Pré-natal e parto normal em Calgary
Parto normal ou cesárea? A grande dúvida das mulheres grávidas geralmente é essa. Quando a gente engravida em outro país, as dúvidas são muito maiores – porque o desconhecido, muitas vezes, é assustador.
A minha gravidez não foi diferente. Quando eu morava no Brasil, eu sempre pensava em como seria quando chegasse a minha vez. Eu não imaginava que eu mudaria tanto de opinião.
Eu sempre pensei que uma cesariana seria a melhor coisa do mundo. Deus me livre passar horas sofrendo, com muita dor, naquela angústia e ansiedade de esperar um filho nascer. Era isso que eu imaginava que seria. Um martírio.
Como é feito o Pré-natal em Calgary
Quando engravidei minha primeira ação foi procurar o meu médico de família. É ele quem vai pedir os primeiros exames e checar como está a saúda da grávida. Em seguida, ele pode te encaminhar para um médico obstetra ou aguardar o teu cadastro com uma midwife – as famosas enfermeiras obstetras.
Se você optar por ter uma midwife, meu conselho é que você faça isso no instante que souber da sua gravidez. Aqui em Calgary elas são muito concorridas – o critério de elegibilidade é que você tenha uma gravidez saudável sem riscos. Para isso, você precisa encontrar uma no site do Alberta Association of Midwives e realizar o seu cadastro.
Se você optar por um médico obstetra, você vai continuar o seu pré-natal com o médico de família até a primeira consulta com o médico obstetra, o que pode demorar. É o médico de família que faz o seu encaminhamento.
Se você tiver uma obstetra – conhecer algum médico dessa especialidade, você pode informar para o seu médico e ele pode fazer o encaminhamento para o médico específico.
Saiba mais sobre as midwives aqui
No meu caso, eu não consegui ter uma midwife porque minha filha iria nascer no verão do Canadá, a época mais aguardada por toda a população, e consequentemente, quando todo mundo tira férias.
A minha consulta com a médica obstetra só aconteceu perto das 21 semanas de gestação. Até lá, eu tive todo o amparo dado pelo meu médico de família.
O pré-natal por aqui funciona de uma maneira bem diferente de como a gente está acostumado no Brasil – ou pelo menos ouvir como é no Brasil. Não existe uma relação de proximidade com os médicos aqui e é muito provável que o seu médico obstetra não seja o médico que vai realizar seu parto ou sua cesariana.
Quem realiza os partos/cesáreas no hospital é o médico que se encontra de plantão. Você pode dar a sorte de ser o seu médico, mas na maioria das vezes isso não acontece.

35 semanas e 4 dias de gestação. Foto: Arquivo pessoal.
Acompanhamento da gestação
Durante o pré-natal são realizados 3 ecografias. Sim, apenas 3 e elas são as necessárias para atestar a saúde da mãe e do feto.
A primeira é realizada com aproximadamente 8 semanas: eles verificam a idade gestacional, se o embrião está bem “instalado” no colo do útero, checam os batimentos cardíacos e a saúde em geral do embrião.
A segunda ecografia é realizada entre a 11 e a 13 semana de gestação: é a chamada translucência nucal e ela é obrigatória – diferentemente do Brasil, onde ela é uma opção por ser muito cara e muitos planos de saúde não cobrem. Essa ecografia é combinada com um exame de sangue para verificar se o bebê possui alguma síndrome, entre elas a síndrome de down.
Já a terceira ecografia é realizada entre a 18 e a 21 semana de gestação: essa é a morfológica, onde é verificado cada pedacinho do corpo do bebê, medidas do fêmur, medidas da cabeça, entre muitas outras coisas. E claro – é onde a gente pode descobrir o sexo do bebê.
Após essas três ecografias, o médico ou a midwife pode pedir que sejam realizados outros exames ou outras ecografias para averiguar alguma coisa, mas se a gravidez não tiver nenhum problema, serão apenas essas três.
Isso assusta muitas mulheres que não sabem que funciona dessa maneira. Você precisa ser muito desapegada dessa ansiedade de ver o bebê o tempo todo para que tudo dê certo por aqui.
