Vocês já ouviram as expressões “pensar fora da caixa” e “sair da zona de conforto”? Acredito que sim pois são expressões muito frequentes no discurso das famílias mundo afora.
Na minha percepção, além de serem características (ou atitudes) valorizadas no mercado de trabalho, são pré-requisitos para todas as pessoas protagonistas de suas histórias. E com base nessa ideia planejamos um intercâmbio em família.
Pensar fora da caixa
Pensar fora da caixa significa pensar diferente de como a maioria das pessoas pensa; ser (ou fazer coisas) fora do padrão; ser criativo e inovador.
Mas como pensar fora da caixa se desde pequenos somos ensinados a colorir dentro das linhas, se na adolescência nos vestimos e nos comportamos como os nossos pares, se estamos sempre sendo direcionados a agir como a massa (a maioria da população)?
Estudando as ciências humanas e sociais, aprendi que vemos o mundo com os óculos (ou as lentes) da cultura em que estamos inseridos. Desde pequenos aprendemos em casa, na escola, na televisão e na sociedade quais são os comportamentos esperados, desejados e adequados em uma determinada cultura. Somos educados a seguir um padrão, a pensar dentro da caixa e, mesmo quando somos adultos e temos consciência disso, fazemos o mesmo com os nossos filhos. É algo mais forte do que nós.
O contexto (e a cultura) está para nós, seres humanos e sociais, como a água está para os peixes! Não vivemos fora do contexto!
Para ver a ilha é preciso sair da ilha
Quando saímos do nosso contexto, ao mesmo tempo em que questionamos comportamentos que até então pareciam óbvios, nos deparamos com situações diferentes que talvez não se encaixem na nossa caixa. De fato, alguns comportamentos e atitudes (da nova cultura) parecem bem estranhos. E o que eu aprendi nos livros fez todo o sentido quando tive uma experiência fora da ilha.
De 1995 a 1997, morei em Milão na Itália. Migrei recém-casada, naquela época não existia internet, as chamadas internacionais custavam os “olhos da cara” e a distância parecia muito maior do que de fato é. Eu que nunca havia pensado na possibilidade de morar em outro país e já tinha passado por uma estressante mudança (de bairro e de escola) na adolescência, me transformei naquela experiência.
Morar fora me fez ver o mundo com outros olhos. Eu literalmente vi o mundo, conheci lugares que não sabia que existiam e costumes muitos diferentes dos meus. E isso abriu a minha mente de uma maneira inacreditável.
Leia mais sobre isso em: A experiência única de morar fora
Sobre mudar de país
Descobrir outras maneiras de ver, ser e estar no mundo é uma experiência libertadora. Explicando melhor. Ao chegar em uma nova cultura nossa tendência inicial é analisar tudo a nossa volta com as lentes antigas, julgando, comparando estabelecendo o que é melhor e o que é pior. Com o tempo, aprendemos que são mundos diferente, logicas diferentes. DIFERENTES e não melhores ou piores.
“O jeito certo” ou “a única alternativa” passam a ser “um jeito” ou “uma alternativa” e essa mudança amplia a nossa visão de mundo, nos faz mais curiosos, mais criativos, mais inclusivos e, consequentemente menos preconceituosos, já que nossos preconceitos são formados pelas ideias pré-concebidas a partir da nossa visão limitada de mundo. Será que isso faz sentido para vocês?
Aprendi que o nosso maior problema está nas nossas certezas, nas nossas crenças. Precisamos substituir os artigos “a” e “o” por “uma” e “um”. Tem uma figurinha que já circulou bastante na internet que ilustra isso muito bem:
Uma pessoa vê o número seis, a outra vê o número nove e os dois estão certos. Várias vezes não conseguimos entender o ponto de vista do outro, porque a gente não permite que exista uma outra possibilidade ou uma outra forma de ver, de fazer e de pensar diferente da nossa.
Sair da zona de conforto
Fala-se muito sobre a importância de sair da zona de conforto para mudar, crescer, aprender e evoluir.
A zona de conforto é onde estamos confortáveis, conhecemos as situações positivas e negativas. Confortável, aqui, não significa necessariamente algo bom, mas algo conhecido. Ao mesmo tempo que sair da zona de conforto pode gerar estresse, medo, incertezas frente ao desconhecido, nos apresenta novas situações, novos aprendizados, novas habilidades. Aos poucos, ampliamos a nossa zona de conforto, crescemos e evoluímos.
Mudar de país significa sair totalmente da zona de conforto – tanto no sentido figurado quanto literal. É preciso aprender outra língua, outra cultura, tudo sobre o sistema de educação, de saúde, sobre as burocracias e as atividades do dia a dia. Tudo é novidade. O medo, a insegurança, o desconforto são enormes, mas a o aprendizado é gigantesco. Escrevi esse texto sobre alguns aprendizados da minha família.
Intercâmbio em família
Claro que para pensar fora da caixa e sair da zona de conforto não é preciso mudar de país, mas foi o desejo de fazer com que as crianças vivessem isso que nos fez pensar na possibilidade de um intercâmbio em família.
Planejamos tudo nos mínimos detalhes. Seria uma experiência de oito meses em um país diferente e, depois desse tempo, voltaríamos a nossa vida de antes – mesma casa, mesma escola, mesmos amigos, mesmo trabalho e uma visão de mundo diferente.
As crianças frequentariam a escola pública italiana de novembro a junho. Mesmo antes de vir pra Itália já tínhamos visto a escola e falado com os diretores. Como a escola do pequeno deveria ser perto de casa, alugamos um apartamento provisório para o nosso primeiro mês na nova cidade. Em junho quando terminassem as aulas na Itália, viajaríamos um pouco pelo país da bota e voltaríamos para o Rio de Janeiro no mês de julho, cheios de novidades.
A reação das crianças diante de tantas mudanças
O pequeno estava tão eufórico com a experiência na Itália que estudava muito mais o italiano que o português. A mais velha não falava nada, mas teve uma crise de urticária muito séria, que na minha opinião era a manifestação do seu medo e de toda ansiedade.
Ainda assim, continuamos com a ideia de morar fora e sempre deixamos claro que, caso elas não se adaptassem, poderíamos voltar antes do previsto. Tínhamos certeza de que valeria a pena e as crianças só poderiam fazer uma avaliação a posteriori.
O planejamento que parecia perfeito
Pensamos em tudo, acreditávamos ter todas as variáveis sob controle e, ainda assim, o planejamento deu errado!
Nosso experimento deveria durar apenas oito meses. Já se passaram 40 e ainda estamos por aqui. Brincadeiras à parte, acredito que por ter planejado muito bem, as crianças se adaptaram melhor do que imaginávamos e hoje, apesar de longe do país de origem, estão felizes neste novo estilo de vida.
2 Comentários
Amei seu texto Carla👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾. Parabéns e muito sucesso na sua caminhada.
Aum abraço virtual cheio de boas energias.
Obrigada Luciana!
acho que todas nos vivemos isso, ne?