Puerpério longe da família – parte II.
Na primeira parte do texto, falei sobre a preparação para o puerpério e a realidade vivida logo depois do parto. Agora, conto como foi ficar sozinha com minha filha, 10 dias após a saída da maternidade.
Quando minha sogra voltou para Paris, passei a ficar sozinha com minha filha. Aí então eu esquentava meu café da manhã umas três vezes e quando tomava ele já estava frio de novo. Alguns dias, só me dava conta que não tinha conseguido tomar meu leite na hora do almoço, quando via a xícara cheia. Se tivesse sobrado comida da janta, eu almoçava, senão ia comendo coisas aleatórias como pão puro que tirava do saco e uma ou outra fruta. No banheiro, eu só ia quando acordava, enquanto minha filha ficava berrando no carrinho, e quando meu marido chegava.
Parece meio impossível ou surreal quando descrevo essa rotina. Como não conseguir comer ou ir ao banheiro assim? Como não conseguir ter 2, 5, 10 minutos? Acredite! É possível. Se eu colocasse minha filha onde fosse, ela chorava. E muito. O sling me ajudava bastante, mas eu não podia sentar, que ela chorava também.
E ela mamava o dia inteiro. Eu não sabia identificar o problema, então dava o peito. Ainda assim, em alguns momentos não adiantava. Como na hora do estresse, já ouviram falar? Leia aqui sobre.
No fim do dia, quando meu marido chegava, pouco depois de ela ter passado por esse choro descontrolado em que nada a acalmava (peito, música, balanço nos braços), eu só o deixava lavar a mão e trocar de camisa para pegá-la. Subia na esperança de tomar um banho relaxante, o que nunca acontecia, pois ou ela chorava ou eu escutava um choro imaginário e saia correndo para pegá-la. Ao deitar para dormir e fechar os olhos, eu também escutava o choro dela. Sabe aquela sensação do mar quando passamos o dia na praia e parece que estamos ainda nele? Era a mesma coisa, mas com o choro.
Leia mais: Sobrevivemos a 12 meses de maternidade?
E as noites regenerativas não existiam. Ela acordava de 1:30 a 2h. No primeiro mês, porém, isso significava quase não dormir. Já que ela mamava por 15/20 minutos, depois eu ficava com ela por mais uma meia hora até arrotar, então era hora de trocar a fralda, o que a fazia despertar e chorar muito, então ou eu ou meu marido tentávamos acalmá-la (mesmo quando era ele, eu não dormia) e quando a colocávamos no berço ela acordava em 30/40 minutos. Só lá pelas 5h/6h é que ela dormia um pouco mais.
Junte a toda essa exaustão os hormônios, a falta de companhia que te faça rir ou te alivie um pouco a tensão, a incerteza de que você está fazendo tudo certo e um amor maior do que a si mesma (e que também é preciso aprender a lidar) é de enlouquecer!
Apoio profissional
Como não cair neste momento? Sem dúvida, o amor que senti pela minha filha, sentir seu cheiro, ver seus olhinhos me traziam muita força. A amamentação estar caminhando bem também.
Porém, assim que deixamos a maternidade, as enfermeiras-obstetras ou puericultrices fazem uma ou duas visitas em casa para acompanhar a mulher puérpera. No meu caso, eu recebi uma puericultrice todas as 4 primeiras semanas da minha filha. As enfermeiras da maternidade também me ligaram uma ou duas vezes para saber se tudo estava bem. Mas, com meu francês ainda inseguro, eu só dizia que sim.
As visitas presenciais da puericultrice foram fundamentais. Por estar longe da família, amamentando, ela se ofereceu para vir toda a semana no primeiro mês. O intuito inicial era pesar minha filha, porém ela se interessava muito mais em me ouvir. Me perguntava se estava sendo difícil estar longe da família, quando eles viriam, se meu marido me ajudava. Me dizia para esquecer a casa e só me preocupar com a bebê e comigo. Para tentar tirar alguns minutinhos para mim.
Leia também meu relato de amamentação: Amamentação na França – minha experiência parte 1 e parte 2
E, o mais importante: Ela me dizia que eu estava fazendo um ótimo trabalho. Na primeira vez que ela veio me ver, minha sogra estava em casa e perguntou se o quarto não estaria muito seco para a bebê, na tentativa de solucionar tanto choro. A enfermeira então olhou para mim e disse: você é a mãe, você acha que pode ser isso? Não há ninguém melhor do que você para entender o seu bebê.
Até hoje me emociona lembrar desse olhar. Porque ali ela me fez enxergar meu poder como mãe e mulher de entender a minha filha. Eu, frágil e com medo, me senti forte novamente. E, a cada visita, ela me lembrava de confiar em mim mesma.
O tempo vai passando
E as coisas vão melhorando. Depois do primeiro mês, estabelecemos uma rotina melhor em casa. Meu marido começou a ficar em casa e me ajudava com nossa filha, cozinhava todos os dias, limpava a casa. A presença dele ali facilitou muito as coisas.
Minha irmã chegou dois dias antes de minha filha fazer 1 mês, preparou bolinhos para o seu mesversário, limpava a casa, cozinhava, ficava com minha filha no colo e até fralda de cocô, algo que ela jamais tinha feito, ela trocou. Também me forçava a sair um pouco mais por ela estar lá. Meus pais chegaram poucos dias depois que ela foi embora. Ficaram 20 dias. Nem preciso dizer que colo e amor de avós curam tudo, né?
Os meses seguintes foram de fases mais tranquilas e outras menos. Aos poucos fomos nos conhecendo e a insegurança foi ficando para trás. Quando ela tinha uns 4 ou 5 meses, comecei a sentir vontade de fazer uma ou outra coisa rápida sem ela (caminhada, ida ao mercado). Quando ela fez 9 meses, procuramos a creche para deixá-la em alguns momentos.
Foi nessa época que eu senti que estava realmente saindo do puerpério. Voltei a pensar em projetos pessoais e profissionais, a me sentir mais minha do que dela.
Para este segundo puerpério, releio um livro que é quase uma Bíblia do momento “A maternidade e o encontro com a própria sombra”, de Laura Gutman. Além de já esquematizar a ajuda que virá de fora (diarista/ creche e babá). Estamos estudando todas as possibilidades, já que aqui o governo dá algumas ajudas para esse momento.
Com meu primeiro puerpério, eu aprendi que ajuda é fundamental e ter alguém para nos ouvir também. É preciso fortalecer a parte física e a emocional mais ainda. É preciso aceitar o caos e a falta de controle que nos acometem. Deixar fluir sem querer resolver tudo. Pressa e puerpério não combinam.
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[…] contei no Brasileirinhos pelo Mundo como foi o meu puerpério longe da minha família (Parte I e Parte II). Já falei também sobre amamentação e nossa procura por respostas para as cólicas (leia aqui). […]