A primeira volta ao Brasil após a mudança para Itália
Quando decidimos nos mudar, apesar de virmos com planos traçados e pautáveis projeções futuras, não tínhamos ideia de como seria o estabelecimento de nossas vidas aqui na Itália e muito menos quando teríamos condições de voltar em família para o Brasil.
E essa era uma pergunta que não saía da boca das crianças. A toda hora, quando se lembravam de algo ou alguém, vinha aquele: “Mãe, que dia vamos para o Brasil?” A mãe aqui olhava para o céu, fazia cara de paisagem, pensava e respondia: “Assim que der meus filhos, em breve.”
Para ajudar, toda vez que falavam com a vovó, vovôs, titias, primos, amiguinhos, todos vinham com a mesma indagação para as crianças. Isso gerava uma grande expectativa nos pequenos, pois não tínhamos nunca uma data definida para apresentar e sossegá-los.
Entretanto, desde os primeiros três meses que estávamos aqui, começamos a receber visitas de parentes e amigos. Como já contei em textos anteriores, nossa casa está sempre cheia e animada. É, morar na Itália tem dessas coisas! De um lado ajuda a estar com o coração preenchido por um tempo, mas por outro, as despedidas só aumentavam as expectativas para encontrar a todos outra vez.
A viagem
Até que, quando estávamos prestes a completar dois anos de Itália, chegou o tão esperado dia. As crianças entraram de férias numa segunda-feira e na terça nós partimos! Não preciso nem contar da euforia deles, não é? A viagem foi longa, contaram cada minuto.
Óbvio que usei essa grande vontade deles de chegar ao Brasil a meu favor. E vou contar que deu certo. Foi a melhor viagem que já fiz até hoje sozinha com os dois. Também acho que eles cresceram e estão maiorzinhos, já em uma nova etapa. Mas as brigas, ahhhh, as brigas… são um texto à parte. E nessa viagem nos saímos muito bem.
O corredor de desembarque do aeroporto Galeão se tornou a mais longa via da vida deles. Corriam com as malas de mão e casacos arrastando pelo chão e eu atrás carregando o carrinho com três malas grandes, já “daquele jeito”, gritando e mandando esperar. Quem nos conhece já até imagina a cena da mãe louca.
O reencontro com a família
Porém, logo na saída para o saguão, estavam lá os três avós de braços abertos. Que cena, gente! Que cena! Esse reencontro foi de matar qualquer um de emoção. Eu, que fui a última a chegar e ser abraçada, consegui guardar aquela cena a sete chaves para sempre dentro do meu coração.
Etapa viagem vencida, lá fomos nós tomar café da manhã com os bisavós. Entrar na casa dos meus avós foi demais! Quantas lembranças tenho de uma infância muito feliz ali. Quantas férias passei lá com meus primos, tios e avós. Poder abraçá-los após esses dois anos… que gostoso! Foi uma farra!
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Mas ainda antes de pegar a estrada e irmos rumo à nossa antiga casinha que nos esperava, não poderíamos deixar de ver a outra bisa que se recuperava de uma cirurgia aos 91 anos. Que saudade eu estava da minha avó! Que privilégio meu, poder acariciá-la e maquiá-la. É isso mesmo que leram. Ela queria que eu levasse maquiagens italianas para ela. E vou contar, ela ficou lindíssima!
Nossa antiga casa
Mas a parte que eu mais temia nessa história toda era chegar na nossa antiga casa. Tinha muito medo da reação das crianças, do que iam sentir, do que iam me falar. E assim que chegamos, de imediato ouvi do meu caçula: “Eu gosto da Itália, mas quando eu acabar a escola, vou morar aqui.” TUMMM! A primeira flechada no meu coração.
As crianças já chegaram na casa abrindo armários, achando algumas coisas nossas antigas. Falavam sem parar. A “familiada e amigaiada” foi se juntando por lá e posso dizer que passamos dias maravilhosos! Inesquecíveis!
Fizemos o possível para encontrar todos, mas sempre respeitando os nossos limites para que não se tornassem compromissos ou obrigações. E assim conseguimos o nosso propósito de rever a todos e aproveitar ao máximo essas férias tão esperadas.
As crianças sumiam! Cada dia dormiam na casa de um amigo. Eu?! Já ouviram falar em “pinto no lixo”? Presente!
Foi muito importante para mim esse reencontro com a minha família, minhas raízes, meus amigos, minha base. Só sei que amo aquela bagunça, aquele povo festeiro, o clima. Falar a minha língua, entender a todos e todos me entenderem sem nenhuma dificuldade é bom demais!
A hora de voltar para casa
Mas eu tinha a certeza, por milhões de outros motivos, que aquela não era mais a minha casa e que precisava voltar. E, para minha surpresa, não passei dificuldade nenhuma com as crianças na volta. Na última manhã antes do voo de volta, ainda fui resgatar um filho no vizinho, momento em que o pequeno titubeou um pouco, mas foi coisa momentânea da despedida do amiguinho e pronto.
As despedidas foram doídas, muito doídas, regadas a choros e abraços apertados. Mas acho que dessa vez viemos mais confiantes do que nunca. Viemos com a certeza de que independente de onde estivermos, teremos sempre ali a nossa base. Os laços que ali construímos jamais serão perdidos.
Saudades? Temos muitas! Mas essa viagem também serviu para corroborar que, apesar de tudo, estamos felizes com nossas escolhas. Não podemos ter tudo nessa vida, infelizmente. Então temos que aprender a fazer escolhas. A velha balança pendendo para o lado da felicidade é o que importa. Portanto, toca o barco!
3 Comentários
Tatiana, identifiquei-me muito com teu texto. Minhas filhas volta e meia me dizem que quando crescerem vão morar no Brasil! Nasceram aqui na França, mas dos 3 aos 5 moraram no Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves.
E a cada Natal que não passamos lá me fazem sentir culpada: “mamãe, por que não podemos passar o Natal com toda a família?”
Difícil isso… Eu não quero mais voltar a morar lá, adoro ir passar férias, iria a cada seis meses se pudesse, mas morar não.
Eu também Zandra. Ainda não passou pela minha cabeça nenhuma vez voltar a morar no Brasil. Sinto saudades! Mas atingi meus propósitos aqui na minha nova vida. Então, vamos que vamos!
[…] parte da nossa família que mora por lá, já que ano passado, neste mesmo período, estive com as crianças visitando a outra parte no Brasil, enquanto o papai ficou aqui […]