Você pode fazer outras ecografias se você quiser, em alguma clínica particular, que deve ser paga a parte. Fora isso, tudo é coberto pelo Alberta Health Care.
O Parto Normal
O meu parto precisou ser induzido com quase 36 semanas, pois com 34 semanas de gestação eu fui diagnosticada com pré-eclâmpsia e com 30 semanas eu havia descoberto que tinha diabetes gestacional.
A indução foi marcada e o hospital te liga no dia agendado pelo teu médico dentro de 24h – pode ser a qualquer momento do dia ou da noite, quando estiver tudo disponível para você eles te chamam e começam o processo todo.
No meu caso não deu tempo: fui checar a pressão no hospital e só sairia com a minha filha nos braços, era muito arriscado manter o bebê no útero, pois eu já tinha algumas alterações de enzimas no fígado.
Fui para triagem pra monitorar o coração da minha filha e a pressão, respondi um milhão de perguntas sobre todo meu histórico médico. Eu não tinha absolutamente nada de dilatação. Às 19h começaram os procedimentos para indução.
Foi usada a técnica do balão – catéter de Foley. O balão leva de 10h a 48h para fazer efeito e pode chegar até 4cm de dilatação.
Como eu não estava em trabalho de parto ativo, não deixaram ninguém ficar comigo no quarto aquela noite porque tinha outra grávida no quarto. Eu já estava morrendo de dor e isso me deixou bem triste.
Decidi então que que iria levantar da cama e ir até a cafeteria encontrar o meu marido e a minha doula. Naquela madrugada conversei com a toda a minha família entre as contrações.
Dias difíceis, mas um dos momentos mais lindos da minha vida
Após atingir os 4 cm de dilatação, esperei minha transferência para a sala de parto e aproveitei pra descansar – mesmo com contrações muito doloridas. Tive minha bolsa estourada e começaram a ocitocina para ajudar na indução.
Eu decidi por não tomar nenhuma medicação para dor, apenas massagem, compressas e exercícios específicos com a minha doula. Após umas 20 horas já em trabalho de parto, eu implorei pela anestesia e ela me foi dada super rápida.
Foram 32 horas de trabalho de parto, foi muito difícil e sofrido, mas a cada segundo eu me aproximava mais da minha filha. Eu tive o total apoio do meu marido, da minha doula e das enfermeiras maravilhosas que estiveram comigo nesse período.
Eu empurrei por 28 minutos e a minha filha nasceu de um parto normal, lindo, humanizado. Eu fui extremamente respeitada, mesmo com a dor mais absurda que já senti na vida.
E depois de tudo isso, nós ficamos lá por uma hora sozinhos: eu, meu marido e nossa filha. Nos olhando e nos conhecendo. Foi um dos momentos mais lindos da minha vida. E todos os dias, mesmo muito difíceis e cansativos, tem sido os mais incríveis até então. O parto normal, no meu caso, na cidade onde eu escolhi para minha filha nascer, foi transformador para mim como ser humano e como mulher.
3 Comentários
[…] Leia aqui sobre meu pré-natal e o parto em Calgary […]
[…] de pré-natal e nascimento de muitos brasileirinhos pelo mundo. Por exemplo, a Mariana relatou aqui a sua história em Calgary, no Canadá. A Nina escreveu sobre sua Gestação e Parto na Espanha e a […]
Primeiramente, muito bom o post! Muito esclarecedor e cheio de detalhes, o que não nos deixa muitos questionamentos né. Eu tenho duas dúvidas. No começo você disse que se escolhe por uma médica obstetra ou por midwife, e que optou por obstetra, mas no momento do parto você tinha uma doula. Foi alguém que você encontrou a parte e acompanhou em conjunto com a obstetra? Outro ponto assustador são as ecografias (apenas 3) que é muito diferente do Brasil. Nesse caso, as clínicas particulares cobram muito caro para fazer mais ecografia caso optemos por isso? Ah ultima dúvida, prometo! rsrs Aí tem a opção de pagar convênio médico como no Brasil? Compensa?