A opção por ser Mãe em Tempo Integral na Colômbia
Ser mãe na Colômbia é bem parecido com ser mãe no Brasil. Mais pra frente talvez escreva mais detalhadamente sobre isso, mas acredito que como somos culturalmente muito próximos, e temos conjunturas econômicas e sociais bem parecidas, as famílias também se organizam e estruturam mais ou menos parecido.
Trabalhar fora?
Quando chegamos na Colômbia, minha filha ia fazer 4 anos, e o pequeno estava com 11 meses. A nossa adaptação, como já contei aqui, foi bem tranquila, e, em pouco tempo, já tínhamos alguns amigos e pessoas próximas que nos tiravam a sensação de estarmos sozinhos.
No entanto, meu marido, que veio transferido pela empresa, assumiu uma posição que ia exigir muito dele, em todos os sentidos (energia, suor, tempo, disposição e disponibilidade). E isso tem sido bem verdade desde que chegamos.
Claro que, como acontece em toda mudança, temos sempre a oportunidade de recomeçar e de, de repente, fazer ou retomar alguma coisa que esteja paralisada ou apenas no papel. A primeira coisa que pensei é se seria este o momento de voltar para o mercado de trabalho formal, ou seja, trabalhar numa empresa ou em alguma coisa que me tirasse de casa por algumas horas, e me permitisse pensar em outra coisa, arejar um pouco (risos).
Quando eu e meu marido conversamos sobre isso, ele prontamente me disse que me ajudaria a conseguir alguma oportunidade, se fosse isso realmente o que eu queria naquele momento. E, antes que você entenda diferente, meu marido não é do tipo que quer a mulher em casa cuidando da casa e das crianças, pelo contrário, sempre foi o primeiro a me incentivar a fazer o que me realizasse, mesmo depois que as crianças nasceram. Porém, conversando e analisando juntos os prós e contras, chegamos à conclusão de que o melhor seria eu estar em casa, mais disponível para as crianças, o que não significa necessariamente não trabalhar com algo fora do “mundo das crianças”, mas sim com mais flexibilidade, trabalhando de casa, ou coisas do tipo.
Leia também: Ser mãe em tempo integral no Canadá e A influência do bem estar materno na vida dos filhos;
A nossa rotina
Pois bem, decidimos dessa forma, porque nos pareceu que o fato de estar longe da família e de pessoas da nossa confiança, nos traz algumas limitações com relação àqueles que podemos delegar os cuidados com as crianças. Portanto, a condição que tínhamos naquele momento, era (i) estarmos em outro país e longe da família, (ii) (ainda) não conhecer pessoas de confiança com quem deixar as crianças, (iii) crianças estas ainda totalmente dependentes de um adulto para quase tudo, (iv) com o pai/marido num momento profissional em que seria difícil contar com ele para emergências cotidianas do tipo: “amor, estou numa reunião importante, não consigo sair a tempo de pegar as crianças, você pode ir no meu lugar?”, e sem a vovó (ou alguém que ocupe este papel) perto para suprir estas lacunas (risos).
Por tudo isto resolvemos então que o melhor era eu estar com os pequenos, à disposição deles, com tempo para eles. Isso realmente nos deu mais tranquilidade e, acredito eu, muito mais segurança para eles, sabendo que pelo menos um dos pais estaria ali com eles o tempo todo, na ida pra escola, na chegada da escola, para acompanhá-los em todas as atividades semanais como: ballet, natação, musica, parquinho, e o que quer que aconteça na semana e na vidinha deles. Também não estou tirando do pai a sua responsabilidade de ser e estar presente, não é este meu ponto. E, além dessas questões bem práticas, tentando extrair ainda mais vantagens, consigo manter e cultivar o nosso idioma (e cultura) materno dentro de casa, e ter mais disponibilidade para passarmos as férias no Brasil, que nos permite manter mais conexão com nossa terrinha, nossa gente e nossa família, dos quais (ainda) sentimos muita falta.
