Puerpério longe da família – parte I
Falar sobre puerpério neste momento é especial para mim, pois estou me preparando para viver o meu segundo. Desta vez, de uma forma bem diferente já que sei como essa experiência pode ser difícil e pesada, ainda mais quando vivia longe de casa e da família. O puerpério é o período pós-parto. Muito mais do que um tempo de resguardo, pode durar meses quando a mulher amamenta.
Eu tentei me preparar para o puerpério na primeira gravidez lendo sobre ele e conversando com meu marido. Mas acredito que nada é capaz de realmente te deixar pronto para algo tão intenso e jamais vivido. Todo o amor que senti ao ver minha filha, eu jamais pude imaginar existir. A chuva de hormônios que nos inundam imediatamente e que de uma vez caem bruscamente. A exaustão nunca antes vivenciada desta maneira. A solidão. O medo e a angústia de que algo de ruim pudesse acontecer ao bebê. A ideia de ter que dar conta de tudo. Os palpites e julgamentos. O início da amamentação… tudo isso não há como ser preparado quando jamais se viveu.
Além disso, eu me mudei para a França grávida, sem falar francês, sem conhecer a família do meu marido. Para minha sorte, fui bem acolhida, aprendo línguas rápido e tive a facilidade de ter um médico na família que me indicou o ginecologista e ajudou a esclarecer os trâmites na maternidade e do pré-natal.
Mesmo assim, ter que entender os procedimentos da gravidez, procurar casa, me informar sobre amamentação e parto, fazer quarto e enxoval (hoje percebo como essa parte poderia ter sido feita aos poucos após o nascimento, mas, na época, eu achava que tudo tinha que estar pronto e perfeito) tomaram muito tempo.
Algumas dicas
Por isso, o que eu aconselharia às futuras mães de primeira viagem é:
1- leia muito sobre o puerpério. Isso não irá te preparar realmente para vivê-lo, mas você saberá que o que está passando é normal;
2- converse com seu companheiro/ companheira e tente estabelecer uma rotina/ divisão de tarefas para quando o bebê chegar. Claro que na prática as coisas podem mudar, porém tente imaginar situações como: você quer amamentar? Vai ter mamadeira? O pai pode acordar de madrugada para dar mamadeira, trocar fralda, colocar para arrotar? Quem fará o banho? Quem cuidará da casa nos primeiros meses? Já ir se programando evita brigas e frustração;
3 – aceite e peça ajuda. Seja da família, dos amigos ou de profissionais que podem fazem isso. Hoje eu percebo que deveria ter aceito mais e também pedido muito mais ajuda. Mas as pessoas chegavam em casa e eu dizia que estava tudo bem, quando na verdade eu não comia direito, não dormia nada e brigava o tempo todo com meu marido;
4- forme uma rede de apoio que possa te ouvir sem te julgar. Pode ser pra internet, pode ser em casas de apoio da sua cidade. Ter espaço para falar, reclamar e chorar, além de ouvir a experiência das outras mães, faz muita diferença.
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Dito isso, vou contar como vivemos esse período.
Tive um parto ótimo. Uma bebê super saudável que ficou comigo o tempo todo desde que nasceu. Tive um atendimento excepcional na maternidade onde dei à luz. Qualquer dúvida, eu tocava a campainha e em minutos uma enfermeira estava no meu quarto, a qualquer hora do dia e da noite, com um sorriso e perguntando no que podia me ajudar. Ao sair, elas me diziam para não hesitar em chamá-las novamente se achasse necessário.
Fiquei 4 dias no hospital (praxe para parto normal). Um dia antes de sair, comecei a me sentir emotiva demais. Chorava ao pensar em voltar para a casa, um misto de felicidade e medo. Me sentia estranha quando as pessoas me visitavam.
Minha sogra veio de Paris para ficar em casa comigo, já que meu marido teria que voltar ao trabalho no dia seguinte da nossa saída da maternidade. A licença-paternidade aqui é de apenas 11 dias que podem ser tirados até o 4º mês do bebê. Como ele estava em um emprego novo, e já tinha ficado os dias de internação comigo, deixou para tirar esses dias depois.
No total, ela passou 10 dias em casa. Vinha pela manhã e ia embora de tardezinha para a casa da irmã. Ela fazia compras todas as manhãs para o almoço, cozinhava, limpava a cozinha e deixava o jantar pronto. Graças a ela, eu conseguia comer, mesmo que sendo interrompida pela minha filha. Até comida na boca ela me deu enquanto eu amamentava.
Os cuidados com minha bebê só eu fazia até o meu marido chegar. Como ela só dormia se estivesse no meu colo, eu quase não descansava de dia, pois mesmo deitada, eu tinha medo que ela rolasse e eu a sufocasse.
Eu não tinha a real noção de como seria ficar sozinha com a minha filha. No início, achei que ficaria insegura de não ter alguém que pudesse me ajudar caso tivesse uma emergência. O desafio porém nunca foi esse. A exaustão era o principal obstáculo, mas essa parte conto para vocês no próximo texto.
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