Sobrevivemos a 12 meses de maternidade?
Enfim chegou o aniversário de um ano da minha filha e eu resolvi fazer um balanço de tudo que passamos nesses últimos 12 meses.
Confesso que na hora que comecei a escrever, mil coisas se passaram na minha cabeça. Mas, atualmente, o que tá sempre ali pipocando na minha mente é: “meu deus como pode alguém morrer de exaustão e continuar viva?”
Que seres são esses que apesar de toda essa mudança avassaladora ainda pensa em ter outros filhos? Que pessoa é essa que consegue sobreviver a tudo isso, cheia de cicatrizes, de novas ideias e pensamentos, e ainda fala em felicidade? Essas eram algumas das perguntas que eu me fazia durante os períodos de estresse ou durante os períodos de nostalgia ao querer outro bebê.
Hoje, eu encontrei a resposta. O nome desse ser é MÃE. Assim, em letra maiúscula mesmo. Porque meu Deus – nós mães somos seres espetaculares e singulares. Somos únicas, somos especiais. Somos verdadeiras leoas numa selva lutando pra salvar nossas crias.
Eu nunca consegui entender a minha mãe. Mãe de 4 filhos, um atrás do outro, com diferenças de mais ou menos 2 anos – o último veio uns anos depois, trabalhando 3 turnos como professora, ajudando com a lição de casa, cortando unhas, dando banho, apartando brigas, fazendo comida, arrumando as bagunças, lavando roupas e ainda lutando para ser uma boa esposa. Como ela conseguiu fazer tudo isso sozinha?
Multi tarefas e rede de apoio
Aí eu me dou conta de que a minha mãe, apesar de sozinha, tinha uma pequena rede de apoio. Meus avós, meus padrinhos. Esses eram incansáveis pra ajudar a pobre da minha mãe que com 35 anos já tinha 4 filhos.
E eu me pergunto: como eu, com apenas uma filha, morando em um país incrivelmente igualitário – onde eu estou integralmente por 1 ano em casa me dedicando exclusivamente a maternidade, posso estar tão exausta? Aí eu me lembro de que a minha rede de apoio, apesar de ser maravilhosa, é só psicológica.
Fisicamente só tem eu e meu marido. Só nós dois pra ensinar outro ser humano, pequenino e indefeso. Só a gente, contando com a gente mesmo. Eu acabo me dando conta de que se talvez eu tivesse minha mãe por aqui comigo, as coisas seriam mais fáceis. Nem que fosse pra eu ir ao banheiro sozinha uma vez por dia, na hora que eu precisar – e não quando dá.
Hoje, olhando para esses último 12 meses, eu fico super incrédula olhando tudo que já passamos. Todo o meu crescimento como pessoa, como mulher, como mãe. Eu aprendi a ser mãe, de verdade. Sozinha. Ganhei muitos conselhos que não pedi, pedi muitos que não gostei de ouvir. Mas o dia a dia, fui eu, minha filha e Deus. Nós três tentando sobreviver.
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A maternidade é muito mágica, muito transformadora. Mas eu nunca, em toda a minha existência, imaginava que tudo ia mudar nessas proporções. Mas hoje eu posso dizer que finalmente eu estou voltando a me sentir mais parecida comigo mesma.
Meu jeito de ser mudou, meus pensamentos, minhas opiniões. Eu tento ser mais compreensiva hoje com o desconhecido, eu tenho muito mais empatia pelas pessoas. Eu dou muito mais valor ao tão almejado status de “PR” no Canadá pelo simples fato de que eu vou poder continuar aqui por tempo indeterminado dando o melhor de mim pra esse país que nos devolve em dobro.
Muita coisa mudou. Fisicamente e psicologicamente. Mudou nossa rotina. Nós não sabemos mais o que é sair de casa só nós dois – eu e meu marido. Sair pra jantar é luxo, preferimos pedir ou fazer uma comidinha em casa.
Toda vez é aquela montoeira de coisas pra levar. Já pegou fralda? Já pegou mamadeira? E água? Tem snack pronto? Aqueceu a comidinha pra levar? E se ela vomitar? Tem roupa, babador, pano de boca?
Aaaaai meu deus do céu. É tanto estresse, tanta coisa pra lembrar. Aí depois e tudo isso, a guria não quer comer nada do que levei. Não quer ficar no carrinho – que foi muito caro porque prometia muito conforto e um bebê feliz, quer ANDAR. Vê – se – pode. Andar! Só quer comer se for de garfo – mas ela quer segurar e colocar na própria boca. A água só se for no copo rosa de alças, o laranja de transição? Nem pensar!
Aí tudo que eu penso nesse momento é que eu queria voltar no tempo e fazer esses longos 12 meses durarem mais, pra ter a minha bebezinha segura nos meus braços, no meu sling. Queria continuar a dar a mamadeira e encher de beijinho quando ela adormece. Queria ela com aquelas meias fofinhas e os pés quentinhos.
Sobrevivemos por amor
12 meses de bebê é muito, muito pouco. São os únicos meses que a gente ainda tem controle de alguma coisa – se é que isso é verdade, né. Até se dar conta de que a gente cria os filhos pro mundo e eles já estão prontos, indo para o daycare, pra desbravar o desconhecido.
Todas aquelas inseguranças triplicaram, o medo toma conta da gente muitas vezes, mas a cada dia que passa eu me sinto mais feliz. A cada sorriso, a cada gargalhada, meu coração explode de alegria. A cada batida de palmas, de brincadeiras… Que ser é esse com tal domínio sobre a gente? Que faz toda aquela loucura parecer normal e a gente ainda agradece? Filhos.
Eu sou muito agradecida a minha filha por todas as mudanças que ocorreram na minha vida. Hoje finalmente posso dizer que sou uma pessoa de felicidade plena e completa. Quem sabe mais um hein? Ou dois? O Canadá tem fama de ser um país onde as pessoas tem muitos filhinhos. Será que seguiremos a risca até esse costume? Mesmo com todo esse esgotamento (mas o coração cheio!).
Finalmente a pergunta que não cala: sobrevivemos? Com certeza, sobrevivemos por um amor maior que a nossa vida, por um amor avassalador que desconstrói qualquer padrão. VIVEMOS através de um outro ser, tão lindo, único e singular. Sobrevivemos porque não conseguimos viver em um mundo onde os nossos filhos não existem. Sobrevivemos por amor, amor, amor e amor.
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