O amor incondicional que não senti quando tive minhas filhas – parte 2
Esse texto é continuação do meu texto anterior que você pode ler aqui.
Depois da minha primeira experiência eu acreditava que não teria mais filhos, mas assim que a Sarah fez três anos comecei a pensar que seria muito bom que ela tivesse um irmão ou irmã. O Fred concordava também, mas achava que era mais prudente esperarmos um pouco mais. Concordamos e quando a Sarah estava com um pouco mais de cinco anos decidimos engravidar. Mas foi aí que o Fred recebeu a proposta de vir para a Itália.
Com a expatriação adiamos a gravidez e esperamos estar completamente instalados na Itália para retomar o projeto do segundo bebê. A Sarah estava bem adaptada ao novo país e à nova escola (tivemos problema com a primeira escola).
Nessa altura, a Sarah já estava com quase sete anos e eu não queria esperar mais. Decidimos que era hora e mais uma vez foi rápido de novo, no primeiro mês de tentativa já estava grávida do nosso segundo filho ou filha. Ficamos muito felizes, principalmente a Sarah que queria tanto uma irmãzinha, sim ela queria uma irmãzinha e seu pedido foi atendido, pois estava esperando mesmo uma menininha.
Dizem que cada gravidez é diferente da outra, pelo menos comigo foi assim. Passei muito mal, tive muita queda de pressão e vivia prostrada no sofá sem energia ou vontade de fazer algo. Graças a Deus, a partir do sexto mês comecei a me sentir melhor.
A expectativa
Agora com mais energia já conseguia pensar e se programar para a chegada da Giulia, esse foi o nome que escolhemos juntos. Começamos preparar o enxoval, o quartinho e cada vez mais eu me animava. Eu já tinha lido que não era comum a babyblues se repetir na segunda gravidez, então eu relaxei.
Comecei a ficar animada com a possibilidade de ser tudo diferente, inclusive ser capaz de amamentar a Gulia. Afinal, não teria mais os perrengues de mãe de primeira viagem e já sabia lidar melhor com o choro e tal.
Aqui na Itália a cesárea só é realizada em último caso, a preferência é sempre pelo parto normal. Esperamos até 41 semanas e 4 dias, e como eu não tinha contração e não podia ter um parto induzido, fizemos a cesárea.
A minha experiência de parto na Itália não foi nada boa, mas esse é assunto para um próximo texto. Os dias na maternidade não foram fáceis, não escutei o choro da Giulia, descobri depois que ela nasceu sem respirar porque havia passado da hora. Não houve pele com pele, não teve o relaxante banho pós-parto, nem os medicamentos para aliviar a dor daquele corte e tampouco as enfermeiras para me auxiliar.
Um começo bem dolorido e para piorar começava sentir a babyblues novamente. Eu não conseguia acreditar que era verdade e para minha tristeza não consegui amamentar novamente. Cada vez que tentava amamentar eu entrava em desespero, é como se a depressão tomasse conta de mim, que horrível. Por fim, decidimos dar mamadeira e aliviar aquele peso que eu sentia.
Dessa vez entendia melhor o que sentia e por isso não me calei. Compartilhava tudo com o Fred e com os meus pais que também me apoiaram muito. Já não me sentia tão sozinha, quanto foi da outra vez.
E o amor? Eu amei a Giulia quando nasceu? Também não. Difícil demais isso, gente. Nem eu acreditava que estava passando por isso de novo. Felizmente eu sabia o que estava acontecendo, mas ainda assim não era fácil. Nunca foi e nunca será. Sei que não sou a única que não amou o seu próprio bebê quando nasceu, existem muitas outras mães que passaram ou estão passando pelo mesmo que eu. Talvez seja o momento mais solitário da maternidade, você descobrir que não ama seu bebê como as suas amigas ou familiares te disseram que amavam. Será mesmo que todas amaram? Ou será que se sentiam sozinhas e com medo de dizer algo que elas jamais puderam pensar que não sentiriam? Estou certa que este talvez seja um tabu da maternidade.
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Confesso que é difícil falar com qualquer pessoa sobre isso, por isso sou solidária as maes que viveram isso sozinhas, sem alguém para abraçá-las e dizer que tudo ficaria bem. Infelizmente, é um assunto que pode ser facilmente mal interpretado e julgado. Afinal, que mãe não amaria seu filho ao nascer? Facilmente pensariam que é loucura ou sei lá o que. Mas no fim o que eu sentia, ou melhor, não sentia, era um fato. E o que eu poderia fazer? Esperar, ter paciência e saber que assim como construi o amor que tenho pela Sarah, com a Giulia não seria diferente.
Fácil? Não é fácil. Dói? Sim, dói e às vezes essa dor vem seguida de muitas lágrimas. Mas vai passar. Não sei dizer o dia exato, mas sei que nesse período de quarentena, após o primeiro aninho da Giulia eu consegui olhar pra ela e sentir o mesmo amor que sinto pela Sarah. É maravilhoso poder dizer isso, melhor que dizer é conseguir sentir isso. Uauuuu eu amo a Giulia assim como eu amo a Sarah. E sabe o que e mais legal? O amor não se dividiu, ele se multiplicou.
Parece loucura tudo isso, mas é uma realidade que está aí fora, com mães que têm vergonha de falar, que têm medo dos julgamentos alheios e até das pessoas que amam.Você não está sozinha, eu nunca estive sozinha, e quando descobri isso entendi melhor como lidar com a falta desse sentimento que em um momento bastante óbvio é esperado ter.
Hoje, sou abençoada em ter duas filhas lindas para amar e quanto amor sou capaz de sentir por essas criaturas que de graça e sem nenhuma pretensão me faz dar a vida por elas sem questionar.
Um dia elas conhecerão essa história, ou melhor, a nossa história, seja por uma conversa ao improviso ou quando estiverem se preparando para a maternidade e eu estiver ali para apoiá-las. Não terei medo de quando chegar a hora, mas sim orgulho do que juntas enfrentamos e construímos para chegar onde chegamos. Até lá, vou amá-las momento a momento até a lua ida e volta!
1 Comentário
Obrigada por compartilhar Paty!! Emocionante e inspirador!!