Puerpério em Berlim e os primeiros meses do bebê.
Como contei no texto anterior, fiquei no hospital três dias até meu filho nascer. Depois do parto, foram mais três noites de internação para fazer o U2 – segundo exame da criança pelo pediatra. Este exame pode ser feito até o décimo dia de nascimento. Mas acabaram me convencendo de que seria melhor me recuperar no hospital nos primeiros dias e depois ir para casa. Agora que já passei pela experiência do pós-parto posso dizer que me arrependo da decisão. Estou mais certa do que nunca de que o ideal é se recuperar em casa, no aconchego da família.
Foi praticamente uma semana de hospital e eu não via a hora de ir para casa. Sem falar que a possibilidade de conseguirmos um Familienzimmer (quarto para a família) infelizmente não se concretizou. Tive que dormir sozinha com o bebê em um quarto compartilhado com outra mãe e seu bebê. Tenho que admitir que isso me incomodou um pouco. Imaginava três dias de serenidade, tranquilidade e tempo para conhecer aquele ser tão pequenino e que mal tinha chegado ao mundo. Mas a realidade foi bem diferente: a mãe russa com quem eu dividi o quarto recebeu várias visitas. Eram crianças correndo pelo quarto e falando alto, e ninguém sabia falar alemão, inglês ou português, ou seja, não nos comunicamos por dias!
Rede de apoio: Hebamme, haushaltshilfe e mãe
Então, já era de se esperar que a volta para casa fosse o ideal. A hebamme (enfermeira obstetra) veio diariamente na primeira semana e passava em torno de uma hora conosco. Sua presença nos tranquilizava e fazia com que nos sentíssemos mais seguros. Mesmo lendo tudo sobre o assunto é normal se sentir inseguro, sobretudo para pais de primeira viagem, longe da família e de uma rede de apoio. Ter essa profissional nos dando suporte e todas as dicas foi fundamental e tornou esses primeiros dias com o nosso bebê muito mais fáceis.
Para as brasileiras grávidas ou que desejam engravidar em Berlim, uma indicação é se consultar com a hebamme Andrea Krugmann de Oliveira. Ela que me acompanhou durante o meu puerpério e ajudou muito a tornar esse período tranquilo e sem dor. Ela me aconselhou desde a posição de amamentação, cuidados com o bebê, banho, até como carregá-lo no canguru de forma ergonômica e como enrolar o bebê com uma fralda de pano para ficar bem apertadinho como estava dentro do útero. Super recomendo!
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A presença da minha mãe foi essencial para o meu bem-estar e para me sentir confiante e mais perto de “casa”. Berlim já é a minha nova casa, amo esse lugar. Mas das minhas raízes eu nunca esqueço. E comer comidinha gostosa, ser mimada pela mãe e ter uma presença feminina para aqueles momentos de mulher, entre absorventes íntimos e protetores para seios, enquanto se passa pela fase super difícil que são os primeiros dias de amamentação. Enfim, ter a vovó cuidando de tudo enquanto mamãe e papai estão na cama babando pelo seu filho não tem preço!
Quem não tem um familiar por perto, pode pedir solicitação de Haushalthilfe, que seria um ajudante para serviços domésticos e afins, tudo pago pelo Krankekasse (plano de saúde). Também é possível tentar o reembolso da passagem de algum familiar para auxiliar nesse período.
Benefícios do governo e creche
Depois de 20 e poucos dias estávamos só nós três. Tivemos tempo suficiente para curtir esses dias juntos antes de a rotina voltar ao normal. E uma coisa eu já sabia: queria curtir muito esse tempo único com meu filho. Já que ele sempre vai ser um menino, mas somente nesse primeiro ano será um bebê.
