Gravidez na França
Escolhi falar deste tema porque fui abençoada com uma gravidez tripla em 2008. Durante todo o período da gestação recebi o melhor tratamento dos melhores médicos no melhor hospital da região onde eu morava. E de graça. A partir do momento em que anunciei à minha ginecologista que estava esperando trigêmeo(a)s, toda uma logística médica foi colocada a minha disposição. Porque na França, diante de uma gestação múltipla, o sistema de saúde permite a todos, com ou sem plano particular, beneficiar de um tratamento excepcional por conta do Estado. Apesar disso, nem tudo foram flores.
Descobri por acaso, logo no início, que estava esperando três bebês. Tinha tido um pouco de sangramento e telefonei assustada para a médica, que me tranquilizou, dizendo que não deveria ser nada, mas que eu podia fazer uma ecografia pra me certificar. Cheguei nervosa no consultório, esperando uma má notícia e saí excitadíssima com três boas! Tão logo a gravidez múltipla anunciada, fiquei também sabendo que deveria trocar de serviço de ecografia, porque aquele onde realizei meu primeiro – e inesquecível – exame, não tinha recursos suficientes para acompanhar uma gestação como a minha.
Da boa notícia ao susto
Em seguida, telefonei à ginecologista para dar a boa notícia. Ela levou um susto. Acho que não era uma médica preparada para esse tipo de situação porque imediatamente começou a me citar a lista de problemas que poderiam decorrer de uma gestação de trigêmeos: possibilidade de perder um, ou dois ou até os três fetos, dificuldade de levar a gestação até o fim, risco de hipertensão, diabetes, e nem lembro mais tudo o que que ela pôde prever durante os quinze minutos que falamos ao telefone.
O que nunca vou esquecer é que telefonei para ela em um estado de euforia e quando desliguei estava em lágrimas. Porque ela me sugeriu a hipótese de suprimir um embrião para garantir uma maior chance de sobrevivência aos outros. Ela também falou que não poderia continuar acompanhando a minha gravidez, muito complicada, e me indicou a chefe do serviço de ginecologia e obstetrícia do hospital de uma cidade próxima a nossa, de classificação nível III, ou seja, com unidade neonatal e serviço de reanimação.
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No mesmo dia marquei consulta com a nova ginecologista, que assim que soube do meu caso, dispôs-se a me receber no hospital o mais breve possível. Assim que entrei em consulta, a médica me falou de tudo que já sabia sobre meu “dossier”. E já foi dizendo que se eu quisesse mesmo retirar um embrião, eu corria o risco de perder os três. Fiquei horrorizada, e expliquei que não era ideia minha retirar embrião nenhum, que essa hipótese tinha sido inventada pela outra médica, que eu nunca queria excluir um dos meus bebês!
Tecnologia de ponta sem pagar nada, mas atendimento não tão humano
Bom, questão resolvida, ela disse que provavelmente tinha havido um problema de comunicação, ela tinha entendido que era ideia minha, que no seu entender não era viável um procedimento como esse, o risco era muito grande de perder os três. Após me examinar, a nova ginecologista, apesar de ter um pouco mais de tato que a outra, também me falou de todos os riscos que corre uma gestante de minha idade (35 na época), que fica grávida pela primeira vez de trigêmeos. E já foi cortando meu barato: compras para os bebês, era melhor esperar os seis meses de gravidez. Saí da consulta ansiosa e triste.
Com o passar dos meses e das inúmeras consultas e das frequentes ecografias, fui descobrindo que na França, apesar de poder ter acesso aos melhores médicos, beneficiar dos equipamentos de tecnologia de ponta e tudo isso sem pagar nada, falta um pouco de humanidade, de naturalidade no tratamento de uma situação que é natural e que acontece com a maioria das mulheres em todo o planeta: a gravidez!
Existe todo um protocolo rígido de controle, exames para detectar esta ou aquela anomalia, e ninguém do corpo clínico percebe que as gestantes precisam ser tratadas como gestantes, não como doentes. Eu só queria que me dessem esperança, que acreditassem que meus três bebês iriam nascer saudáveis. E em vez disso, eu era cercada de dúvidas, de exames, de conselhos para me preparar psicologicamente para a hipótese de um dos fetos não resistir. Como se para uma mãe isso fosse possível.
A chegada das minhas trigêmeas
Desafiando todos os maus presságios minhas três filhas nasceram a 32 semanas de gestação. Pequenas, frágeis, mas sem nenhum problema. Permaneceram na unidade neonatal durante duas semanas e mais duas no serviço de pediatria para ganhar peso e poder ir para casa. Durante esse período eu pude ficar com elas dia e noite, dormindo no hospital, aprendendo a rotina de uma mãe de trigêmeas. Ao todo foram sete semanas de hospitalização, em quarto individual, com banheiro, televisão e atendimento de primeira sem desembolsar um só centavo.
Às mulheres que desejam engravidar na França, só posso dizer que elas procurem conforto nas famílias, que procurem alternativas como a yoga, meditação ou terapia para se fortalecerem, elas podem estar certas de terem os melhores cuidados médicos mas poderão sentir falta de uma palavra de alento.
8 Comentários
Super Mãe ! Grande Experiencia. ! Parabéns ! Essas crianças vão ter muito orgulho de seus pais.
Obrigada Carlos Daniel!!
Parabéns, Zandra! Gostei da ideia!
obrigada Ana, beijao!
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