Em meu texto anterior, contei um pouco sobre as dificuldades que passei para ter minha primeira filha e sobre a depressão pós-parto. Este mês, divido com vocês a continuação desta história.
Passado aproximadamente um ano do nascimento de minha filha, descobri estar grávida de novo, logo depois do Natal. Que presente! Eu fiquei super feliz, pois ia começar tudo de novo: consultas, ultras, ansiedade, parto etc.
Logo no dia da minha primeira consulta com a midwife tive que ir às pressas para o hospital porque estava com sangramento já há alguns dias. Me encaminharam para o early pregnancy, que cuida de gestantes no ínício da gravidez, para fazer uma ultra. A técnica que realizou o procedimento perguntou com quantas semanas de gravidez eu estava e eu disse que eram 10 semanas.
Ela respondeu que não poderiam ser 10, mas algo em torno de 6. Fui tomada por um sentimento horrível e ela me disse para voltar na semana seguinte para vermos se a gravidez estava evoluindo. Nem precisou chegar a tal próxima semana, pois no dia seguinte tive um aborto logo pela manhã.
Foi um dia de terror, eu estava tendo um aborto sozinha em casa com a minha filha. Liguei para o meu marido que veio correndo. Isso tudo aconteceu em 16 de fevereiro de 2016, e não sei como, neste mesmo mês, engravidei de novo! Mas só descobri com quase 17 semanas.
Nova gravidez
Eu falava com a minha mãe que depois da perda do bebê meu período nunca mais veio e ela dizia: “Você está gravida!” E eu questionava: “grávida como? Nem tive o período de novo!”
Mas como diz o ditado que “praga de mãe pega”, realmente pegou. Fiz o teste e pimba! De novo, grávida! Marcamos um scan porque eu não fazia a mínima ideia de com quantas semana eu estava. Durante o exame já era possível ver o feto todo perfeitinho, vi as costelhinhas, a coluna, o crânio, tudo! Eu comentei com a técnica como parecia estar grande e ela perguntou se eu sabia as semanas. Eu disse que não e ela respondeu: 16 semanas.
O quê? 16 semanas? Quase metade da gestação e eu não senti absolutamente nada, principalmente por ser logo em seguida a um aborto. Tem coisas nessa vida que acontecem e são inexplicáveis. Até hoje me questiono como pude engravidar praticamente passado duas semanas de ter perdido um bebê. Até hoje eu acho que tinha um espermatozoide perdido e viajando dentro de mim.
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Foi tudo tão rápido que não tive tempo para nada, mas foi uma gestação muito abençoada e tranquila, tudo perfeito, inclusive o parto. A data prevista era 30 de novembro, dia 29 de novembro eu estava chateada porque pesei que teria de fazer indução, pois a midwife já havia falado nisso.
Na hora do banho conversei com meu menino, pedi para que ele viesse logo porque não queria passar por indução nenhuma e ele foi muito obediente. Às 23h30 a bolsa rompeu e logo em seguida começaram as contrações. Meu marido ligou para o centro de nascimentos e marcaram para eu dar entrada no hospital às 11h da manhã. Não deu tempo, senti as contrações aumentando tanto que às 2h da manhã fomos para o hospital e as 4h12 nasce meu baby boy (bebê menino) para completar a nossa alegria. Família realizada, era nosso desejo ter dois filhos, meu marido sonhava com um casal! Tudo tinha dado certo.
Mas a realidade dura e crua estaria presente em minha vida novamente. Mais uma vez não tive leite logo após o parto, somente umas gotinhas, o leite desceu depois de 3 dias. Lá estava eu comigo mesma, sozinha tendo duas crianças para cuidar, um precisando de cuidados a outra precisando de atenção. A minha filha sentiu muito ciúmes do irmão.
Agora, passados 6 meses, tenho dois serzinhos maravilhosos que dependem de mim e são 100% agarrados à mamãe. Mas é neste momento que me sinto solitária, perdida e desencontrada comigo mesma. Me sinto fora de mim e cada dia mais estressada, cansada e frustrada.
Novamente vem aquele sentimento de impotência, de como posso me sentir assim se tenho a melhor das companhias? Então, muito rapidamente, penso: claro que posso estar assim, sou um ser humano, antes de ser mãe eu já existia e não posso morrer para cuidar dos filhos.
Nesta vida sempre há um meio termo. Eu sei que tudo passa correndo, os filhos crescem, a vida segue, mas e eu? Onde eu estou? Para onde vou? Não vou? Não sou! Deixei de ser eu para passar a ser uma mãe que se sente frustrada, sem identidade, sem emprego, sem estar feliz? Sim! Me sinto assim, esquecida por mim e pelo mundo.
Fardo pesado demais
Tive a coragem de marcar uma consulta para falar com a médica sobre meus sentimentos, para dizer que me sinto muito, demasiadamente triste, cansada, minha cabeça está confusa, estou sem paciência para os meus filhos, meu casamento está por um fio, meu marido diz que tem dias que estou insuportável. Mas vamos ver o que vai acontecer, em breve terei a consulta e eu estou um bocado apreensiva, mas realmente preciso de ajuda, porque o fardo está pesado demais.
