Cheguei em Portugal com seis semanas de gestação. Como sempre tive plano de saúde no Brasil, com a gravidez vivi aqui a minha primeira experiência no sistema público de saúde, mais especificamente em Viseu, cidade onde moro.
O primeiro passo foi localizar o centro de saúde do meu local de residência. Como tenho cidadania portuguesa (e, consequentemente, número de utente, que é o número utilizado pelo cidadão no sistema público de saúde), direcionaram-me para um médico de família, que estava de licença maternidade. Assim, acabei sendo atendida por outros médicos durante a gravidez.
Médico de família
Aqui em Portugal o cidadão tem um médico que o acompanha ao longo da vida, no centro de saúde, chamado “médico de família”, que é um clínico geral. É ele quem direciona para os especialistas que atendem no hospital, quando considera necessário. Inicialmente, para quem está acostumado com o modelo brasileiro de ir direto ao especialista, é um choque, mas hoje entendo que o modelo funciona muito bem.
Em todas as consultas fui atendida inicialmente por uma enfermeira e depois pelo médico de família.
Cabe ressaltar que se a gravidez for considerada de risco, a gestante é acompanhada por especialista (obstetra) no hospital, o que não foi meu caso. Fui acompanhada no centro de saúde mesmo, sempre consultada por um enfermeiro e um médico clínico geral.
Em Portugal, grávidas não pagam por consultas e exames. Esse é outro ponto interessante, há uma isenção. Lembro que “público”, em Portugal, não é sinônimo de gratuito. As pessoas pagam por consultas e exames no sistema público. Os valores são baixos, mas pagam, o que é diferente do Brasil.
A primeira consulta
Na minha primeira consulta, que ocorreu quando eu estava com dez semanas de gestação, fizeram o meu documento de identificação do utente. Lá consta meu centro de saúde e a isenção de taxas até o fim da gravidez. Nesse dia também pediram a carteira de vacinação brasileira para transcrevê-la para o modelo português (a ficha vacinal). Recebi, ainda, o boletim de saúde da grávida, que é um livreto para acompanhamento da gravidez, e três cheques-dentista, para consultas gratuitas, em clínicas privadas que aceitem os cheques.
Encontrei, na própria rua onde moro, uma clínica dentária que os aceitava! Não foi difícil. Logo, aproveitei o benefício. Por fim, me deram um pedido de exames de sangue, que poderiam ser feitos gratuitamente em qualquer clínica privada, mediante a apresentação desse pedido. Por fim, marcaram a minha primeira ultrassonografia (aqui chamada de ecografia) no hospital público de Viseu (São Teotônio), visto que não há aparelho para esse exame no centro de saúde, nem especialistas para realizá-lo.
Fiz os exames de sangue também próximo à minha casa. Realizei a primeira ecografia com 12 semanas, no hospital de Viseu, onde também fiz um exame de sangue que, pelo que me explicaram, complementava o ultrassom.
A segunda consulta
Minha segunda consulta ocorreu com 15 semanas de gestação. Apresentei os exames realizados (sangue e ultrassom) e pediram então o ultrassom morfológico, estipulando o período a ser realizado (de 20 a 22 semanas de gestação). Também marcaram uma nova consulta e prescreveram complementos vitamínicos. Com essa prescrição do sistema público, pagamos valores bem acessíveis pelos suplementos nas farmácias, pois há subsídio do governo.
O ultrassom morfológico deveria seguir o mesmo padrão (apresentação de pedido em clínica particular e isenção), porém, em Viseu, nenhuma clínica o aceitava. Liguei para todas que o realizavam. Logo, tive que pagar e custou-me 85 euros. Realmente não entendi como as clínicas podem recusar a realização do exame com o pedido mas, para não perder o prazo, optei por pagar.
Nova mudança de médico
Bom, esse foi o primeiro ponto negativo. O segundo: a médica que estava me atendendo, no lugar da minha médica de família que estava de licença maternidade, saiu do centro de saúde e me ligaram dizendo que estavam providenciando outro médico para dar prosseguimento ao acompanhamento. Minha consulta agendada não seria realizada até a chegada do substituto.
