Nunca é tarde para ser mãe.
Eu nem sempre quis ser mãe, principalmente depois dos 32 anos de idade, após alguns relacionamentos longos mas que não deram certo, eu deixei de acreditar que ter uma família “fosse coisa pra mim”.
Vim para a Finlândia em 2009 determinada a investir em minha carreira e em outros sonhos: viajar o mundo, ter mil e uma experiências, escrever livros. Como sou cidadã finlandesa e tenho familiares maravilhosos aqui, além de amigos e uma completa identificação cultural com o país, me preparei para esta mudança, que também era um sonho que eu cativava por 12 anos!
Estes sonhos dependiam muito mais do meu esforço do que de qualquer outra coisa, por isso sempre me pareceram possíveis. Ter uma família e ser mãe, no entanto, dependia de tantas outras coisas além de mim, que acabei deixando a ideia nas mãos do destino.
Eu sempre tive como pré-requisito que só teria um filho quando tivesse estruturada o suficiente para poder sustentar a ele e a mim, sem precisar de ninguém, caso me separasse. Também sempre tive como certo de que jamais teria um filho com alguém sem antes morar junto com a pessoa por pelo menos 2 anos. Não que eu julgue ou ache que quem se joga num relacionamento sem medo de ser feliz esteja errado, de forma alguma, mas minhas experiências de vida me ensinaram a importância de ser racional neste ponto e era assim que eu queria as coisas para mim.
Quanto tempo demoraria até eu conhecer alguém, namorar, morar junto por 2 anos, ter uma carreira estabilizada e me sentir segura para ser mãe, tendo me mudado de país e começado uma vida do zero já aos 32? Já teria passado dos 40 com certeza. Então, era melhor curtir a vida mesmo e não focar nisso.
A vida nos surpreende
Quando conheci meu marido estava aqui havia 6 meses. Depois de 8 meses namorando, fomos morar juntos. Quando morávamos juntos havia um ano, consegui um super emprego que me deu a tão sonhada estabilidade e independência. Nos casamos já com 3 anos de relacionamento e na lua de mel decidimos que queríamos ser pais. A lua de mel foi em agosto, em outubro engravidei. Estava com 36 anos.
A primeira gravidez
Quando engravidei pela primeira vez não senti nada além de felicidade, nem passava pela minha cabeça a ideia de perder o bebê. Na Finlândia, as pessoas normalmente escondem a gravidez durante o primeiro trimestre, por conta das chances de aborto espontâneo. Muitas vezes este é um segredo tão grande que nem para os pais eles contam. Eu achava isso uma grande besteira; contei para minha família, para meus melhores amigos, contamos para a minha sogra, tudo era lindo e maravilhoso, até vomitar de manhã. Isto para mim era a prova de que tudo estava bem e de que minha gravidez era perfeita.
Escreverei mais à frente sobre o pré-natal na Finlândia, mas só para adiantar, a primeira ultra estava marcada para a 10 semana. Como minha ansiedade era grande demais, resolvemos fazer uma ultra na sétima semana, numa clínica particular.
Surpresas nem sempre são boas
Não havia batimentos cardíacos. Não havia nem um feto desenvolvido. Tive o que chamam de gravidez anembrionária.
Eu nem mesmo sabia que isso existia, mas significa que na hora da fecundação, algo dá errado e o óvulo fecundado se implanta no útero, mas não se desenvolve. O saco gestacional cresce normalmente, você produz todos os hormônios da gravidez, tem todos os sintomas, todos os testes vêm positivos, mas não há feto se desenvolvendo.
Segundo os médicos não existe uma explicação. Simplesmente pode acontecer e é um fator de má sorte. Como meu corpo não expeliu espontaneamente, tive que realizar um aborto.
Não cabe em palavras aqui o que senti, o tamanho de minha desilusão e dor. O lado positivo é que fui examinada e o médico deixou claro que não havia nada de errado comigo, que era para eu continuar tentando, aquilo foi apenas uma fatalidade, eu poderia ser mãe ainda.
Minha segunda gravidez
Em fevereiro engravidei de novo, mas tive um aborto espontâneo tão no início, que eu nem sabia que estava grávida. Na minha cabeça, fiquei menstruada duas vezes no mesmo mês e achei que estava com algum problema hormonal devido ao aborto anterior. Fui fazer exames de sangue e no dia seguinte recebi uma ligação do hospital, com uma enfermeira me parabenizando pelo resultado positivo do exame de sangue.