A maternidade é um momento da vida muito maravilhoso, mas em contrapartida não podemos ser reféns de nossos filhos e esquecermos a nossa própria identidade. Estou tentando balancear a vida de mãe com a vida profissional. Não vai ser fácil ajustar os ponteiros, conseguir voltar a trabalhar com tranquilidade, ter que trabalhar em horário contrário ao do marido para poder conseguir ter tempo para os filhos e poder cuidar deles…
Creches e cuidadoras no Reino Unido são muito caros e ter que trabalhar para pagar creche não faria valer a pena nem sequer sair de casa. Mas voltar ao mercado de trabalho ultrapassa a barreira do financeiro. Neste momento, para mim significa ser alguém, ser útil ao mundo e, além de tudo, poder ver pessoas e poder falar com elas, ter a oportunidade de conhecer pessoas novas, fazer novas amizades, deixar esse sentimento de solidão bem distante de mim.
Estou confiante de que tudo acontecerá da melhor maneira e que em breve eu poderei me reencontrar e ser a melhor mãe que meus filhos possam ter.
6 Comentários
Oi Ju! Te entendo PERFEITAMENTE. Meu primeiro ano com filha onde moro foi assim, com esses mesmos sentimentos que você descreveu. Agora estou grávida e tive depressão durante a gravidez. A solidão que impera na maternidade fora do país natal é absurda, pesada, quase palpável. Algo que me ajudou MUITO foi descobrir amigos por aqui. Foi outro processo complicado o da socialização, pq muitas vezes acabamos com contato com gente que não tem nada a ver com a gente.. Mas dei sorte, muita, e isso mudou muito a situação aqui. Além da socialização, terapia é muito importante (pretendo começar em breve). Um beijo, e sinta-se abraçada: você não é a única que se sente assim!
Olá Tati,
Esses dias meu coração esteve em cacos, minha filha nesses playgrounds estava interagindo (tentando) com uma menina, ela dizia Bello, hi…hi, Bello em a menina nem sequer a respondeu. Fiquei numa frustração tão grande, da vontade de juntar as malas e voltar para o Brasil. Eu preciso procurar terapia e novos amigos, preciso sair de casa para não enlouquecer.
Beijo grande.
Juliana
[…] Leia também: O segundo filho e a busca pela felicidade […]
Oi, Ju!
Precisa mesmo! Não desista de cuidar de VOCÊ, justamente, pra depois dar pros seus filhos uma mãe serena, inteira e pronta pra ajudá-los.
Passo pelos mesmos sentimentos, moro na França há oito anos e tenho uma filhinha de 4 anos. Não tenho vontade de voltar pro Brasil por vários motivos, mas a minha história faz com que seja muito difícil pra mim passar por tantos questionamentos e Ainda estar tranquila.
Ei Juliana,
espero que já estejas melhor!! Não sei se teve algum post novo comentando sobre a consulta médica para falar dos seus sentimentos… Cheguei na Inglaterra no final de janeiro e hoje (aproveitando o domingo) estou explorando as postagens do Brasileirinhos pelo Mundo e adorando as informações!!
Não sei se alguém já chegou a comentar contigo, mas é super normal que o leite só “desça” uns 2 ou 3 dias após o parto. Super comum. Só confesso que não sei qual seria a atitude correta para alimentar um RN de 1 e 2 dias. Nós acabamos dando um pouco de fórmula nesses dias até o leite descer. Depois que desceu deixamos a fórmula para lá. Dizem que o bb nasce com uma “reserva” e que só o colostro do peito consegue manter até o leite descer, mas não sei ao certo. Teria que ver com a nossa ex-pediatra (do Brasil. Um amor de pessoa) se isso procede . …
Olá Juliana!
entre alguns comentários que fiz ontem (e acho que não foram registrados), mencionei que todo mundo romantiza a maternidade, mas que nem tudo são flores. Pra mim, o nascimento da minha mais velha foi um choque! Eu chorava, sentia dores nos pontos da episiotomia, mamilos rachados, dor ao amamentar… quando minhas amigas engravidam eu conto todo esse lado ruim da maternidade.
Sobre o leite descer no 3o dia, até onde me lembro isso é o normal/esperado. O leite não desce logo após o nascimento, dizem que o bb nasce com uma reserva de energia no corpo que só o colostro (que vem um pouquinho no início) consegue manter o bb até que o leite desça. Eu e marido demos um pouquinho de fórmula nesses primeiros dias até o leite descer, tanto que acabamos estragando quase uma lata inteira de fórmula… depois que o leite veio paramos com a fórmula. Teria que verificar novamente com a pediatra das meninas se o bb não fica esfomeado só com o colostro, mas nos meus dois partos o leite só desceu depois de alguns dias.
E espero que a consulta médica para falar de seus sentimentos tenha ajudado! o fardo é pesado mesmo!!
Abraços