Preparação para o parto na França
Como contei no último texto, a regra aqui na França é o parto normal, exatamente o que eu sempre quis. Descobri minha primeira gravidez ainda no Brasil. Nos mudamos para a França e, por termos médico na família, fui encaminhada para a maternidade da clínica em que ele trabalhava.
Eu não conhecia muito o sistema de saúde francês, mas sabia que aqui a chance de não ter um parto normal seria bem mais baixa do que no Brasil.
Eu me lembro de, no Brasil, o meu obstetra calcular a data prevista para o parto no dia em que faria 40 semanas, no fim de outubro. O comentário dele foi “o bebê nasce em outubro com certeza”. Eu, que já me interessava muito pelo assuntos “parto, violência obstétrica, cesáreas no Brasil”, e sabia que uma gravidez poderia ir até 42 semanas sem problema algum, pensei: “como ele sabe? O bebê já contou? Ele pode nascer em novembro, viu?”. Mas dei apenas um sorrisinho sem muita expressão.
Chegando na França, o médico generalista fez a minha declaração de gravidez, documento necessário para dar entrada em pedidos como a licença-maternidade, escolha da maternidade, etc. Lá, constava a DPP (data prevista pro parto) e aqui chamada de terme: 5/11/2016. Na França, a data é calculada com 41 semanas e não 40 como no Brasil.
Registro na maternidade
Após a declaração, é hora de escolher a maternidade onde o bebê nascerá. Você pode marcar para visitá-las caso não conheça nenhuma. Mas é preciso fazer isso rápido. Os estabelecimentos aceitam as gestantes de acordo com a DPP e o espaço que possuem para conseguir atender a todas. Se você demorar para se registrar, corre o risco de não encontrar mais vaga disponível para o período previsto para dar à luz.
Claro que como parir não é uma ciência exata, a maternidade pode estar cheia no dia em que você entra em trabalho de parto. Neste caso, você é encaminhada à maternidade mais próxima. Tudo é feito pelo próprio estabelecimento, você não tem que ficar migrando por conta própria até achar uma que tenha vaga, como vemos acontecer no Brasil.
A maternidade escolhida para meu pré-natal e parto foi a indicada pelo médico da família e é uma clínica particular. Isso não significa que tive que pagar pelas consultas, internação e parto. O sistema de saúde paga a mesma coisa pelo atendimento no público e no particular. A diferença é que o particular pode custar um pouco mais e se você não tem uma mutuelle (como um convênio particular), a diferença fica por sua conta.
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Lá, o pré-natal é feito pelo próprio obstetra e o parto também. As sage-femmes (enfermeiras obstétricas) são responsáveis pelo primeiro atendimento de urgência, curso de preparação ao parto e acompanhamento durante o trabalho de parto.
Pré-natal: o mês a mês da gestação
Durante o pré-natal, fazemos três ultrassonografia morfológicas. Elas são as oficiais. A primeira é feita com 12 semanas; a segunda com 22; e a última com 32 semanas.
As consultas com o obstetra (ou com as enfermeiras) acontecem uma vez por mês até o nono mês, podendo se tornar mais frequentes com a proximidade da data prevista para o parto. No consultório, pressão, peso, tamanho da barriga além de monitoramento do coração do bebê são feitos. Na primeira consulta um exame de sangue bem detalhado é solicitado para verificar possíveis DSTs e a imunidade contra doenças como rubéola, sarampo, catapora, etc. Exames de urina mensais a partir do quinto mês são pedidos. E, no meu caso, por não possuir imunidade, exame de sangue para a toxoplasmose também foram feitos mensalmente.
Do quinto para o sexto mês, é feito o exame para verificar a taxa de glicemia e uma possível diabetes gestacional. Um mês antes da DPP, a consulta com o anestesista é marcada. Nela, fala-se sobre a anestesia, óbvio, mas é também feito um “dossiê” com possíveis alergias, experiências anteriores de anestesia, entre outras. Um outro exame de sangue é apresentado ao médico. Esse documento fica de prontidão na maternidade para o dia em que se dá entrada para o parto.
Curso de preparação ao parto
Como estava ansiosa para esse momento! No total, foram quatro aulas. A primeira explicava o que acontece com o corpo durante o trabalho de parto. Como o colo do útero é afinado, como a dilatação vai acontecendo aos poucos, como as contrações vão agindo. Nessa sessão, a sage-femme nos explicou que o momento ideal para irmos à maternidade era quando as contrações estivessem constantes de dois em dois minutos já acontecendo por duas horas (por ser o primeiro filho). Caso morássemos longe, o ideal era irmos um pouco antes desse tempo. Se o trabalho de parto começasse com o rompimento da bolsa, tínhamos duas horas para irmos à clínica. A praxe é acompanhar lá para o caso de alguma infecção, mesmo que demorasse dois dias até o parto em si acontecer.
A segunda aula falava sobre a anestesia. Como funcionava, como era aplicada, possíveis reações, etc. Foi meio assustador ver uma agulha enorme e o catéter, mas importante.
A terceira sessão era sobre respiração e posições para aliviar as contrações. Testamos algumas com a bola de pilates, massagens e o jeito correto para respirar durante a contração e na hora do expulsivo.
A última aula era sobre posições para parir. Como o bebê e nossa bacia se comportavam em cada uma delas, como fazer a força de expulsão corretamente, etc.
Foi muito bom ter feito o curso. Informação na hora do parto é essencial e saber como o nosso corpo está agindo ajuda muito. Mas devo confessar que na hora em que não tinha mais descanso das contrações, até esqueci como respirar e o tamanho da agulha da anestesia. Só queria que a dor fosse embora. Mas isso eu conto no próximo texto.