A relação entre música e desenvolvimento infantil
Hoje vou compartilhar com vocês algo que foi uma surpresa para mim e que mexe muito comigo.
Um dia, no primeiro ano de escola das crianças aqui na Itália, eles chegaram em casa com um papelzinho que dizia: “aprenda uma instrumento.” Eu, que nunca tive nenhum contato ou habilidade com a música – a não ser através da dança, pois sempre curti uma boa aula de jazz, dançar quadrilha e até uma aula da antiga “aeróbica” nas academias -, confesso que não dei muita atenção.
Porém, tive a sensibilidade de perceber logo de cara a empolgação da galerinha daqui com as aulas e apresentações musicais. Uma colega de turma da minha filha tinha tocado bateria e ela estava toda eufórica.
A escolha dos instrumentos
Então, resolvi perguntar a eles o que cada um tinha vontade de fazer. A mais velha sem nem pestanejar gritou: CANTO! Acho que eu já esperava por isso. Sabe aquela idade dos 8/9 anos que toda menina quer ser cantora, atriz, blá-blá-blá? Quem nunca?!? Risos.
Agora, o que me espantou foi que o meu filho caçula pensou, pensou e com muita calma me disse: “mãe, quero fazer piano.” Eu pensei: “PIANO? De onde esse menino tirou isso?”. Esperava bateria, guitarra, qualquer outra coisa mais agitada, tendo em vista que ele adora imitar roqueiros e escutar uns bons rocks com o pai. Não sei se chegou a ser um preconceito meu ou realmente total falta de contato com o instrumento, mas me surpreendeu.
E assim foi feito. Fui até a escola de música para entender como funcionava. Lá me explicaram que, através do projeto “Aprenda um Instrumento”, nos primeiros três meses eu pagaria um valor simbólico pelas aulas e as crianças fariam aulas coletivas. Se fosse o caso de continuarem, aumentariam para um valor mais justo e poderiam optar por fazer um tempo maior de aula e individualmente.
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As aulas de canto começaram com maior sucesso. Estenderam-se por seis meses. Terminaram com uma apresentação lindíssima, quando pude entender e acreditar profundamente na seriedade do projeto. Não era só uma brincadeira de cantar, foi realmente um espetáculo em vários tons e timbres. Fiquei fã. Realmente admirada com a capacidade da professora de conseguir tanta disciplina e empenho do grupo nada modesto de meninas.
A minha pequena curtiu, aprendeu, participou, mas na hora de iniciar o novo ano se desinteressou. Optou por não continuar. Segundo ela, agora pretende fazer uma nova escolha. Tem falado em bateria… será?! Vamos ver no que vai dar.
Já o nosso pequeno pianista não só tomou gosto pelas aulas, como tem se saído de maneira excepcional. Após o espetáculo de fim de ano, por opção exclusiva dele, iniciou as aulas individuais e vem se desenvolvendo muito. Uma das minhas maiores satisfações é buscá-lo na aula e, ao término, ouvir os elogios que a professora faz. Qual mãe não fica toda inflada como um balão ao escutar elogios ao filho?!Eu já percebi que estou virando aquelas “mães de porta de classe” que chegam mais cedo só para ficar assistindo.
Uma paixão inesperada
E as minhas surpresas não pararam. Vocês acreditam que no período de férias de verão, quando o curso fecha temporariamente, a professora sugeriu a ele continuar as aulas na casa dela? E ele de cara aceitou! Não só aceitou, como esperava ansioso por elas semana a semana.
Já passada a primeira apresentação dele, no mesmo espetáculo em que a irmã havia cantado e eu quase infartado, a professora resolveu encaixá-lo numa outra apresentação. Esse encaixe foi meio de improviso, de uma hora para outra. Numa quarta-feira ela perguntou a ele se queria se apresentar no sábado e ele prontamente disse que sim!
E lá fomos nós para apresentação! Esse dia para nós foi histórico. Ele não só tocou, como após a sua apresentação perguntou no palco e no microfone à professora se também não ia cantar. O teatro inteiro riu, pois a professora ou nós esperávamos pela pergunta. Jamais podia esperar que teria um filho “pianista” e “artista”!!! Risos.
Os benefícios da música para crianças
Agora, independente de qualquer coisa, o que mais me impressiona nessa história é o poder que a música tem! O contato com a musicalidade trouxe muitos benefícios para os meus filhos. E por conta dessa experiência com eles, resolvi ler mais sobre o assunto.
A música aumenta a concentração, criatividade, saúde mental, desenvolvimento neuropsicológico, habilidades de liderança, enriquecimento cultural, sensibilidade emocional. É uma grande aliada ao combate à depressão, estresse e ansiedade, melhorando o humor e ajudando na capacidade de reconhecimento e resolução de problemas.
Uma pesquisa mostrou que tanto ouvir música, quanto tocar um instrumento musical, estimula o seu cérebro e pode aumentar sua memória. O estudo foi realizado em 22 crianças de 3 a 4 anos que tiveram aulas de canto ou de teclado. Outro grupo de 15 crianças não recebeu aulas de música. Ambos os grupos participaram das mesmas atividades pré-escolares. Os resultados mostraram que as crianças pré-escolares que haviam participado das aulas de música semanais melhoraram suas habilidades espaço-temporais 34% a mais do que as outras crianças. Não só isso. Os pesquisadores disseram que ainda há efeitos a longo prazo.
De acordo com este outros estudo publicado na revista Psychology of Music,
As crianças expostas a um programa de vários anos de ensino musical, envolvendo a formação mais complexa de habilidades rítmicas, tonais e práticas de instrumentos musicais, exibiram desempenho cognitivo superior em habilidades de leitura e compreensão de textos, em comparação com os ‘não treinados’ musicalmente.”
Não é surpreendente ouvir resultados como esse porque música envolve leitura e compreensão constantes. Quando você vê notas em preto e branco em uma página, tem que reconhecer qual é o nome da nota e traduzi-la para uma posição com os dedos. Ao mesmo tempo, você também tem de definir o ritmo.
Segundo o Prof Marcos L. Souza, educador musical, psicopedagogo e historiador,
A idade ideal para aprender um instrumento musical é a partir dos 5 anos, quando a criança começa a ser alfabetizada. Os pais não devem jamais impor o aprendizado, nem muito menos escolher o instrumento que a criança deverá tocar. A escolha deve ser sempre da criança, assim como a manifestação na vontade de aprender um instrumento. O mais importante dentro deste estudo é o poder de concentração, disciplina e sensibilidade que a música traz para a criança.”
Espero que eu tenha conseguido passar algum conhecimento para vocês através da minha experiência. Se não, fica a minha dica: experimentem um instrumento!
3 Comentários
Adorei o texto, minha filha de 4 anos já demonstrou interesse por música. Vou incentiva-lá. Bjo
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