Expliquei que era impossível estar grávida por conta da quantidade de sangue que estava perdendo com aquela menstruação fora de hora. Fizemos mais exames e foi constatado o aborto espontâneo. Desta vez tudo aconteceu tão rápido que eu confesso que não tive nem tempo de sofrer muito. Não precisei realizar nenhum procedimento, pois não havia resíduos dentro de mim.
Fiz mais exames e de novo a equipe médica garantiu que não tinha nada errado comigo, eu era super fértil e todo o meu sistema reprodutor era perfeito.
Leia também: Fertilização in vitro na Bélgica e a realização de um sonho
Recebi como informação que 25% das mulheres que engravidam, perdem o bebê no primeiro trimestre e, dentre estas , 25% perdem duas vezes seguidas. Segundo os médicos, eu estava apenas nesta estatística infeliz. A parte boa era que 85% das mulheres que perdem dois bebês seguidos, obtêm sucesso na terceira tentativa. Não encontrei fonte para esta informação, mas foi o médico que falou isso para mim.
Também fui informada de que, se na terceira tentativa eu perdesse o bebê novamente, seria imediatamente encaminhada para o departamento de saúde que cuida de fertilidade. Lá, além de exames bem mais completos, meu marido também seria examinado e teríamos também direito a realizar o procedimento FIV pelo setor público, que seria infinitamente mais barato do que por uma clínica privada, caso necessário.
Estas informações me deixaram muito feliz e cheia de esperanças, pois senti que ainda tinha chances de ser mãe. No meu caso, mesmo com a dor no coração que as perdas me causaram, eu consegui focar na esperança de saber que teria apoio dos médicos do sistema público para tentar de absolutamente tudo para conseguir ter meu filho.
Terceira gravidez: meu sonho realizado
Pelo menos no meu caso foi exatamente como o médico disse. Em abril engravidei e desta vez deu certo! Tive uma gestação saudável (apesar de o primeiro trimestre ter sido movido a pânico e muito drama, pois eu estava traumatizada). Tive sangramentos até a 10 semana e, apesar de serem sangramentos normais, não consegui me manter tranquila, foi muito ruim. Para “piorar”, quase não tive enjoos e, o que pode soar como uma benção para muitas mulheres, para mim era assustador. Não ter sintomas fortes parecia um sinal negativo.
Fiz duas ultras antes da 12 semana e foi só depois desta terceira que me acalmei e pude, finalmente, curtir minha gravidez e relaxar. Estava tudo bem, deu tudo certo e com 39 semanas meu menino chegou, de parto natural, me dando a maior alegria do universo e não, isto não é uma hipérbole.
Nunca me esquecerei do momento em que ele nasceu, parecendo um anjinho (ele não chorou!), de como eu chorei de felicidade, do cheirinho e do corpo quentinho dele.
Ser mãe me mudou por completo aos quase 38 anos de idade e me trouxe uma sensação de plenitude que eu jamais havia sentido antes. Será um grande prazer dividir com vocês minhas experiências como mãe na Finlândia.
12 Comentários
Belo e emocionante depoimento Maila! Acredito que seu artigo possa ajudar muitas mulheres que passam por este processo dolorido e traumatizante. Tudo de bom!
Muito obrigada, Alexandra!
Espero de verdade que ajude, pois vale a pena acreditar e não desistir, mesmo sendo muito difícil.
Um beijão
Puxa Mailinha!!! Estamos de longe e uma não sabe da história da outra, né? É uma pena q a vida adulta não nos permita mais dividir os sonhos, medos, aflições e infortúnios. Fico muito feliz que no final tudo tenha dado certo. Apesar de ainda termos um longo caminho pela frente, vamos realizando os sonhos com tudo de bom e de ruim que eles possam nos oferecer. E isso… é simplesmente a vida:-)
Adorei a observação sobre não ser uma hipérbole! Era a sua figura de linguagem!!! (não nesse caso, é claro!). Bjssss minha amiga!
Olá Cris!
Seu comentário me deixou muito feliz, muito obrigada. É verdade que crescemos, a vida segue, muitas vezes nos separa. Mas também é verdade que o carinho pode ser eterno e o meu por você nunca deixou de existir. Um beijão
Com certeza! E o meu tb! Parabéns pelo trabalho!
Me emocionei com seu texto Maila! Fico muito feliz por ter realizado seu sonho! Que Deus abençoe sue família sempre! Beijos
Muito obrigada <3
Texto emocionante, cheio de amor. Parabéns Maila. Bjao.
Muito obrigada, Karol. 🙂
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