O papel da matrona no sistema de saúde espanhol.
Obstetras, enfermeiras, doulas… há muitos profissionais de saúde envolvidos em uma gestação. Porém, na Espanha, o acompanhamento pleno é feito pelo(a) matron(a). Sua figura, embora muitas vezes esquecida e inexistente em muitos países, é considerada Patrimônio da Humanidade e uma das profissões mais antigas.
Qual é, enfim, o papel dela? A palavra matrona, de acordo com o dicionário espanhol, significa uma mãe de família responsável, bem como uma mulher autorizada a assistir as gestantes durante o parto. Assim, cabe à matrona, que também pode ser exercido por um homem, proporcionar às futuras mamães cuidados e a atenção que necessitam desde o momento da concepção, até que se termine o puerpério. Além disso, é responsabilidade dela a instrução sobre os primeiros cuidados com o bebê e cursos de preparação para a maternidade. Não apenas a gestante será auxiliada, as matronas também estão tecnicamente preparadas para acompanhar a saúde sexual e reprodutiva da mulher ao longo de sua vida.
Em seu âmbito de atuação, abarca tanto a atenção primária – que inclui os centros de saúde, comunidade, família e atendimento domiciliar – como a atenção especializada, que inclui os hospitais, podendo exercer sua profissão no setor público ou privado.
A matrona na gravidez
Ela é responsável por preparar o corpo da futura mamãe para a gestação (planejamento), o adequado seguimento da gravidez e o parto, seja natural ou cesárea. Também ajuda a aplicar medidas de emergência caso seja necessário.
Além disso, auxilia as gestantes nas muitas mudanças emocionais, escutando e respondendo as inúmeras dúvidas – como os temores frente ao parto, a dor, a prematuridade, a morte súbita, os problemas que podem ocorrer a um recém-nascido – e também ajudando com as dificuldades das mulheres com os incômodos que uma gravidez pode provocar, dando força e apoiando em todas as etapas.
No momento do parto
As matronas recebem as grávidas na chegada ao hospital e as levam à sala de dilatação, onde as atenderão durante todo o período de dilatação e expulsão. Se ao longo deste momento aparecer alguma complicação, ela avisará o obstetra, que entrará em ação. Quando chegar o momento adequado, se encarregará de avisar o anestesista, caso a gestante tenha solicitado a peridural, do contrário atuará em todo o período expulsivo, inclusive suturar a episiotomia.
A matrona que assiste as futuras mamães no parto na rede pública será a que estiver de plantão no hospital, assim dificilmente será a sua matrona habitual, porém com a mesma preparação.
Após o nascimento do bebê
Ainda no hospital, a matrona controlará a normalidade do pós-parto da mãe e do bebê durante as 3 horas posteriores a expulsão. A partir de então, as mães receberão os cuidados das enfermeiras. Uma vez dada a alta hospitalar, a profissional fará uma visita domiciliar a suas pacientes ou as receberá em uma consulta. Ela te informará e te assessorará nas questões mais importantes da nova etapa, vigiará o estado dos pontos no caso de uma cesariana ou episiotomia e ajudará a mulher na lactância, durante aproximadamente 1 mês após o parto.
Saliento que todas essas atuações das matronas são realizadas apenas do sistema público de saúde, pois, no sistema privado, todo o seguimento gestacional é realizado pelo obstetra, como no Brasil, e o papel delas começa unicamente durante o parto. Porém, se a gestante desejar, poderá também ser acolhida no sistema público para o acompanhamento da matrona, concomitante as consultas médicas privadas.
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Quando há intervenção de um ginecologista/obstetra na saúde pública?
Se a gestante realiza todo o seu acompanhamento no sistema público de saúde, as visitas ao obstetra serão periódicas, ocorrendo normalmente 3 vezes, uma a cada trimestre da gestação e apenas para a realização das ultrassonografias e no caso de alguma complicação ou gestação de alto risco. Os exames clínicos são todos solicitados pela matrona. No caso de anormalidade de resultado, a gestante é encaminhada ao seu médico de família que a medicará se necessário. Como já dito, o médico voltará a atuar apenas no caso de uma cirurgia cesariana ou risco no momento do parto. Haja vista, a Espanha, como muitos outros países europeus, privilegiarem o parto normal.
Qual a formação técnica da matrona?
Para se tornar um(a) matron(a) é necessário, primeiramente, um diploma universitário de enfermeiro(a), que normalmente é obtido após 4 anos de estudos, e, em seguida, cursar uma especialização em ginecologia e obstetrícia (2 anos), além de estágios assistenciais contínuos e exame profissional para obter o registro e poder oficialmente atuar.
Quando e como iniciar as consultas com a matrona?
As mulheres podem solicitar consulta em seu centro de saúde correspondente antes mesmo de estarem grávidas, para que as matronas as auxiliem com o planejamento e já indiquem vitaminas a serem ingeridas. Após a notícia da gravidez, a primeira consulta pode ser agendada em seguida e é nesta que terá os primeiros auxílios e o encaminhamento aos primeiros exames clínicos e ultrassonografia, ou seja, é geralmente a consulta mais longa. As próximas são agendadas pela matrona e ocorrem mensalmente no caso de normalidades.
Os centros de saúde mais representativos possuem ao menos uma matrona, que geralmente a acompanhará durante toda a gestação. Mas, no meu caso, tive a infelicidade de ser acompanhada por 4 matronas diferentes em decorrência de férias e outros afastamentos. Isto não interferiu tecnicamente na assistência, porém não contribuiu para um vínculo mais cômodo.
Sem dúvida é uma profissão linda e merece todos os créditos, bem como ser adotada pelo sistema de saúde brasileiro.
2 Comentários
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[…] Outro profissional atuante na atenção primária é a matrona, responsável pelas gestantes e pela saúde da mulher. Caso não haja nenhum problema, os exames ginecológicos são solicitados a cada três anos. Saiba mais sobre o trabalho da matrona neste link. […]