanha. E, às vezes, ainda quer voltar para o Brasil.
O que hoje para ele é um desafio, acredito que no futuro será benéfico. Essa plasticidade e capacidade de aprender, de ser resiliente, de se ajustar e de enfrentar o desconhecido forja um ser humano mais forte e capaz.
Portanto, apesar das crianças terem maior facilidade no aprendizado de idiomas, em assimilar regras sociais e fazer amizades, não podemos esquecer que elas também sentem saudade e medo do novo e isso pode refletir na adaptação como um todo.
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É preciso apoiar emocionalmente nossos filhos para que eles caminhem seguros de si nessa nova estrada. Acolher suas inseguranças e receios. Aplaudir as pequenas vitórias do dia a dia. Só assim se sentirão confiantes e terão coragem para explorar o novo.
Um passinho de cada vez, como quando aprendem a andar. Com paciência, uma nova vida se estabelece e nossos passarinhos voarão felizes e fortes novamente. E a família toda vai respirar aliviada.
Ah, o tempo. Ele sempre será o nosso melhor amigo!! Como foi sua adaptação ao mudar de país, cidade ou mesmo de bairro? Compartilhe sua experiência nos comentários e vamos conversar!
1 Comentário
Ola. Estou em busca de um apoio e experiencia para trocar devido a uma grande mudança que poderá acontecer este ano.
Saimos do RJ ha quase 4 anos atras, e viemos para Portugal com nossa filha de 5 anos na epoca. Na balança, posso dizer que o saldo foi positivo em relação a adaptação, apesar da saudade, dela fazer algumas comparações… Ela sentiu sim, não foi pouco, mas ja parece superado. E agora, com seus quase 9 anos, vinculos criados na escola, mais uma oportunidade surgiu, so que em Bruxelas.
Uma mudança radical, ja que so quem fala ingles é meu marido. Estamos correndo atras de estudar a lingua e nao chegar la 100% perdidos, mas o que mais preocupa é a nossa mais velha em relação ao aprendizado escolar e socialização. Pode acalmar este coração de mãe?