Parto prematuro: a minha experiência na UTI neonatal na Dinamarca
Toda grávida tem o dia do parto como ponto de referência e linha guia. O planejamento de vida durante a gravidez passa a girar em torno dessa data e todos os preparativos são baseados no “Dia D”. Roupinha, quarto, visitas, tudo programado e combinado. Por isso, nenhuma mãe está preparada para o imprevisto e o impacto de um parto prematuro!
Foi o que aconteceu comigo. Um susto!
Com 33 semanas e 6 dias, repentinamente meu bebê veio ao mundo. A minha grande surpresa foi com o atendimento, cuidado e carinho que recebi durante todo o período que estive na neonatal com o meu filho aqui na Dinamarca.
Acompanhe aqui O nascimento de um brasileirinho de parto natural domiciliar na Holanda
Apenas para esclarecer, o foco desse texto não é criar um comparativo entre Brasil e Dinamarca. Não passei pela experiência de ter um prematuro no Brasil, portanto não posso falar a respeito. O meu único objetivo é compartilhar a minha experiência na UTI neonatal de um país nórdico.
Era 14 de dezembro, eu grávida de 33 semanas e 4 dias, comecei a ter um pequeno sangramento em casa. Acordei meu esposo e disse: “pode chamar a ambulância porque tem alguma coisa errada”. A ambulância chegou em 10 minutos e fui levada direto para a maternidade. Os médicos tentaram, mas não teve jeito, Lukas estava pronto para se apresentar pessoalmente. Então, no dia16 de dezembro, através de cesariana, nasceu meu bebê com 2,269 kg e 46cm.
A decisão de fazer a cesariana foi rápida e emergencial, uma vez que meu sangramento havia aumentado muito dois dias depois da minha chegada ao hospital. Fui submetida à anestesia geral. Os médicos e enfermeiros só atuaram após me explicarem a situação e terem o meu consentimento para todo o procedimento.
Acordei duas horas depois do nascimento do meu bebê, que ficou o tempo todo com o meu esposo. Assim que despertei da anestesia, me levaram para vê-lo, e partir deste momento, não nos separaram por nenhum minuto.
Conheça como é o Pré-natal, parto e pós-parto na Bulgária
Na Dinamarca, a mãe fica em um quarto com o bebê durante todo o período. É um quarto pequeno, mas confortável. Com cama, guarda-roupa, tv, berço ou incubadora e trocador. Uma das paredes do quarto é feita de azulejo e é utilizada para anotar informações como: peso, tamanho do bebê e medicamentos prescritos. Dessa forma, os pais, enfermeiros e médicos têm acesso às mesmas informações.
Tudo acontece neste quarto, desde a visita do pediatra e assistência das enfermeiras, até o banho, troca de fraldas e amamentação. Essa foi a nossa “casa” por 6 semanas, e esse é o objetivo dos médicos e enfermeiras da maternidade. Transformar, na medida do possível, os corredores frios de um hospital em lar. Eles trabalham para oferecer um ambiente calmo, seguro e confiável.
No meu segundo dia, uma enfermeira argentina chamada Macarena entrou no meu quarto falando um “portunhol”de forma muito carinhosa. Os médicos sabiam que eu era brasileira e que pela emergência do meu parto, eu não tinha nenhum familiar por perto. Então eles solicitaram que a Macarena viesse conversar comigo para terem certeza de que eu estava bem e que compreendia os cuidados que teriam com o meu filho. Acreditaram que a proximidade da cultura e da língua poderia me confortar neste momento delicado.
A enfermeira da neonatal me orientou em tudo. No primeiro banho, ela me ensinou que o melhor jeito de medir a temperatura da água é colocando o cotovelo, e não a mão. O cotovelo é mais sensível, portanto a temperatura ficaria mais adequada à pele sensível do bebê.
Saiba sobre o Serviços de assistência no pós-parto no Canadá
O Lukas, apesar de prematuro, nasceu saudável e não precisou de equipamento nenhum. Usou o respirador durante a primeira semana por segurança, e ficou com o monitor de batimentos cardíacos no pé até a terceira semana.
Uma das noites, o aparelho que monitorava os batimentos cardíacos do Lukas disparou e fez o famoso “piiiii” que vemos em filmes. Eu, desesperada, saí gritando pelos corredores em busca de ajuda. As enfermeiras vieram me atender e me mostraram que o medidor fixado no pé dele estava fora do lugar, e por isso o aparelho havia parado de marcar os batimentos.
Pedi desculpa e disse que não fazia ideia de como funcionavam todos os equipamentos, por isso chamei por ajuda. Na manhã seguinte, o médico pediatra e duas enfermeiras vieram ao meu quarto conversar. Eles ficaram comigo por 40 minutos. Me explicaram como funcionava cada um dos monitores, para que serviam, e qual a combinação que mostraria que o Lukas estava com problemas.

Foto: Arquivo pessoal
O Lukas usou sonda para se alimentar durante cinco semanas. Ele era pequeno e não tinha peso suficiente, por isso não conseguia fazer uma refeição completa sozinho. Eu tirava o leite e dava pra ele na sonda. Comecei a amamentar duas semanas após o parto e complementei a alimentação pela sonda até a quinta semana. As enfermeiras me auxiliaram em todo o processo de amamentação. A postura correta, como ordenha manualmente ou com a máquina, como acertar para pegar, a melhor posição para o bebê, e como proteger e hidratar o bico do seio para evitar rachaduras.
Durante as seis semanas que ficamos no hospital as enfermeiras incentivaram e nos orientaram a fazer o “canguru”, colocar o bebê deitado no peito da mãe em contato com a sua pele. Fazia 3 vezes ao dia, e uma das vezes com o pai. Assim o bebê se conectava com o pai e este se sentia também incluído no processo, já que mãe e filho estavam dormindo no hospital.
Após um mês e meio na UTI neonatal tivemos alta, o Lukas pensando 2,8 kg e se alimentando sem a sonda. Aí foi o momento de me despedir desse time que me auxiliou desde o primeiro minuto, e que agora estava me liberando para ser mãe em casa.
No dia que saí do hospital, uma prima que mora no Brasil me perguntou: “Você não está com medo de ficar sozinha com o Lukas em casa?” Minha resposta foi: “Não! Me sinto segura e preparada. Tive um ótimo treinamento na UTI neonatal aqui na Dinamarca!”
3 Comentários
[…] de ter nosso primeiro filho. O tempo passou, nosso bebê nasceu (você pode ler sobre isso aqui) e agora eu tinha nos braços um dinamarquês com sangue brasileiro. Aí começava minha busca para […]
[…] Leia também: Parto prematuro na Dinamarca […]
[…] Leia também: Parto prematuro: a minha experiência na UTI neonatal na Dinamarca […]