Doença autoimune e pós-parto na expatriação
Como relatado em meu último texto, o meu pós-parto no Canadá foi repleto de particularidades vinculadas ao fato de eu ser uma nova expatriada. Estar longe dos familiares, amigos, de minha cultura e de tudo que me era comum, adicionado a uma doença autoimune, favoreceram para que eu desenvolvesse depressão pós-parto.
Além destes fatores referentes ao ambiente em que eu morava, existia também o fator genético. Minha família paterna tem histórico de depressão e eu tenho uma doença autoimune chamada artrite reumatóide, que faz com que todas as minhas juntas inflamem e doam.
Com a gravidez, qualquer doença autoimune praticamente desaparece, pois o sistema imunológico da mulher fica enfraquecido, já que há outro corpo dentro de nós e não queremos atacá-lo. Porém, assim que o bebê nasce, estamos fadadas a ter uma crise – foi o que aconteceu comigo.
Doença autoimune e suas consequências no pós-parto
Minha crise começou após dois meses da minha filha ter nascido. Meu médico disse que eu deveria escolher entre amamentar ou tomar a medicação para aliviar as minhas dores, que eram tão intensas a ponto de eu não conseguir fechar um botão da roupinha da minha bebê. Como meu sonho era amamentar até os seis meses, pelo menos, eu me neguei a tomar a medicação e tentei controlar as dores através de minha alimentação e exercício físico.
Neste momento eu já estava sofrendo bastante pois, não conseguia ser a mãe que eu desejava e pela qual criei tantas expectativas. Quando a realidade fica muito longe de nossas expectativas, o sofrimento emocional aumenta abruptamente. Sentimentos de frustração, incapacidade e de culpabilização passam a dominar o nosso dia-a-dia.
A dor tirava parte de minha atenção e outra parte era inundada pelos medos e inseguranças de ser mãe de primeira viagem expatriada e pelas incertezas em relação ao nosso futuro, carreira e capacidade financeira. Tudo isto favoreceu para que eu desenvolvesse depressão pós-parto.
Riscos do pós-parto e da expatriação
Por ser Psicóloga e trabalhar com gestantes e mães-bebê, eutinha conhecimento sobre os meus riscos e os riscos sobre o desenvolvimento de minha filha, como:
- Mães doentes física ou mentalmente favorecem falhas no desenvolvimento de seus filhos pois, sobra pouco espaço mental e energia física para a mãe focar em seu bebê;
- Mães expatriadas, por terem pouca rede de suporte e não conhecerem bem o que o país lhes oferece, estão mais vulneráveis a desenvolver doenças mentais;
- Mães com dificuldades financeiras e com inseguranças sobre moradia e trabalho também estão mais vulneráveis.
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Eu logo identifiquei os sinais da depressão pós-parto. Eu chorava descontroladamente e sem saber a razão, tinha pouca energia, comecei a deixar de ter vontade de me cuidar e em momentos inesperados vinha uma sensação de desespero e de tristeza profunda. Eu acordava todos os dias e chorava, pedindo desculpas à minha filha, por eu não estar totalmente disponível. Meu marido me via sofrer e também chorava de preocupação.

Para superar uma doença mental é necessário auto conhecimento, compaixão e uma boa rede de suporte.
Como venci a depressão pós-parto
Imediatamente eu busquei ajuda me abrindo com meu marido, pedindo para meus familiares me visitarem e ficarem mais tempo comigo, voltando a fazer terapia semanalmente, indo em busca de de uma nova médica, de grupos de suporte para mães e estabelecendo uma rotina.
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Quando minha filha completou seis meses de idade eu consegui uma nova médica que disse haver sim medicação que eu poderia tomar amamentando (e mesmo quando estava grávida) para evitar que eu tivesse uma crise no pós-parto. Eu fiquei furiosa ao saber que poderia ter me preparado de forma diferente ao pós-parto, e não fiz isso porque o médico não estava atualizava sobre novas medicações.
Com duas semanas de medicação eu já conseguia acordar mais animada e com bem menos dor. Meus pais também me ofereceram maior suporte enviando dinheiro e vindo me visitar mais frequentemente. Eu continuei seguindo uma dieta anti inflamatória, dormia sempre que minha filha dormia, fazia hidroginástica, musculação, terapia e participava de grupo de suporte para mães uma vez por semana.
Além do auto-cuidado, eu criei uma rotina com minha filha com momentos para brincar livre, momentos em que eu criava uma brincadeira específica para ajudar o desenvolvimento dela, momentos para comer e para relaxar escutando música ou lendo livros. Com isto meu sentimento de culpa diminuiu e meu reconhecimento de ser capaz e de ter auto-compaixão aumentaram.
Controlar uma doença auto imune e superar uma doença mental são tarefas difíceis quando se é expatriada. Mas o conhecimento, a capacidade em pedir ajuda, o suporte do marido e a perseverança podem fazer toda a diferença.