O meu parto na Bélgica.
As mulheres que desejam a maternidade normalmente criam um turbilhão de interrogações e expectativas sobre esse momento: gestação tranquila, um bom parto, filho saudável, aleitamento exclusivamente materno até os 6 meses, entre outros. Porém, como a maioria das coisas, a maternidade não é matemática e portanto imprevisível e incontrolável. Por mais planejamentos que sejam realizados, algo sempre sairá de maneira inesperada.
Ao escrever este artigo decidi não apenas tratar de questões práticas e informativas sobre o parto na Bélgica, mas também dar um toque pessoal e relatar a minha experiência emocional sobre esse momento tão esperado.
O pré-parto
Como dito no meu artigo anterior, passei 7 meses da minha gestação na Espanha e apenas vim para a Bélgica com 32 semanas. Com alguns poucos contratempos, tive uma gestação fisicamente bem tranquila, inclusive com grande disposição até o final. A data prevista para o parto era 5 de junho, mas apenas 2% das grávidas dão a luz com essa precisão então, 2 semanas antes já havia preparado toda a mala da maternidade e a carregava comigo sempre que saia de casa.
Como tratava-se do primeiro neto, meu pai fazia questão de estar comigo no parto e também curtir o rebento, mas como não podia ausentar-se do Brasil por muito tempo, baseou-se na data dada pelos médicos, chegando 10 dias antes para permanecer mais 10 dias pós parto, e assim teríamos uma margem na sua estadia.
Não fiz nenhum planejamento de parto por escrito, apenas informei meus desejos ao obstetra e ao meu companheiro, assim ambos estavam cientes. Também não tive tempo hábil de visitar as maternidades, escolhi baseado nas informações e imagens do site, no preço e na recomendação de outros pacientes (considerada a melhor maternidade da Bélgica). Nesse quesito afirmo que foi uma escolha perfeita, pois fui extremamente bem assistida por toda a equipe, além de todos se comunicarem comigo em inglês, haja vista meu francês é bem básico.
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Tudo estava correndo muito bem a não ser pelo fato da aproximação da data prevista do parto e eu sem um mínimo sinal de contração. Quanto mais se acercava, mas desejava sentir dores. Sabia que neste momento o controle todo era do bebê, até porque esperávamos pelo parto normal, porém a exaustão física de uma final de gestação, agregado a ansiedade por ver a carinha do meu filho e o prazo de estadia do meu pai, criaram-me ansiedade.
Enfim, chegou o dia 5 de junho e nada, foi então que consultei meu médico e, após a análise do monitoramento cardíaco do bebê e do meu índice de contração, ele me lançou um imenso cubo de gelo: não estávamos preparados para dar a luz e induzir o parto nesse momento seria muito arriscado.
Uma nova data então foi prevista: 15 de junho, o mesmo dia em que meu pai voltaria ao Brasil. Foi um momento desestimulante diante de toda alegria que envolve um nascimento.
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Foi então que começou uma maratona particular: realização de monitoramento a cada 48 horas e batalha para mudar a data da passagem. Confesso que por mais que eu tentasse me tranquilizar, foi um momento de muito estresse e tristeza. Todos me diziam palavras de motivação e perseverança, mas dentro de mim apenas via 2 cronômetros totalmente inversos.
Conseguimos postergar a data do voo uma semana, mas as contrações continuavam iguais, ou seja, quase nulas. Não sentia absolutamente nada de anormal.
No dia 14 de junho meu obstetra decidiu que faríamos uma indução de parto, pois já estava com mais de 41 semanas e retardar mais colocaria a saúde do bebê em risco assim, sai da clínica sabendo que no dia seguinte meu filho nasceria, ou seja, a espera de um parto normal “planejado”.
O grande momento
Às 8h30 do dia seguinte dou entrada à maternidade e uma hora depois, já na sala de nascimento, aplicam-me oxitocina. As primeiras contrações demoram a aparecer, apenas 5 horas depois e começaram a ficar mais intensas por volta das 18 horas. Nesta, eu estava em um quarto para gestantes de alto risco, sendo monitorada constantemente e a minha dilatação em contramão das contrações.
Quase 1 hora da madrugada do dia seguinte as contrações se tornaram mais intensas e os batimentos cardíacos do bebê estavam irregulares, assim a equipe decidiu por aplicar-me a epidural. Uma de minhas expectativas, além do parto normal, era realizá-lo sem a anestesia. Neste momento, o que eu mais desejava era sanar a dor.
