O amor incondicional que não senti quando tive minhas filhas – parte 1
Pensa numa pessoa que sempre sonhou em ser mãe? Assim que eu disse “Sim” no altar a próxima frase foi: “quero engravida logo.” Apesar da euforia, concordamos em esperar. E assim foi por cinco anos. Quando decidimos que era hora foi rápido, no segundo mês de tentativa já estava gravidinha.
A minha gestação foi super tranquila, com muita disposição que me levou a trabalhar ate o último dia praticamente. Fizemos enxoval em Orlando (EUA), decoramos o quarto como queríamos e eu só imaginava como seria incrível ter finalmente um bebê para chamar de meu.
O grande dia
Chegou o tão esperado dia. Parto cesárea perfeito, momento emocionante do choro e o pele com pele inesquecível. Assim que passou o efeito da anestesia tomei um banho com a ajuda do Fred e logo estávamos prontos para receber nossa princesa. Lembro quando ela chegou, me emociono só de lembrar. Bem desajeitada, coloquei ela no peito e me senti a mulher mais realizada do mundo!
Os dias na maternidade foram incríveis, enfermeiras queridas e sempre ali para me auxiliar e orientar. Medicação administrada por elas, café da manha na cama e cuidados com a pequena até na hora da mamãe dormir, afinal eu precisava me recuperar para passar o dia cuidando da bebê. Era tudo maravilhoso e eu me sentia segura.
Apesar de tudo, não via a hora de ir pra casa para ver a nossa bebê no quarto que a gente tinha preparado e claro colocar nela todas as roupinhas fofas que tínhamos comprado. Recebemos alta em uma sexta-feira. Nosso apartamento ficava a cinco minutos de carro da maternidade, então logo estaríamos em casa.
Lembro que, quando começamos a organizar as coisas para ir pra casa, senti uma vontade forte de chorar. Mas não dei bola, afinal estava emocionada com tudo aquilo então era normal eu pensava.
A chegada em casa
Chegamos em casa e a minha ansiedade aumentou. “Que loucura”, eu pensava. Deixamos tudo na sala e fomos para o quarto da Sarah, o tão esperado momento de colocá-la no bercinho chegou, e claro, ela chorou. Mas na minha imaginação, ela não chorava nessa hora. Sabe quando a coisa não sai como você imagina? Parece imaturo, mas eu imaginava ela deitadinha ali, tranquila e serena. Não foi nada disso. Ela chorou e precisei acalmar.
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Assim que consegui acalmá-la sentamos para organizar o que iríamos precisar fazer a partir dali. Eu tinha medicações para tomar, e agora era tudo “by myself” (por mim mesma). Nessa hora me vi sem ajuda das enfermeiras, tendo que anotar o horário das medicações, pensar na janta e mil outros pensamentos que me vinham em mente. Meu Deus, o que está acontecendo?
A Sarah acordou e daí entrei em desespero. Não entendi por que ela já tinha acordado. Às vezes parecia que amamentar não ajudava. Eu olhava pra ela e pensava, e agora? O que fui fazer da minha vida? Eu tinha sonhado tanto com aquele momento e de repente me via ali com um bebê que eu não conseguia entender por que estava ali. Mas não foi planejada essa criatura? Eu sei, mas a minha cabeça tinha dado um nó.
A baby blues
A única coisa que eu pensava era que eu estava louca, que perderia minha família. Pensei, “loucos são internados”, e que a minha vida tinha acabado. Dois dias depois que chegamos da maternidade, era um domingo. Liguei para a minha obstetra para sondar o que estava acontecendo comigo. Eu tinha vergonha do que ela poderia pensar de mim. Mas para minha surpresa e raiva, sim raiva, porque ninguém nunca me disse nada, ela disse que isso era normal. Lembro dela descrevendo até os pensamentos que eu estava tendo. Era a tal da baby blues. Nessa hora desabei e comecei a chorar compulsivamente. Sim de alívio, mas também de desespero, por entender o que estava por vir.