Ser mãe: trabalho em tempo integral
Entretanto, a tranquilidade de que falei acima, não significa vida mais fácil (para mim). O fato de estarmos longe, ser mãe em tempo integral significa literalmente ser MÃE EM TEMPO INTEGRAL, estar com eles 24 horas por dia, 7 dias por semana, numa rotina super puxada, sendo bem generosa, com uma lista infindável de coisas pra fazer, e tendo debaixo da sua total dependência e cuidados os seres que mais amamos, que são capazes de tirar de nós os mais sinceros e abobalhados sorrisos, por quem lutamos diariamente, mas que também tiram de nós até nossa última gota de energia.
Vivemos no mesmo dia os momentos mais felizes e os mais desesperadores. Vamos da paixão à exaustão em segundos, trocamos os saltos pelos chinelos ou sapatilhas, os cabelos bem arrumados pelo coques bagunçados, e nossos programas de culinária, decoração e moda dão lugar a repetitivos desenhos animados. E, se me perguntarem, já sei o nome de (quase) todos os personagens e tenho até desenho favorito! Nos sentimos sozinhas muitas vezes, mas também encontramos outras mães que vivem a mesma realidade, e vamos suportando uma à outra.
Cada família, uma realidade
Com tudo isso que contei, não quero, de forma alguma, estabelecer nenhum padrão de que a mãe ou pai que acompanha o cônjuge/companheiro numa empreitada deste tipo, deva necessariamente optar pelo que nós como família optamos. Existe e eu conheço casos, talvez seja o seu, em que a família está longe, e pai e mãe trabalham, e a rotina da família funciona bem, e os filhos, acima de tudo, se adaptam “numa boa” a essa organização familiar, seja porque os horários são mais flexíveis, seja porque os filhos são maiores, ou porque encontraram pessoas com quem podem contar para que a engrenagem familiar continue girando bem.
Ressalto, mais uma vez, que esta foi uma opção familiar, e que nos pareceu a melhor naquele momento, quando chegamos. E, acima de tudo, nos deu tranquilidade, para mim, porque não sofro com eventuais imprevistos e emergências que possam mexer na rotina das crianças, e para meu marido, que pode se dedicar ao trabalho, sabendo que os pequenos estão em boas mãos. Conseguimos, no meio de tudo isso, criar uma parceria para o bem da nossa família. Aos poucos vamos nos encontrando melhor, vamos conhecendo pessoas, vou encontrando opções que me permitem conciliar essa rotina intensa com algo que me permite arejar um pouco e me dão outros prazeres e alegrias fora da maternidade, de forma que tudo pode mudar! É bem possível que ainda volte aqui para apresentar um novo capítulo da nossa vida expatriada com muitas mudanças e novas realidades. Até a próxima!
7 Comentários
Muito bacana seu texto Livia! E bem parecida com a minha realidade também nos últimos 5 anos. Mas resolvemos parar e fixar residência na Bélgica. Fiz uma grande amiga colombiana no Brasil quando morei no Rio de Janeiro e entendo bem essa similaridade dos colombianos com a nossa cultura! Aproveite muito sua temporada por ai!! Abraços, Carol
Que legal, Carol! Muito obrigada! Que bom que gostou!!
Sim, somos muito parecidos! Fiquei impressionada! Obrigada e aproveite vc também sua nova vida ai na Bélgica!! super beijo
[…] Leia também: A opção por ser mãe em tempo integral na Colômbia […]
[…] Leia também: A opção por ser mãe em tempo integral na Colombia […]
[…] que viriam depois. A escolha foi reafirmada quando saímos do Brasil (falo sobre isso nesse texto aqui). E eles são minha prioridade. Na idade em que estão e na configuração de vida que tenho hoje, […]
[…] também como é ser mãe em tempo integral na Colômbia e no Canadá […]
[…] Leia também: Volta ao trabalho após a licença-maternidade na Inglaterra e A opção de ser mãe em tempo integral […]