Mas afinal, o que é essa tal de “experiência única” de quem vai morar fora?
Acredito que, assim como eu ouvi bastante, todo mundo que vai morar fora do Brasil escuta das pessoas a seguinte frase: “Ah, vai ser uma experiência única!” Eu escutei muitas vezes, e ainda hoje ouço isso com muita frequência.
Antes de me mudar eu ficava pensando: “Realmente, deve ser uma experiência muito diferente”, mas eu não conseguia visualizar o que seria isso na prática.
Hoje, passado mais de um ano morando fora, parei para pensar no que havia aprendido até aqui e por que essa mudança pode ser considerada uma experiência tão relevante na vida.
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Em primeiro lugar, acredito que não podemos falar de “experiência única” no singular, mas de várias pequenas experiências ao longo dessa trajetória, que vão fazer dela algo especial.
Também é certo que cada um que vai morar fora passará pela sua “experiência única”. Cada pessoa vai viver a sua experiência no exterior de uma forma muito pessoal, já que isso estará intimamente relacionado às suas vivências prévias, à sua personalidade, aos seus valores, objetivos e sonhos.
Enfrentando de frente as mudanças da vida
Ao vir para Hong Kong, eu aprendi que podemos lidar com grandes mudanças, mesmo tendo certo receio delas. Há 16 anos, quando me casei e saí de casa, precisei fazer um tempo de terapia de tanto medo que eu tinha de passar da vida de solteira para a de casada. E isso porque eu iria me mudar para o bairro ao lado! Se naquela época me dissessem que um dia eu me mudaria para a Ásia, eu soltaria uma bela gargalhada! Afirmaria com toda certeza que isso jamais aconteceria, de tanto receio que eu tinha de viver o desconhecido.
Hoje vejo as mudanças da vida de uma forma muito mais serena e leve, como pontos de partida para muitos aprendizados. Atualmente eu digo que seria capaz de mudar quantas vezes e para onde fosse necessário. Não vejo mais as mudanças como um perigo, mas sim como uma grande oportunidade, em qualquer área da vida em que elas aconteçam. Posso afirmar que a mudança me trouxe confiança em mudar.
A sensação de segurança
Uma amiga minha, que já morava fora, uma vez me disse: “Você só saberá o que é andar sem medo pela rua quando passar por isso.”
Realmente é algo muito libertador e que classifico como experiência única na minha vida e da minha família. Poder sair à noite sem medo de ser assaltada, poder deixar os filhos adolescentes se locomoverem sozinhos pela cidade, confiar que as pessoas não lhe farão mal, é talvez o meu maior prazer na vida em que levamos em HK.
Não ter que dirigir
Para quem vive em São Paulo e dirige sabe bem do que eu estou falando. Poder usufruir do transporte público e não ter que passar horas em engarrafamentos é mesmo muito bom. O transporte público de HK é bastante eficiente e amplo. Há muitos prédios já conectados ao metrô, como o nosso. Vamos a muitos lugares sem tomar sol nem chuva, uma vez que a cidade conta também com muitas passarelas e passagens cobertas. Realmente não tenho saudade da direção!
Conviver com pessoas do mundo todo, numa cidade cosmopolita
Mesmo morando em São Paulo, que é uma cidade com bastante diversidade, nós nunca havíamos tido contato com tantas pessoas de nacionalidades e línguas diferentes. Hong Kong é considerada a Nova York da Ásia, com moradores oriundos de muitos países. Muitas empresas multinacionais estão aqui, fazendo a ponte do ocidente com o oriente.
Para se ter uma ideia, na última feira internacional da escola das meninas, por exemplo, havia alunos de 28 países diferentes. Isso é mesmo incrível e torna a nossa experiência aqui muito rica.
Ter que se virar com outros idiomas
Não tem jeitinho que salve aqui em Hong Kong. Pouquíssimas pessoas falam espanhol e menos ainda português. É preciso falar inglês no dia a dia e ainda conhecer as palavras básicas em cantonês e mandarim. Confesso que ainda estou longe de me sentir fluente na língua inglesa, mas meu inglês melhorou demais na marra. Filmes? Só em inglês com legenda em chinês ou o contrário. Livros, jornais, revistas? Só inglês ou chinês. Nada como a imersão!
Conhecer lugares antes tão distantes
Japão, Austrália, Tailândia, Vietnã e outros eram apenas sonhos literalmente muito distantes. Ao estarmos aqui as distâncias se encurtaram. Assim, podemos ter a oportunidade de conhecê-los e de mostrar às meninas culturas e povos tão diferentes dos que conhecíamos.

Viagem a Gala Yuzawa – Japão
Conhecer a culinária asiática
Embora não sejamos apaixonados por todas as novas comidas que experimentamos, fomos apresentados a uma série de ingredientes e preparações que nem sabíamos que existiam. Conhecer não apenas os pratos, mas também toda a história por trás deles, tem sido muito enriquecedor.
Fazer novas amizades
Como seres sociais que somos, existe uma necessidade muito grande de não vivermos isolados no novo país. O primeiro caminho para fazer amigos no estrangeiro é com certeza buscar os nossos conterrâneos. Pelo simples fato de falar a mesma língua e de ter vindo do mesmo lugar que nós já se tornam nossos novos amigos. Com eles, dividimos as angústias e as alegrias de morar fora. Quantas novas amigas eu fiz aqui! Conhecer as suas histórias de vida também tem sido muito bom. Aos poucos vamos fazendo amigos “locais”, que nos ajudam ainda mais nessa rica troca de experiências.
Reconhecer que “lar é onde mora o coração”
Ficar longe de tudo e de todos nos fortaleceu demais como família. Nós quatro nos aproximamos ainda mais, já que somos o porto seguro uns dos outros em todas as adversidades da mudança. Hoje sabemos que o nosso lar pode estar em qualquer lugar, desde que estamos disfrutando dele juntos.
Seguramente, no próximo ano essa minha lista de “experiências únicas” terá se ampliado e espero poder compartilhar aqui com vocês. Gostaria muito de saber quais são as “experiências únicas” que mães brasileiras também vivem mundo afora! É só deixar nos comentários. Até o mês que vem!
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