Sensações realmente aterrorizantes acompanhadas de muita solidão. Como falar sobre isso com as pessoas? E o medo de ser declarada louca, depressiva ou mãe desnaturada que não ama sua própria filha? Isso mesmo, eu não conseguia olhar pra ela e sentir aquele amor avassalador, aquele amor até a lua ida e volta que a gente vê naqueles quadrinhos fofos. Imagina contar isso para alguém? E muito duro e solitário.
Reflexo na amamentação
Para piorar, meu estado emocional não me permitiu amamentar. A Sarah chorava muito, e era de fome, pois ela não ganhava peso. Então, decidimos entrar com a mamadeira. E que negócio difícil também. Ela engasgava, tossia, e eu chorava por me sentir inútil em não saber sequer dar mamadeira pra minha filha. Enfim, depois de testar marcas de leite o negócio engrenou e lá estava minha filha ganhando peso e se desenvolvendo como o esperado. Que alívio é isso para uma mãe.
Resolvido isso eu achei que as coisas mudariam, mas nada mudou e quanto mais o tempo passava, mais eu sentia que as noites e dias não tinham fim, que a exclusão social ficava ainda maior e que pouco a pouco eu seria esquecida dos ambientes que agora estava limitada a participar. Nossa como isso me deixava desesperada.
Meu mundo acabou
A minha visão da maternidade era que, agora eu não existia mais. Que eu não teria mais lugar no mundo, nos grupos de amigos, nos convites para jantar fora às 22h, ao improviso e as muitas viagens que ainda queríamos fazer. Meu mundo acabou!!!
Quão perturbador eram esses pensamentos. Eu me lembro de ter chorado muito no chuveiro, pedindo a Deus que me curasse, que não me deixasse ficar louca e que tirasse da minha cabeça todos aqueles pensamentos horríveis. Pedia também, com muita emoção e às vezes entre soluços, que Ele colocasse amor em meu coração pela minha filha, pois não conseguia amá-la como eu via nos filmes, novelas e comerciais de televisão.
Nada como o tempo
Essa fase não foi nada fácil e pior, durou muito tempo. Mas nada como o próprio tempo. E foi assim que pouco a pouco a gente foi se conhecendo e que momento a momento, sem que eu me desse conta, aprendia a amar cada vez mais aquele bebê. E que agora interagia mais, cada dia se fazia ser entendida e que ficava cada vez mais fofinha. Foi através exatamente esses momentos, aqueles em que eu queria morder de tão gostosa, que eu apertava as coxas, que eu abraçava quando sorria pra mim e que me deixava encantada quando me olhava nos olhos durante nosso banho juntas no colo.
Essas linhas não foram fáceis para escrever. Mas a verdade é que só fui amar minha filha após o primeiro ano de vida dela. Também não foi do dia pra noite. Mas foi crescendo rápido e logo o meu olhar pra ela havia mudado completamente. Nossa, não é fácil compartilhar isso. Mas sei que é importante. Eu não sabia muito sobre isso e às vezes penso que se soubesse mais teria sido mais leve e talvez menos solitário.
Portanto, penso que se alguém se identificar com a minha história vai saber que não está sozinha. E melhor ainda, vai ter a certeza que vai passar e que logo você vai sim amar incondicionalmente esse bebê que está hoje nos seus braços.
Esse amor existe
Bom, a minha história teve sim um final feliz! E o amor, que desde muito cedo sonhava em ter por um bebê, finalmente invadiu o meu coração. Como toda mãe, hoje sou apaixonada pela minha filha e quando olho pra ela tenho certeza que a minha vida não poderia ser melhor. Encontro nela um amor que não cabe no peito, aquele que vai até a lua ida e volta sabe, acho que e o tal do amor incondicional que escutamos toda mãe dizer. Esse amor existe e é real!
2 Comentários
Parabéns Paty, pela atitude de compartilhar sua história emocionante e relevante para todas as mães ! Que bom que ficou boa da depressão pós parto.
Sinto seu grande amor sincero pelas suas filhas.
Um forte abraço fraternal, bjs na Sarah e Giulia 😍
[…] Esse texto é continuação do meu texto anterior que você pode ler aqui. […]