Eu, que jurava ser infértil pelas inúmeras vezes que esqueci de tomar as pílulas anticoncepcionais, engravidei na primeira ejaculada de meu parceiro após decidir que queria ter um filho. Justo eu, que tinha certeza que demoraria muito tempo para conseguir engravidar. Claro que a reação foi de imensa alegria. Só que havia um pequeno detalhe no meio do caminho: eu havia pedido demissão do emprego e nós tínhamos acabado de iniciar um mochilão pela América do Sul.
Então, não. Essa não é uma daquelas histórias em que a mulher espera passar o primeiro trimestre de gestação para contar a novidade para a família. Pois bem. Engravidei na Argentina, mais especificamente em Neuquén, e descobri a gravidez em Puerto Varas, no Chile. Assim que confirmamos clinicamente, o Marcelo (meu parceiro) ficou com uma cara de “ué”, como se a ficha ainda não tivesse caído. No mesmo dia à noite, resolvemos fazer uma chamada de vídeo com os nossos pais para contar a novidade. E apenas durante a ligação é que vi através da tela as lágrimas escorrendo no rosto do cara do meu lado. Pensei: ufa, entendeu que vai ser pai e, pela expressão, curtiu a novidade!
Mas e a reação de nossos pais? Uma alegria misturada com a indignação por estarmos longe. E, naquele momento, eu só queria me jogar nos braços de minha mãe, pois ela mais do que nenhuma outra pessoa sabia o que eu estava sentindo. E é sobre ela que quero falar com vocês.
A reação da minha mãe
A nova avó do pedaço enlouqueceu. O dia que eu a perguntei sobre o seu sentimento naquele momento de descoberta, ela me falou: “Achei muito fofo o jeito que você anunciou. Nunca vou esquecer”. E quando lhe perguntei sobre como foi ter uma filha grávida longe, ela respondeu: “Fiquei desesperada torcendo pelo seu retorno. Queria muito estar ao seu lado e cuidar de você. Pensava: sem juízo, ficar pulando de cidade em cidade, sem conforto e segurança… não saía da minha cabeça. Muita preocupação, querendo seu bem estar, cuidado e proteção. Ansiedade imensa quando soube que iria te encontrar. Contava os dias. Toda vez que saía, queria comprar alguma coisa para o enxoval”.
A real é que ela queria que eu largasse toda a aventura que ainda estava por vir para ficar ao lado dela, me mantendo sossegada enquanto o bebê se desenvolvia em meu forninho. Obviamente que passei de louca da história e segui com o mochilão.
Conheça nossa vida de nômades com bebê
A gestação foi tranquila e eu me sentia segura de continuar desbravando o nosso continente. Respeitava os meus limites e, entre os dias mais agitados, tinha os dias mais pacatos. E nessa aventura percorri mais de 54 cidades com o bebê em meu ventre, história essa que está contada em mais detalhes nesse post aqui.
Até que um dia avisamos aos nossos pais que passaríamos por Cusco e conheceríamos Macchu Pichu e os convidamos para se programarem para estar com a gente. Apesar da vontade, tínhamos certeza de que eles não iriam, por diversos empecilhos que poderiam surgir, como grana e organização da vida. Mas, a vontade era tanta, que nos encontraram em combo: meu sogro, minha sogra, uma tia do Marcelo, uma tia minha e minha mãe!
Meu coração explodiu com a notícia e, antes que chegassem, corremos para fazer tudo aquilo que nunca fizemos em nenhuma viagem: pesquisar um hotel bom e confortável num local privilegiado, correr atrás de um guia de turismo, fechar um pacote e deixar tudo organizado para que passassem dias perfeitos com a gente. Tudo ao contrário do que estávamos acostumados: ficávamos em quartos compartilhados de hostels ou de favor em casas pelo sistema do Couchsurfing e chegávamos nas cidades sem planejamento do que fazer. Na verdade, só queríamos mesmo curtir uns dias com pessoas locais e fazer alguns passeios, de preferência baratos para o dinheiro render mais e passarmos mais dias viajando.
Era um investimento maior que valeria à pena, afinal, era a nossa família que ia nos ver. E no dia da chegada deles nosso coração estava acelerado, pois já estávamos viajando há 5 meses e a minha barriga estava começando a se delinear.
Ultrassom com plateia familiar em Cusco
Pegamos um táxi para nos encontrarmos com eles no aeroporto. Eu sentia meu coração batendo forte, tinha um nó na minha garganta. Eu queria a minha mãe, eu precisava contar a novidade pra ela pessoalmente. Sim, ela já sabia. Mas era diferente, eu precisava sentir o seu calor.
Perguntei para a minha mãe sobre como foi me ver grávida pela primeira vez aos 5 meses de gestação:
“Muita emoção. A ponto de ter que conter o choro. Por mais que eu tivesse consciência, a primeira vez em que te vi foi de arrebentar o coração. Só nesse momento que eu tive o real sentimento da continuidade da vida”.
E o meu sentimento não foi nada diferente disso. Não há no mundo cumplicidade maior do que essa!

Da esquerda para direita, meu parceiro, mãe, sogros e tias (arquivo pessoal)
Dentre os abraços e passeios, chegou o dia que queríamos descobrir o sexo do bebê. Fomos em combo fazer o ultrassom. Esperamos por mais de 1h30 o médico de Cusco chegar para realizar o exame. E, quando ele chegou, entramos os nove em sua sala. Lá, rolou a primeira decepção – ele mandou todo mundo embora. Mas depois de muito insistir, argumentando o seu atraso, ele permitiu que ficassem metade das pessoas na sala. Sinceramente, além do Marcelo, não me lembro quem mais estava lá, só sei que minha mãe estava e isso era tudo o que me importava.
Depois veio a segunda decepção, ele não conseguiu ver o sexo do bebê! E também não fez questão de insistir. Fez sua consulta rápida, grosseiramente nos mandou sair e seguiu com o seu trabalho. Mas nem isso estragou aquele momento! Minha mãe ouviu o bater do coração de seu neto pela primeira vez e pôde jurar que ele acenou pra ela com as mãos, como se estivesse dando um oi.
Mochilão feito, filho se desenvolvendo saudável e presença de mãe
Minha realização estava completa! Quando a turma foi embora, completamos o roteiro pelo Peru e um mês depois voltamos para casa para ter nosso filho em nosso lar. Hoje, ele já fez dois mochilões com a gente e no decorrer de seus 2 anos de idade conheceu mais de 40 cidades. Se estiver curioso em como é fazer um mochilão com um bebê, mostro todos os nossos passeios no instagram @maedemochileirinho. Venha nos conhecer, vamos adorar te ver por lá!
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2 Comentários
Super experiência, hein? Parabéns pela coragem!
É verdade. A emoção da notícia da gravidez, foi mais do que emocionante. Foi uma sentimento de amor crescente, sem igual. Inexplicável. E eu, nada ansiosa, contava os dias para o reencontro, e poder sentir com as próprias mãos, a barriga crescendo com nosso já amado “mochileirinho”