Além desse tempo maravilhoso em família, com tanta novidade e momentos únicos como o primeiro sorriso, a primeira vez que se vira e tantas outras primeiras vezes. É também a hora de dar início a inúmeras burocracias. Na Alemanha há alguns benefícios dados pelo governo para famílias com filhos, como o Elterngeld (dinheiro dos pais) e o Kindergeld (dinheiro da criança). Claro, só é possível fazer o requerimento deles após o nascimento do bebê.
Além disso, se a mãe precisa ou deseja voltar ao trabalho após o primeiro ano da criança, precisa começar o quanto antes a procura por uma vaga em um Kindergarten, também chamado por Kita (creche). Em Berlim é bem difícil esse processo e eu comecei a procurar ainda grávida. Hoje, meu filho tem 5 meses eu ainda não tenho uma vaga! Existem alternativas como Tagesmutter, aupair e babysitter, mas somente Kitas e Tagesmutter são financiadas pelo governo, ou seja, gratuitas.
Nova rotina: uma família com filho
A mudança da vida sem filhos para a vida de família é notável e pode ser sentida numa simples ida ao restaurante. O termo kinderfreundlich significa que o lugar é kids friendly, ou seja, as crianças são bem-vindas. Por aqui é super importante pesquisar onde ir com um bebê antes de sair de casa. Infelizmente, Berlim pode ser uma metrópole moderna e hippie ou como quiser chamar, mas ainda acontece de se ir a um restaurante e não ter um Wickeltisch (trocador de fralda para o bebê). Além disso, você poderá vivenciar algumas pessoas olhando torto quando virem um bebê no seu colo, achando provavelmente que ele logo vai começar a chorar. Daí vem a importância do termo kinderfreundlich.
Mas Berlim também oferece uma infinidade de Kindercafés, são simplesmente lugares para pais e mães que vão com sua criança e encontram um espaço para elas se divertirem. Uma boa dica também é o Familienzentrum (centro das famílias) de cada bairro, espaço financiado pelo governo que promove Krabbelgruppe (encontro de bebês). Nesses encontros tem atividades para as crianças de todas as idades, palestras sobre introdução alimentar, primeiros socorros, desmame noturno, desfralde e os mais diferentes temas. Em cada um desses centros há também um café, onde pais e mães podem se encontrar.
Há pouco tempo, iniciamos um grupo com mães brasileiras e seus bebês de 0 a 3 anos. Nós nos encontrarmos regularmente para que nossos filhos falem e pratiquem o português. Acreditamos ser é importantíssimo que nossas crianças aprendam o nosso idioma e tenham laços com o Brasil.
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Nós participamos de massagem Shantala para bebês e agora estamos frequentando o Rückbildungskurs, curso pago pelo plano de saúde. É uma ginástica para recuperar a musculatura da região do períneo e abdômen, que todas as mães podem fazer cerca de oito semanas após o parto.
Outra novidade no nosso dia a dia é o Pekip, uma atividade pedagógica de estímulo sensorial. Um grupo da mesma faixa etária encontra-se numa sala aquecida e a instrutora ensina as mais diversas formas e métodos de brincadeiras com os bebês. Estamos adorando e realmente observamos que os nenéns interagem e ficam bem ativos com as brincadeiras.
Além de todas essas novas experiências, a que mais marcou nossa vida nesses primeiros meses foi o “carregar”. Optamos por transportar o nosso filho no Tragetuch, conhecido no Brasil como Sling. É incrível e muito prático! O bebê se sente mais seguro por estar em contato com o nosso corpo, além de mais quentinho, o que está sendo maravilhoso nesse inverno! Usamos o carrinho muito raramente. Eu já adquiri também uma mochila ergonômica e um Mei Tai (carregador de tecido em formato de cadeirinha). Ele está adorando ser carregado!
4 Comentários
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Olá Lívia. Vou pra Alemanha em Janeiro de 2019. Ficarei 5 meses. Preciso de contatos de grupos de Whatsapp de mães brasileiras aí.
[…] tinha falado na publicação anterior que eu adoro carregar o bebê no sling e no canguru. E quanto mais o tempo passa, mais convicta eu […]