Bendito seja esta tal de epidural; foi um bálsamo. Feito isto, já sem dores, os monitoramentos continuaram, agora mais complexos, pois passaram a verificar também o nível de oxigenação do bebê. Quase duas horas depois, recebi a noticia de que partiríamos para a cesárea.
Essa foi a minha maior frustração, uma grande tristeza envolta a um sentimento de impotência por não ter conseguido dar a luz de maneira natural. Hoje assimilo melhor, e passei a não me enxergar menos guerreira por isso e entender que naquele momento a cesárea se fez necessária pois meu filho já estava em sofrimento.
Minha cesárea, por conta do meu estado emocional, foi ruim. O tempo todo estava incontrolavelmente tremula, com sensações de falta de ar e desmaio, a ponto de não conseguir manter meu filho no colo em seus primeiros minutos assim, os braços do meu companheiro foram seu alento durante seus primeiros momentos de vida.
O pós-parto
As maternidades belgas têm a opção de quartos individuais e coletivos que, atualmente comportam em sua maioria, no máximo dois pacientes. A diferença entre eles é o preço e a permanência integral de um acompanhante. Eu optei pelo coletivo.
Normalmente, em um parto normal, a mãe permanece hospitalizada 48 horas e quando realizado uma cesárea, mínimo 72 horas. Durante a internação, recebi a visita diária da pediatra, além de uma fonoaudióloga, que realizou uma audiometria no bebê, e uma fisioterapeuta para exercícios musculares pós cesárea. Estes últimos são optativos e cobrados a parte, porém a baixo custo.
Ademais recebemos a visita de uma assistente social que prestou todas as informações referente ao tratamento e acompanhamento infanto-juvenil (0-18 anos) na Bélgica, inclusive o calendário de vacinação e os locais e serviços de atendimentos. Ao deixar a maternidade, recebemos uma caderneta da criança onde será apontado todos os dados de desenvolvimento, uma espécie de dossiê.

Caderneta do bebê distribuído pelo governo
Uma semana após o parto, as mamães têm direito a receber a visita de uma matrona que a auxiliará nos primeiros cuidados bem como sanará as dúvidas e também verificará o estado geral do bebê. Como residia a 30 km da maternidade, tive que fazer esta visita no próprio hospital e foi neste momento que a matrona retirou meu pontos cesarianos.
A minha recuperação está ótima e o bebê saudável. As dores e tormentas que permearam o momento do parto ficaram para trás, graças a capacidade de resiliência. Agora é seguir as novas etapas e aproveitar cada descoberta desse grande encontro chamado maternidade.
7 Comentários
Olá Marcela tudo bem? Estou com quase 40 semanas de gestação e nada dos benditos sinais dos trabalhos de parto acontecerem.Qual maternidade você teve o seu bebê aqui em Bruxelas?Queria mais informações sobre o parto induzido, porque o meu médico me disse que será necessário, caso não nasça naturalmente.
Olá Jeane, tudo bem e você?
Meu parto foi feito no Hospital Delta Chrec, em frente a ULB. É um hospital maravilhoso e fui muito bem assistida. Não há mistério no parto induzido e no meu caso foi necessário para não haver sofrimento fetal por parto tardio. Foi aplicado a medicação no colo vaginal e esta agia por si para provocar as contrações. Não houve dor na aplicação, é rápida e simples, apenas tinha que ter cuidado ao urinar para não expelir o remedio. Há também a aplicação de medicação intravenosa. Isto dependerá de como estará sua evolução no momento da internação.
Não se preocupe, dará tudo certo. A saude gestacional belga é bastante eficaz.
Boa Hora!
Abraços,
Marcela
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Ola Jeane tudo bem? Muito obrigada pelo relato do seu parto. Meu obstetra realiza partos nessa maternidade e eu provavelmente irei ganhar meu bebê nela. Gostaria de perguntar em relação a valores. O seguro de saúde cobre boa parte do parto? Tem diferença entre valores de parto normal ou se ocasionalmente necessitar de um parto cesárea ? Agradeço desde já. Grande abraço
*Marcela.
Olá Barbára,
Em relação aos valores, sugiro que entre em contato com a maternidade e solicite o orçamento. Eles te enviarão um informe com a descriminação dos valores cobrados e se você optar por quarto compartilhado, o seguro cobrirá uma boa parte, caso opte por individual, os valores serão cobrados quase que integrais e aí sai bastante caro. No meu caso, como foi uma cesárea de urgência, a cirurgia não foi cobrada, apenas a pelidural. A cesárea, pelo que sei, somente será cobrada se for opção da paciente.
Boa hora!
Abraços
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