Diante da demora (já se haviam passado duas semanas, mais ou menos, da data agendada para consulta) e do aparecimento de um tipo de alergia na minha pele, fui ao centro de saúde para uma consulta de urgência e para falar, presencialmente, sobre a falta de acompanhamento da gravidez. O médico que me atendeu, na urgência, acabou então dando prosseguimento ao acompanhamento da gestação. Viu o ultrassom, pediu novos exames de sangue, mediu a barriga, auscultou o coração (procedimentos de praxe no centro de saúde) e também agendou a nova consulta, que ocorreu com 23 semanas de gravidez.
Todas as consultas se iniciavam sempre com a enfermeira, que conversava, tirava dúvidas, pesava, fazia a análise de urina na hora, entregava um folheto explicando como seriam as próximas semanas, verificava a pressão etc. Na consulta com o médico saí com o pedido da terceira ultrassonografia (30-32 semanas), que consegui realizar gratuitamente, no sistema privado, com apresentação do pedido.
Preparação para o parto
Com 26 semanas pudemos nos inscrever para o curso de preparação para o parto, no próprio centro de saúde. No decorrer das aulas (práticas e teóricas) entendi que, em Portugal, no sistema público, o parto normal será sempre tentado, até que não haja outra alternativa. Entretanto, essa nunca foi a minha preferência, por diversos fatores pessoais.
Como não há hospital-maternidade privado em Viseu, iniciei consultas particulares no Porto, em hospital privado, paralelamente ao acompanhamento público, de modo a fazer uma cesariana particular agendada.
As consultas privadas foram com obstetra e em todas elas foram realizadas ultrassonografia e cardiotocografia (ultra incluída na consulta e cardio paga à parte). Pediram também exames de sangue complementares aos que são solicitados no sistema público. O custo da consulta foi de cerca de 60 euros.
Na consulta seguinte, no sistema público, com 32 semanas, levei a ecografia para o médico e ele pediu novos exames de sangue. Paralelamente apresentava os exames à médica particular, assim como os complementares que ela solicitava e eu fazia de forma particular (com custos).
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Minha última consulta no centro de saúde foi com 35 semanas e, a partir daí, fui direcionada para o hospital, para acompanhamento com obstetra até o parto.
Houve uma consulta na qual conversei com a enfermeira e depois fiz exame de streptococo b e cardiotocografia com o obstetra. Estava já com 37 semanas. O médico marcou a nova consulta com 39 semanas, caso o bebê não nascesse até lá. Nesse ponto achei um pouco ruim, pois seriam duas semanas sem acompanhamento no fim da gravidez, quando no sistema particular o acompanhamento, com cardiotocografia, acontece semanalmente até a data agendada para o parto.
Ah! Se o tipo sanguíneo da gestante tiver RH negativo, há um procedimento que não realizei, mas sei que há algo a fazer. Além disso, tomei a vacina contra o tétano, difteria e coqueluche. Ambas os procedimentos são realizados no sistema público.
Nasceu!
Meu bebê nasceu com 38 semanas e seis dias, por cesárea agendada no sistema privado. Logo, não fui à consulta agendada no sistema público com 39 semanas.
Em relação aos custos no sistema privado, encontrei-os no site do hospital quando estava pesquisando. Vocês podem verificar os sites dos hospitais maternidade. Na época, o parto custou por volta de quatro mil euros.
Resumindo: apesar de alguns pontos em que o sistema público deixou a desejar, definitivamente a experiência foi melhor do que as que tive no sistema privado brasileiro (mais precisamente do Rio de Janeiro, onde morava no Brasil).
Caso você opte pelo parto normal, o que não foi o meu caso, ao meu ver não há qualquer necessidade de acompanhamento privado, pelo menos aqui em Viseu e, pelo que me dizem, em Portugal como um todo, pois esse é o costume (parto normal), assim como no Brasil é a cesariana. Logo, há muita experiência por parte dos profissionais de saúde.
Espero ter ajudado as futuras “mamás” com essas informações e desejo que tenham uma boa e pequenita hora, como dizem por cá!